Cabo Verde vai candidatar-se a certificação pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como país livre de transmissão de VIH entre mãe e filho, anunciou esta sexta-feira o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário. O ministro da Saúde cabo-verdiano falava, na cidade da Praia, durante uma cerimónia para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra a Sida e os 15 anos de criação no país do Comité de Coordenação de Combate à Sida (CCS-Sida).

“Aceitamos o desafio da candidatura à certificação da interrupção da transmissão vertical do VIH-Sífilis”, disse Arlindo do Rosário, sublinhando os ganhos do país nesta matéria, onde, nos últimos sete anos, as taxas de transmissão do VIH entre mãe e filho têm variado entre os 0% e 3%.

Arlindo do Rosário respondia, desta forma, ao desafio lançado, na mesma cerimónia, pelo representante da OMS em Cabo Verde, Mariano Castellon, que considerou que o país tem todas as condições para conseguir essa certificação.

“A transmissão do VIH de mãe para filho tem tido resultados muito positivos ao longo dos anos. Passamos de uma taxa de transmissão de 15 a 20%, em 2004, para uma taxa que nos últimos sete anos tem variado entre 0% e 3% e isso encoraja-nos a objetivar até 2020 uma estratégia de eliminação”, explicou aos jornalistas Artur Correia, secretário executivo do CCS-SIDA.

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Artur Correia sublinhou que a certificação implica um conjunto de “passos e esforços” para cumprir os critérios, adiantando que o país irá contar, para isso, com o apoio da OMS e de outros parceiros internacionais.

“Ouvimos o representante da OMS a convidar o país a candidatar-se. Estamos conscientes das responsabilidades que isso implica. Não vamos fugir a essa responsabilidade. Estamos numa fase de ponderação e análise a ver se apresentaremos ainda este ano ou no primeiro trimestre do próximo ano”, acrescentou.

Cabo Verde tem uma taxa de incidência de HIV de 0,8% na população global, de 3% entre os usuários de drogas, 5% entre os profissionais do sexo e 6% entre homens que fazem sexo com homens. Artur Correia assinalou que nestes grupos, considerados vulneráveis, se verifica uma estagnação das transmissões, com tendência para a redução.

Adiantou, por outro lado, que a transmissão sexual associada a comportamentos de risco representa o “grande desafio” do país, onde a população mais infetada tem idades acima dos 25/30 anos.

Introduzidos no país em 2004, Cabo Verde tem uma taxa de cobertura de mais de 60% de tratamento com medicamentos retrovirais, mas a meta é, segundo as autoridades, abranger 90% de doentes seropositivos. Para isso, adiantou Artur Correia, os critérios de acesso aos medicamentos estão a ser alargados para que o tratamento se possa iniciar mais cedo.

Dos cerca de 2.500 doentes seropositivos seguidos pelos serviços de saúde, 1.600 beneficiam de tratamento com medicamentos antirretrovirais. Das 11.000 grávidas anuais, 10.000 têm acesso a testes de VIH e a totalidade das que são diagnosticadas com a doença tem tratamento gratuito. Cabo Verde conseguiu igualmente 100% de segurança em transfusões de sangue.

O país iniciou esta sexta-feira a realização do III Inquérito Demográfico e de Saúde Reprodutiva, que irá atualizar os dados da prevalência do VIH-SIDA em Cabo Verde. O mais recente inquérito sobre saúde reprodutiva em Cabo Verde foi realizado em 2005, mas Artur Correia não espera que os novos dados revelem grandes alterações relativamente às atuais taxas de prevalência do HIV/SIDA no país.

“De acordo com os dados disponíveis – que precisam ser confirmados neste novo estudo -, a epidemia não está a aumentar, mas com o aumento do acesso ao tratamento, os seropositivos da população vivem mais tempo e esse número poderá afetar a prevalência”, disse. Acrescentou não esperar, no entanto, que “haja aumento expressivo na taxa de prevalência”.