Portugal é o terceiro país da União Europeia que regista mais vítimas em acidentes com tratores agrícolas, contabilizando 123 mortos entre 2015 e 2016, um cenário preocupante para o qual foram alertados os agricultores de Murça, esta terça-feira.

Na estatística da sinistralidade com tratores na União Europeia, Portugal ocupa o terceiro lugar a seguir à Grécia e à Polónia. E esta é a principal causa de morte no trabalho agrícola a nível nacional, registando-se, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, 68 vítimas mortais em 2016 e 55 em 2015.

Para alertar os agricultores para este “cenário preocupante”, a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas (CONFAGRI) promoveu neste dia, em Murça, distrito de Vila Real, uma sessão de esclarecimento.

“Todas as semanas ou morre uma pessoa ou fica ferida e com incapacidade para exercer a atividade. Cada vez mais acontecem este tipo de acidentes”, alertou Isabel Santana, da CONFAGRI. Por isso mesmo, acrescentou, é preciso “sensibilizar, alertar e aconselhar os agricultores para os riscos e perigos com o uso dos tratores”.

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E os perigos estão relacionados com a insuficiente formação dos manobradores, a falta de manutenção dos veículos, a não utilização das estruturas de segurança como o arco de “Santo António” ou o cinto de segurança, a insuficiente avaliação dos riscos relacionados com a inclinação do terreno ou a carga transportada.

“O que temos vindo a verificar é que as pessoas, apesar de todos os alertas e todas as notícias de mortes, vêm descurando de alguma forma a segurança. Os trabalhos são exigentes, precisam de os fazer, a população que pega nos tratores é cada vez mais envelhecida e não está sensibilizada para estas questões de segurança”, referiu Aurora Sousa, da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) de Vila Real.

A responsável disse que é preciso “fazer um esforço grande de sensibilização”. “Já se sabe que temos que ter muito cuidado. É preciso fazer atenção, fazer as revisões com o trator. A gente aprende sempre alguma coisa com estas ações”, afirmou Manuel Costa da Assunção, de 73 anos e residente na aldeia de Jou.

Manuel Silvestre da Silva, de 79 anos e habitante em Palheiros, referiu que o “trator não é para andar em corridas nem fazer rali”, garantindo que é muito cuidadoso na condução e que nunca teve nenhum acidente. “Ando com cuidado, a gente já não tem 20 anos. Para uma viatura circular bem é preciso ter água, óleo e bons travões”, frisou Manuel Morais, de 59 anos e natural de Noura.

Segundo Humberto Costa, do Centro de Gestão Murça, a partir do próximo ano todos os operadores terão que ter a carta de trator ou fazer uma formação habilitante de 35 ou 50 horas. Isabel Santana alertou para a “importância e para a obrigatoriedade da formação para a condução de tratores” e referiu que o risco de morte dos condutores de tratores agrícolas “é oito vezes superior ao dos que conduzem automóveis ligeiros ou pesados”.

De acordo com esta responsável, entre 2004 e 2013, perderam a vida em acidentes de tratores 305 pessoas. No distrito de Vila Real, segundo dados fornecidos pela GNR, os acidentes com tratores provocaram cinco vítimas mortais em 2017, três em 2016 e quatro em 2015.