As autoridades da Papua Nova Guiné afirmaram esta sexta-feira ter transferido os últimos requerentes de asilo que recusaram, ao longo de três semanas, abandonar o centro de detenção de migrantes na ilha de Manus por receios de segurança.

O superintendente-chefe da polícia, Dominic Kakas, afirmou que retiraram os 378 homens que estavam no centro localizado na ilha de Manus nos últimos dois dias e levaram-nos de autocarro para residências para a cidade próxima de Lorengau.

“Toda a gente foi embora. Toda a gente entrou nos autocarros, fez as malas e mudou-se”, declarou Dominic Kakas.

Defensores dos direitos dos refugiados afirmaram que os agentes recorreram ao uso da força para evacuar o centro e destruíram pertences dos requerentes de asilo para fazer com que abandonassem Manus.

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A 31 de outubro, o centro, patrocinado por Camberra, foi oficialmente fechado após decisão do Supremo Tribunal, que o considerou anticonstitucional, mas centenas de migrantes, embora sem água ou eletricidade, recusaram-se a deixar o local por receio de colocarem a sua segurança em perigo, rejeitando “passar de uma prisão para outra”.

A Austrália paga à Papua Nova Guiné e à remota nação de Nauru, no Pacífico, para acolher milhares de requerentes de asilo de África, do Médio Oriente e da Ásia que tentaram alcançar as suas costas de barco desde meados de 2013.

Antes da confirmação de que a o centro de Manus tinha sido encerrado, o primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, congratulou-se com a notícia de que os requerentes de asilo estavam a deixar o local.

“Tenho o prazer de anunciar que as notícias que temos é que há autocarros cheios de pessoas a abandonar Manus, que eles estão a cumprir com as instruções legais das autoridades da Papua Nova Guiné e a ir para instalações alternativas disponíveis para eles”, afirmou Malcolm Turnbull em declarações aos jornalistas.

“É precisamente o que deves fazer se estás num país estrangeiro. Deves cumprir com as leis desse país”, realçou.

Shen Narayanasamy, ativista do grupo australiano GetUp’s, afirmou em comunicado: “Acordei esta manhã com frenéticos telefonemas de refugiados de Manus aos gritos, ‘Ajuda, ajuda, eles estão a matar-nos'”.

“É surpreendente que refugiados estejam a ser agredidos e arrastados para autocarros [e isso] tenha o apoio do governo australiano”, disse.

A polícia da Papua Nova Guiné garantiu que não recorreu ao uso da força para evacuar o centro de migrantes.

A Austrália reativou, em 2012, a controversa política para a tramitação em países terceiros dos pedidos de migrantes que viajam para o seu território em busca de asilo e acordou a abertura de centros de detenção na Papua Nova Guiné e em Nauru.

A ONU e grupos de defesa dos direitos humanos têm criticado estes centros de detenção de migrantes, qualificando de desumanas as precárias condições em que vivem os migrantes e os abusos de que são alvo.

Muitos dos detidos nos centros de Manus e Nauru fugiram de conflitos como os do Afeganistão, Darfur, Somália ou Síria, sendo que outros procuraram escapar à discriminação ou à condição de apátridas, como as minorias rohingya, da Birmânia, ou bidun, da região do Golfo.

Os migrantes, na sua maioria considerados refugiados, foram transferidos para Manus e Nauru depois de terem sido intercetados pelas autoridades da Austrália quando tentavam alcançar de barco a costa do país, que se nega a acolhê-los.

Os Estados Unidos concordaram em receber até 1.250 refugiados ao abrigo de um acordo negociado com o antigo Presidente norte-americano Barack Obama que o sucessor, Donald Trump, tem relutantemente decidido honrar. Até ao momento, apenas 54 pessoas foram aceites pelos Estados Unidos.