Cerca de 170 trabalhadores do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, afetado por um surto de legionela, foram rastreados à presença da bactéria, mas apenas dois foram infetados, revelou esta quarta-feira a administradora desta unidade de saúde.

Rita Perez falava na comissão parlamentar da Saúde, onde está a decorrer uma audição sobre o surto de legionela no HSFX, tendo assumido que na base deste problema esteve “um acidente adverso imprevisto”.

“Houve um acidente adverso imprevisto, senão não existia infeção”, disse a administradora, médica de formação.

Segundo Rita Perez, no seguimento deste surto foi criado um local específico no hospital onde foram rastreados os trabalhadores com sintomas da pneumonia. Por esse local passaram 170 funcionários, dos quais dois revelaram-se infetados com a bactéria.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Ninguém poderá lamentar mais do que o hospital a morte e doença dos nossos doentes e a infeção de dois trabalhadores, entre os mais de mil que trabalham diariamente” nesta instituição, afirmou.

Estes dois trabalhadores apresentam, tal como os restantes infetados com a bactéria, comorbilidades e fatores de risco muito importantes para infeções em geral.

Rita Perez classificou este surto de “muito importante” que decorreu num sítio com “uma expressão grande e em doentes mais vulneráveis”.

No seguimento deste surto, que a Direção-Geral da Saúde deu por terminado na segunda-feira, foram infetadas 56 pessoas, das quais cinco morreram.

Torres de arrefecimento estão em mau estado de conservação

Os técnicos que investigaram o surto de legionela no hospital São Francisco Xavier encontraram deficiências na manutenção das torres de arrefecimento e detetaram condições de conservação propícias ao desenvolvimento de bactérias, afirmou a diretora-geral de Saúde.

Em resposta aos deputados na comissão parlamentar de Saúde, Graça Freitas admitiu que foram encontradas nos equipamentos do São Francisco Xavier, onde surgiu o surto de legionela, “deficiências de manutenção dos equipamentos” visitados pelos técnicos após a deteção do surto.

“De facto, por observação documentada, encontraram-se condições de conservação que seriam propícias ao desenvolvimento de bactérias”, afirmou Graça Freitas.

Segundo o relatório preliminar que as autoridades de saúde elaboraram, a equipa de saúde ambiental que visitou as instalações do São Francisco Xavier, em Lisboa, constatou o mau estado de conservação de torres de arrefecimento.

Tendo em conta a degradação do interior da torre de arrefecimento, os especialistas sugeriram mesmo a sua substituição por uma torre sem água.

Esta manhã, na comissão parlamentar de Saúde, o vogal executivo do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental Carlos Galamba disse que o Hospital São Francisco Xavier pediu ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil “um trabalho de avaliação do risco de manutenção das estruturas existentes”, como edifícios, redes de água, eletricidade e cogeração.

Na altura, o responsável admitiu não saber se havia falha técnica na origem do surto e disse estar confortável com os contratos de manutenção dos serviços.

O objetivo do trabalho pedido ao LNEC é o hospital ter a garantia da certificação do plano de manutenção do hospital.

Além de avaliar o risco de manutenção das estruturas, foi pedido ao LNEC um “trabalho mais profundo” sobre a central de cogeração.

A administração indica que a empresa responsável pela manutenção da torre de refrigeração realiza análises quinzenais e tem manuais de procedimentos “muito detalhados”. A Veolia, empresa responsável pela manutenção das torres de refrigeração, negou responsabilidade pelo surto há duas semanas e disse que tudo foi “implementado corretamente”.

Veolia nega responsabilidade no surto de legionela no Hospital de São Francisco Xavier

O responsável estima que, para esta contaminação ambiental, tenham contribuído as condições atmosféricas em Lisboa.

Em resposta ao deputado do Bloco de Esquerda Moisés Ferreira, o vogal da administração do Centro Hospitalar esclareceu que o hospital não tem quaisquer dívidas ou montantes em atraso às empresas envolvidas na manutenção dos sistemas.