Acontece frequentemente. Os barcos saem junto à costa e o mar está calmo: não há ondas nem vento. Mas, de um momento para o outro, surge a surpresa e a tragédia para os pescadores. A 10 milhas da costa (cerca de 16 quilómetros) deparam-se com ondas de dois a três metros de altura e ventos de 25 a 30 nós (entre 46 e 55 quilómetros por hora).

Para uma embarcação de nove metros, estas condições já inspiram algum respeito”, disse Pedro Coelho Dias, o porta-voz da Marinha Portuguesa, ao Observador.

A embarcação que naufragou esta quarta-feira ao largo da Figueira da Foz, provocando o desaparecimento dos seus três tripulantes, era uma embarcação de nove metros. Quando o mar está muito agitado, a Marinha emite alertas e comunicados e fecha as barras — que impedem as embarcações de entrar no mar. Mas a embarcação que naufragou esta quarta-feira acabou por seguir o seu caminho rumo à tragédia porque as condições do mar e meteorológicas eram positivas e não justificavam o fecho das barras.

“Aconselhamos a, antes de ir para o mar, ter conhecimento da condições meteorológicas e conhecer as limitações da embarcação”, disse Pedro Coelho Dias, acrescentando que a decisão de entrar “depende da prática de cada um”.

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Não há nenhum mecanismo que os impeça de ir. Há pescadores que preferem pescar com pior mar. Até porque há menos barcos a pescar, têm mais espaço para lançar as redes”, disse o porta-voz da Marinha ao Observador.

A embarcação da Figueira da Foz entrou com um mar calmo junto à costa mas acabou por se deparar com um mar agitado. Há embarcações que conseguem fugir com técnicas de navegação — navegar em linhas oblíquas, por exemplo — que lhes permitem regressar à costa. Na impossibilidade de o fazer, a embarcação naufragou. Três pessoas morreram e há uma pessoa que continua desaparecida.

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“Mayday! Mayday! Mayday! Estou a afundar-me!”

Não houve um pedido humano de socorro humano, da embarcação da Figueira da Foz. Na possibilidade de ser feito, esse deve ser o alerta emitido via rádio: “Mayday! Mayday! Mayday! Estou a afundar-me na posição x” — sendo que a posição x representa a posição exata da embarcação em termos de latitude e longitude. É o melhor tipo de alerta: não só fornece a posição certa, como emite um alerta a quem está em terra mas, também, a outros barcos que estejam perto e que possam prestar assistência.

A embarcação que naufragou esta quarta-feira emitiu um alerta automático através do rádio baliza de emergência. Este sinal é ativado em algumas situações: manualmente ou se os barcos vão ao fundo. Quando as embarcações que afundam atingem os quatro metros de profundidade, é acionado o EPIRB — Emergency Position Indicating Rádio Beacons. Trata-se de uma espécie de cápsula que, depois de libertada, “vem à superfície e emite um sinal via satélite”, daí que esta cápsula tenha que estar instalada num sítio sem obstáculos. O problema é que “a precisão desse sinal não é muito rigorosa”, explica Pedro Coelho Dias.

400 falsos alertas por ano. “Um puzzle de informação difusa”

Entre 300 a 500 embarcações por ano passam na área de responsabilidade da Marinha portuguesa — que vai até metade do Oceano Atlântico. E muito delas acabam por emitir um número muito significativo de falsos alertas: são mais de 400 por ano. Entre as causas para esses enganos encontram-se o mau funcionamento do mecanismo ou até o excesso de pressão provocada por ondas que têm como consequência o disparo do sinal do EPIRB.

“É o grande desafio. É um puzzle de informação difusa”, disse o porta-voz da Marinha Portuguesa. Seja ou não falso, quando é recebido o alerta, atua-se “sempre como se fosse uma situação de perigo”. É logo iniciado o processo de contactar a “embarcação, o proprietário ou o mestre”.

Às vezes [as embarcações] estão atracadas. Estão no porto e têm o rádio desligado, ou não o ouvem”, conta o porta-voz da Marinha Portuguesa.

No caso da embarcação que naufragou esta quarta-feira ao largo da Figueira da Foz, foi dada ordem para “sair a embarcação salva-vidas ainda sem ter a certeza se seria um situação de urgência e sem saber localização” da embarcação. A embarcação salva-vidas foi enviada para a última posição conhecida — através da informação dada por mecanismos que enviam posições de duas em duas horas. A embarcação foi encontrada num raio de quatro quilómetros da última posição que foi dada.