“Esquecer” é um espetáculo a partir do texto do escritor grego Dimitris Dimitriádis “Oblívio e mais quatro monólogos”, que o Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, estreia no sábado, com encenação de Jean Paul Bucchieri.

“Derrota”, “Memória”, “Arrependimento”, “Arte” e “Oblívio” são os cinco monólogos da peça, que nunca tiveram estreia integral, segundo o TNDM, e que vão ficar em cena, na Sala Estúdio do teatro, em Lisboa, até ao próximo dia 17, com cinco atores para cada um dos textos.

Todos “falam como se lhes tivesse sido dada a palavra pela última vez (…), como se orador soubesse que cada palavra que pronunciasse, terminaria gradualmente a sua oportunidade de falar”, disse o autor, Dimitris Dimitriádis, sobre estes textos.

“Oblívio” foi escrito em 1997, numa residência de autores do Teatro Nacional da Grécia do Norte. A primeira montagem foi feita no ano seguinte, em Atenas, seguindo-se pouco depois o palco do Petit Odéon, em Paris. A versão integral, porém, nunca até agora foi levada a cena, segundo o TNDM.

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A ensaísta grega Dimitra Kondiláki, que entrevistou Dimitriádis e escreveu sobre ele, para a revista Artistas Unidos, de julho de 2007, entende que estes cinco monólogos dão corpo a “cinco seres que procuram a purificação, a retirada da dolorosa experiência do mundo, afirmando-se nela”.

“O que os liga — garantiu Kondiláki — é o anseio da afirmação, da aceitação, da reconciliação com o insuportável, o anseio da sua própria aniquilação, uma anulação, contudo, gloriosa e redentora”.

Os cinco monólogos também estão publicados nessa edição da revista Artistas Unidos, numa tradução de José António Costa Ideias, a mesma que serve de base à encenação do TNDM.

Cada um dos oradores tem um passado pesado: “O primeiro, vontade de mudar o mundo, sem resultado (‘Derrota’), o segundo, o anseio, ‘até ao mais profundo desespero’ (‘Memória’), o terceiro perdeu tudo na vida (‘Arrependimento’), o quarto não teve êxito na sua arte (‘Arte’). Sobre o último, não sabemos absolutamente nada. Não quer que o conheçamos. É o seu corpo que lembra. Ele esqueceu-se (‘Oblívio’)”, escreve Dimitra Kondiláki.

Nestes cinco monólogos, “Dimitriádis procura o lugar exato da existência, do mundo, do corpo, da arte e da linguagem, no interior do paradoxo humano”, lê-se na apresentação do TNDM.

A montagem de “Esquecer”, na integralidade de “Oblívio e mais quatro monólogos”, é assinada pelo ator e encenador de origem italiana Jean Paul Bucchieri, radicado em Portugal.

A interpretação é de Álvaro Correia, Ana Cris, Beatriz Brás, Miguel Loureiro e Pedro Gil, e a dramaturgia de David Antunes, com a colaboração Jorge Ramos do Ó.

Dimitriádis nasceu em Salónica, na Grécia, em 1944, fez estudos de teatro e de cinema, e estreou-se na escrita com a peça “O preço da revolta no mercado negro”, de 1967. Ao longo dos últimos 50 anos, a sua produção alargou-se ao ensaio, à ficção e à poesia, somando dezenas de obras como “Catálogos”, “A nova Igreja do Sangue” e “O princípio da vida”.

Em setembro, os Artistas Unidos estrearam “A vertigem dos animais antes do abate”, do autor grego, na abertura da temporada, peça que também está publicada, num volume da coleção Livrinhos de Teatro, com “OIM”, “Procedimentos de regularização de diferenças” e “Morro como País”.

Esta peça foi encenada por John Romão e o Colectivo 84, em 2012. Em 2015, no derradeiro festival Próximo Futuro, da Gulbenkian, foi foi também apresentada “A Circularidade do Quadrado”, do autor grego.