O preço das ações da Farfetch.com, a empresa que controla o grupo de comércio eletrónico de luxo e que é liderada pelo português José Neves, subiram 630% entre 2014 e 2016, quando contabilizado em euros. Em 2014, o preço médio dos títulos foi de 3,97 libras esterlinas (5,08 euros à cotação de fim de ano) e, dois anos depois, foi de 23,39 libras esterlinas (37,04 euros), segundo os relatórios anuais da sua subsidiária londrina, a Farfetch UK.

Embora a empresa esteja a preparar a entrada na bolsa, a Farfetch.com não está cotada e tem vindo a ser financiada através de rondas de investimento em capital de risco. Segundo a base de dados Crunchbase, a Farfetch já recebeu 721,5 milhões de dólares em investimento (611,3 milhões de euros), em oito operações de financiamento. O facto de não ser cotada não impede que os títulos sejam transacionados.

Os preços médios destas transações são usados pela subsidiária Farfetch UK para avaliar o impacto contabilístico da atribuição de opções de compra de ações a alguns funcionários. Em 2015, o preço médio das ações da Farfetch.com foi de 11,01 libras esterlinas (14,93 euros), o que significa que as ações da da empresa que está registada na Ilha de Man valorizaram-se 148% em 2016, em euros.

A subida de 630% fica muito distante da realidade bolsista do setor do luxo. O índice S&P Global Luxury, que inclui nomes como LVMH, Ralph Lauren e Porsche, valorizou-se 8,44% entre 2014 e 2016. No entanto, entre os títulos mais rentáveis desse índice de bolsa, estão os da Yoox Net-a-Porter, uma concorrente direta que também gere lojas online de moda de luxo. Renderam 46,41% entre 2014 e 2016.

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Receitas disparam 74%, prejuízos sobem 18%

Segundo o relatório de 2016 da Farfetch UK, conhecido nesta semana, os portais da Farfetch.com recebem 21 milhões de visitas por mês e comercializam 115 mil produtos distintos de 200 marcas de luxo. Em 2016, foram vendidos 548 milhões de libras (640 milhões de euros) em produtos e a Farfetch encaixou 27,6% desse volume, cerca de 151,3 milhões de libras (176,6 milhões de euros), mais 74% do que no ano anterior.

Enquanto as receitas subiam, os prejuízos também iam pelo mesmo caminho. Em 2016, as perdas da empresa liderada por José Neves cresceram 18% para 34 milhões de libras (39,7 milhões de euros), quando em 2015 totalizavam 28,7 milhões de libras (38,9 milhões de euros).

O salário anual médio dos colaboradores da Farfetch UK aumentou de 62.367 libras para 73.519 libras (84.608 euros para 99.737 euros) em 2016, uma subida de 17,9%. Esta subsidiária do grupo Farfetch.com empregava 233 pessoas no final de 2016. Este número não contabiliza os colaboradores da subsidiária Farfetch Portugal. Em maio, José Neves previa fechar o ano com 1.400 pessoas em Portugal, um aumento de 500 novos colaboradores distribuídos por Lisboa, Porto e Guimarães. Em novembro, os últimos números contabilizavam mais de 2.000 colaboradores a nível global.

Farfetch quer recrutar 500 pessoas em Portugal até ao final do ano

As contas apresentadas esta semana não incluem o aumento de capital que a Farfetch fez em junho deste ano junto da JD.com, grupo que lidera o retalho na China. O investimento do grupo chinês na empresa de José Neves foi de 356 milhões de euros e a parceria vai servir para criar a maior plataforma para marcas de luxo na China (mercado que está avaliado em 68 mil milhões de euros). Este investimento fez da JD.com o principal acionista do unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões) português.

Em junho, a Sky News avançou que a empresa de comércio de moda de luxo estava a preparar uma entrada em bolsa numa operação avaliada em 5 mil milhões de dólares, ou seja, 4,5 mil milhões de euros. A informação de que a Farfetch estaria a escolher os bancos de investimento para iniciar o processo de admissão à bolsa foi avançada com base em fontes próximas da empresa. A dispersão do capital deveria ocorrer num intervalo de 18 meses.

Farfetch prepara entrada em bolsa e pode valer 4,5 mil milhões

Na altura, José Neves disse apenas que os planos para o futuro podiam incluir um IPO (siga inglesa para oferta inicial de ações), mas que “atualmente estava focado no crescimento do negócio, com os investidores que suportam na totalidade o plano de negócios e os investimentos na construção de uma plataforma tecnológica para a indústria global do luxo, THR”.