O Conselho Superior de Magistratura já concluiu o processo de inquérito ao juiz Neto de Moura, relator do polémico acórdão referente a um caso de violência doméstica, disse esta sexta-feira, no Algarve, o presidente daquele órgão.

“Já está concluído o processo, não há resultado porque o resultado depende de uma apreciação coletiva no órgão coletivo, que é o Conselho Superior de Magistratura, que irá reunir numa sessão ordinária, em principio no próximo dia 5 de dezembro”, data para o qual está marcado o próximo plenário, adiantou António Henriques Gaspar.

Questionado pelos jornalistas à margem do XII Encontro do Conselho Superior de Magistratura, que decorre até sábado em Tavira, o juiz conselheiro confessou que a onda de indignação pública gerada por esse acórdão “ultrapassou em muito” as suas expectativas.

“Pode haver um direito à indignação, mas introduziu-se aqui demasiada emoção que ultrapassou em muito aquilo que seriam as minhas expectativas, mesmo as mais longínquas ou as mais pessimistas”, declarou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em causa está um acórdão da Relação do Porto, datado de 11 de outubro passado, no qual o juiz relator, Neto de Moura, faz censura moral a uma mulher de Felgueiras vítima de violência doméstica, minimizando este crime pelo facto de esta ter cometido adultério.

O juiz invoca a Bíblia, o Código Penal de 1886 e até civilizações que punem o adultério com pena de morte, para justificar a violência cometida contra a mulher em causa por parte do marido e do amante, que foram condenados a pena suspensa na primeira instância.

António Henriques Gaspar aproveitou a sessão de abertura do encontro para alertar para os perigos da forma como a comunicação aborda alguns processos judiciais, lançando “rumores” e, por vezes, expondo as vítimas “de forma exacerbada”.

À margem da sessão, o juiz conselheiro manifestou-se preocupado pelas consequências que podem decorrer do modo como hoje se comunica, sobretudo nos casos em que é “exposta e afetada a dignidade humana”.