A chuva começou a cair na madrugada de 26 de novembro de 1967. O ano tinha sido particularmente seco e ninguém esperava que os chuviscos que começaram a cair durante aquela noite fria provocassem uma tragédia apenas comparável ao Terramoto de 1755. Milhares de pessoas ficaram desalojadas, inúmeras habitações ficaram destruídas e mais de 700 pessoas terão perdido a vida. Os números não são oficiais, porque o Estado Novo quis que os jornais parassem de contar os mortos quando a contabilidade ir em 462 vítimas.

A chuva que caiu sem parar durante três dias foi fruto de uma depressão meteorológica que percorreu todo o Vale do Tejo. As consequências fizeram-se sentir sobretudo nos concelhos de Loures e de Vila Franca de Xira, mas localidades como Odivelas, Oeiras, Cascais, Loures ou Alenquer também foram afetadas. Em alguns locais do distrito, a água chegou a concentrar-se num volume de 170 litros por metro quadrado, como mostram as imagens da época. Na estação meteorológica da Gago Coutinho, em Lisboa, foram registados 115,6 milímetros de precipitação num período de apenas 24 horas.

Na capital, a Avenida de Ceuta ficou debaixo de água e a Avenida da Índia encheu-se de lama. As linhas de comboio deixaram de funcionar e a Praça de Espanha ficou completamente alagada. Na estação meteorológica da Gago Coutinho, foram registados 115,6 milímetros de precipitação num período de apenas 24 horas.

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Na Fundação Calouste Gulbenkian, um primeiro balanço falava em 200 livros inutilizados. Os volumes destinavam-se a abastecer as bibliotecas fixas e itinerantes e estavam guardados nos pisos subterrâneos do edifício da sede, na Avenida de Berna, afetado pela subida do nível das águas. A chuva também entrou no interior do Palácio Pombal, em Oeiras, como relata uma reportagem do jornal O Século, mas nenhuma das obras de arte foi afetada.

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Apesar de nada nem ninguém ter ficado alheio à tragédia, os cidadãos comuns foram os mais afetados. Muitas pessoas viram-se obrigadas a abandonar as suas casas — estima-se que cerca de 20 mil habitações tenham ficado destruídas. Os que não conseguiram fazê-lo, acabaram por ser apanhados pela chuva.

Ao jornal O Século, Arsénio Nunes, diretor do Instituto de Medicina Legal, admitiu que, ao longo dos 110 anos de existência da instituição, nunca tinha dado entrada um número tão elevado de cadáveres na morgue num espaço de apenas 24 horas. Passados 50 dias das grandes cheias de Lisboa, ainda apareciam corpos que tinham ficado escondidos pela lama pelos escombros dos edifícios destruídos pela força das correntes. Imagens divulgadas na altura, mostram cadáveres de animais alinhados ao longo das estradas.