O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento elogia o desempenho de Moçambique na transparência demonstrada depois da crise da dívida pública e considera que o país pode ser “o Qatar da África” em termos de gás natural.

“Elogio o Governo pela transparência e por saberem que têm de entrar em diálogo com o Fundo Monetário Internacional em termos de garantir que as reformas continuam e que conseguem limpar a dívida”, disse Akinwumi Adesina, em entrevista à Lusa, em Lisboa, no final de uma visita de trabalho à capital portuguesa, esta semana.

“Temos um investimento de mais de mil milhões de dólares em Moçambique e estamos confiantes que as reformas macroeconómicas estão a surtir efeito e temos apoiado muito o país na análise do sistema contabilístico para ver o nível de dívida que realmente têm”, vincou o banqueiro, salientando que “o país está a dar os passos certos e tem um enorme potencial”.

Questionado sobre as críticas do FMI relativamente à falta de transparência que o país tem mostrado ao não divulgar a totalidade do relatório da auditoria internacional da consultora Kroll sobre a dívida oculta, no valor de cerca de 1,4 mil milhões de dólares, Adesina disse ter “grande confiança” na capacidade do país em recuperar.

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“Para nós Moçambique é muito, muito importante, continuaremos a dar um grande apoio e tenho grande confiança que vão recuperar do impacto do choque” motivado pela divulgação de dívidas secretas contraídas por duas empresas públicas em 2013 e 2014, com o aval do Governo.

Moçambique pode ser o Qatar do gás para África, tem oportunidades incríveis no setor agrícola e na energia, e o BAD está a ajudar a investir na modernização da agricultura”, salientou Adesina.

Desde o início das operações no país, em 1977, o BAD já emprestou a Moçambique cerca de 2,4 mil milhões de dólares, tendo uma carteira atual de 29 projetos em oito setores, com um investimento em curso de quase 700 milhões de dólares, dos quais mais de 200 milhões foram canalizados para ajudar a desenvolver o Corredor de Nacala.

Os transportes representam mais de metade dos projetos, seguido do setor agrícola, energético e nas minas e indústria.

De acordo com a documentação disponibilizada à Lusa pela instituição, “devido a questões sobre a sustentabilidade da dívida, Moçambique não está a aceder à janela do BAD para operações que envolvem financiamento governamental”, pelo que “o Banco está envolvido num diálogo para melhorar os ratings do país para aceder ao financiamento soberano do BAD a médio prazo”.