O antigo chefe militar bósnio sérvio Ratko Mladic foi esta quarta-feira expulso do Tribunal Penal Internacional depois de gritar com os juízes que estavam a ler a sua sentença. O antigo general foi condenado a prisão perpétua por genocídio e crimes contra a Humanidade

A expulsão aconteceu depois de um dos juízes rejeitar um pedido do advogado de Mladic para adiar a sessão, devido a problemas de saúde do arguido. O antigo general de 75 anos já sofreu diversos ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais, e a sua defesa chegou a admitir na segunda-feira que poderia não comparecer esta quarta-feira perante o tribunal.

A sessão recomeçou pouco depois de Ratko Mladic ser expulso e o bósnio sérvio foi conduzido para uma sala separada, onde vai assistiu ao muito aguardado veredito através da televisão.

O julgamento de Mladic é o último grande caso desta instância judicial ‘ad hoc’ da ONU sediada na Holanda, vocacionada para indiciar e condenar os principais responsáveis das guerras interétnicas que destruíram a ex-Jugoslávia entre 1991 e 1999 (Croácia, Bósnia-Herzegovina e Kosovo).

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O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos classificou esta quarta-feira como uma “vitória transcendental” da Justiça a condenação do antigo chefe militar sérvio-bósnio Ratko Mladic.

“Mladic é a personificação do diabo e a sentença contra ele é o paradigma do que representa a Justiça internacional”, disse em comunicado Zeid Ra’ad al Hussein, que serviu na Força de Proteção da ONU na antiga Jugoslávia entre 1994 e 1996.

O tribunal, que encerra as suas portas no final de dezembro, definiu como principal objetivo “evitar futuros crimes e prestar justiça às milhares de vítimas e suas famílias, contribuindo assim para uma paz duradoura na antiga Jugoslávia”.

Designado pelos seus detratores e familiares das vítimas de “carniceiro dos Balcãs”, Mladic foi indicado com 11 atas por genocídio e crimes de guerra, incluindo o assalto das suas tropas ao enclave muçulmano bósnio de Srebrenica (cerca de 7 mil mortos) e o cerco da capital Sarajevo.

Ratko Mladic vai recorrer da sentença

O antigo chefe militar sérvio-bósnio Ratko Mladic vai recorrer da condenação a prisão perpétua anunciada esta quarta-feira pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, disse o seu advogado, Dragan Ivetic.

“É certo que vamos apresentar um recurso e que o recurso terá êxito”, afirmou o advogado, citado pela Associated Press. Ivetic considerou que Mladic tem sido privado dos seus “direitos humanos básicos” ao ser impedido de consultar médicos escolhidos por si.

Também o filho de Mladic, Darko Mladic, afirmou que o antigo chefe militar sérvio-bósnio irá recorrer, classificando o julgamento como “propaganda de guerra”.

“Esta pena é injusta e contrária aos factos e nós iremos combatê-la em recurso para provar que este julgamento é falso”, disse Darko Mladic em conferência de imprensa.

NATO saúda condenação de Mladic

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, saudou esta quarta-feira a condenação a pena de prisão perpétua do ex-chefe militar sérvio-bósnio Ratko Mladic.

“Saúdo a decisão do Tribunal Criminal da ONU relativa a Ratko Mladic”, considerou Stoltenberg, em comunicado, acrescentando que a condenação “mostra que o primado da lei está a funcionar e os responsáveis por crimes de guerra são responsabilizados”.

“Como comandante bósnio sérvio, o general Mladic foi responsável por crimes terríveis contra civis, incluindo o assassínio de milhares de homens e rapazes bósnios em Srebrenica, em 1995”, salientou.

Lembrando que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, no acrónimo inglês) “ajudou a encerrar este capítulo negro na história da Europa”, o responsável pela Aliança adiantou esperar que esta decisão permita que a região avance mais na paz e reconciliação.

Por seu lado, a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Federica Mogherini, considerou que “fazer justiça e combater a impunidade pelos mais horríveis crimes é uma obrigação humana fundamental”.

Sem querer pronunciar-se sobre o caso concreto de Mladic, Mogherini, salientou que a UE “respeita na íntegra as decisões do TPI-J e apoia o seu trabalho”.