Angola registou mais de 22 mil novos casos VIH/Sida no primeiro semestre deste ano, dos quais perto de 1.300 são crianças, depois de em 2016 terem morrido no país quase 12 mil pessoas afetadas pela doença.

Os dados foram revelados esta quinta-feira à agência Lusa pelo diretor-geral adjunto do Instituto Nacional de Luta contra Sida de Angola, José Carlos Van-Dunem, descrevendo a taxa de prevalência atual da doença no país – equivalente a mais de 500 mil pessoas (2% da população) – como “inquietante” e que necessita de medidas para ser invertida. “Estamos a fazer uma triagem pelo país, olhando para as causas que dão origem a este cenário, para ver se conseguimos diminuir. Porque a luta é sempre reduzir a zero”, disse.

De acordo com o responsável, que falava a propósito do dia mundial de luta contra a Sida, que se assinala a 01 de dezembro, um total de 11.084 pessoas, entre adultos e crianças, iniciaram o acompanhamento no programa nacional da doença no primeiro semestre deste ano, entre os positivos detetados, que chegara, naquele período, a 16.339 adultos, acrescidos de 4.814 gestantes e 1.259 crianças.

“Mas devemos fazer acompanhamento, que é testar e tratar. E neste momento fizemos já um levantamento a nível de Luanda, com 24 unidades, onde daremos início ao processo testar e tratar, uma nova diretiva mundial”, explicou. Em 2016, sublinhou o responsável, foram realizados um total de 887.269 testes, onde se verificou a seropositividade em 34.006 casos, números que para José Carlos Van-Dúnem “podem não refletir a realidade o país, pela necessidade de se expandir mais os serviços de testagem”.

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O diretor-geral adjunto do Instituto Nacional de Luta contra Sida de Angola fez ainda saber que o país não tem carência de antirretrovirais, garantindo que o Governo angolano continua a suportar os custos com a aquisição de testes e de medicamentos. “A nível de todo país não há carência desses fármacos, o que se passa às vezes é a falha na gestão de stock e distribuição, porque distribuímos para as províncias e elas por sua vez passam pelos municípios. Sendo que para crianças também temos disponíveis”, assegurou.

A transmissão vertical da doença, de mãe para filho, apesar dos “esforços no sentido de se reduzir os números”, é outra das preocupações atuais, com o instituto a controlar 2.303 crianças positivas. Pelo país, referiu, a província do Cunene apresenta o maior índice de prevalência, de 6% da população, seguido do Cuando-Cubango, com 5,5%, juntamente com Moxico e Luanda Norte, precisamente por serem todas regiões fronteiriças. “Dada a circulação de pessoas daí a dimensão da prevalência”, aponta.

José Carlos Van-Dúnem revelou também que, em 2016, o Instituto registou em Angola um total de 11.997 óbitos por VIH/Sida, entre adultos e crianças. “Infelizmente ainda se morre por vários motivos, umas pessoas porque não sabem o seu estado, outras mesmo sabendo por vezes não cumprem a medicação e outras, ainda, porque desistem do tratamento”, explicou.

O estigma e a discriminação, realçou, continuam presentes no seio da sociedade angolana, situação que contribui para a “propagação da doença” e que “concorre ainda para a contaminação dolosa que ainda se regista no país”. “O estigma e a discriminação é o nosso grande cavalo de batalha, infelizmente ainda há muito e isso leva com que desconheçamos o real estado da nossa população e contribui para alastrar a doença”, reconheceu.

Tendo ainda defendido a necessidade da implementação de leis mais rígidas às pessoas que de forma dolosa transmitem a doença a outros. “Por causa do estigma e discriminação a pessoa tem vergonha de vir até nós daí que defendemos os mecanismos legais para punições mais severas a estes casos porque a situação é mesmo preocupante”, observou.

Em face do índice de prevalência da doença, equivalente a 2% da população do país, o Instituto Nacional de Luta contra Sida de Angola prevê desenvolver um trabalho de auditoria, por forma a “ajustar melhor os dados para um melhor controlo da doença”. Em Angola, o ato central do dia mundial de luta contra a Sida envolve uma conferência, sexta-feira, no Palácio da Justiça, em Luanda, que será presidida pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta.