O túmulo de Alexandre Herculano, situado na Sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos — e paredes-meias com a sacristia da igreja de Santa Maria de Belém –, foi, na tarde de domingo, transformado em “bengaleiro”, servindo de poiso a mochilas e casacos.

O Observador contactou a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), responsável pela tutela do Mosteiro dos Jerónimos, que adjetivou a situação como “delicada”, atribuindo a responsabilidade à ordenação de padres que foi realizada, precisamente no domingo, na igreja de Santa Maria de Belém.

“Naquele dia em concreto, e tendo o Mosteiro dos Jerónimos uma igreja, o espaço foi cedido [pela Direção-Geral do Património Cultural] ao Patriarcado de Lisboa, que lá faria a ordenação de padres. E foi no âmbito dessa cedência que aconteceu aquela situação. Uma situação que habitualmente não acontece”, começa por dizer fonte oficial da DGCP, acrescentando que a situação foi “emendada” prontamente.

“É claro que, num monumento daquela dimensão, não é possível garantir com certeza que não se volte a repetir. Mas o que aconteceu, aconteceu num espaço de poucos minutos e logo que a vigilância detetou, tratou de emendar. É, naturalmente, um ato censurável”, explicou a DGCP.

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Também contactada pelo Observador, fonte oficial do Patriarcado de Lisboa começou por relembrar que no domingo, por volta das 15h30, foram ordenados “seis diáconos e um padre” — numa cerimónia que terminou “cerca de duas horas depois”. “A igreja não estava cheia; estava composta. Mas não estava gente à porta, por exemplo. Tanto em dias de ordenação, como nas Eucaristias normais, a igreja quase nunca está com gente à porta, à espera para entrar”, explicou.

Quanto ao túmulo feito “bengaleiro”, o Patriarcado de Lisboa rejeita que o ato “preocupante” esteja relacionado com a ordenação.

Insistindo a DGPC que “a situação não está relacionada com turismo” e reafirmando que o espaço fora ocupado naquela tarde “pela cerimónia de uma instituição religiosa”, a mesma fonte oficial do Patriarcado de Lisboa encontra uma possível explicação, embora ache “desproporcionado” que tal tenha acontecido. E explica: “O túmulo de Alexandre Herculano está na Sala do Capítulo. Essa sala era normalmente utilizada para a paramentação dos acólitos. Eventualmente, podem ter lá deixado os seus pertences durante a celebração. Em tempos essa sala, sendo ao lado da sacristia, foi utilizada para tal. Agora, não faz sentido que tenham sido estes a deixar os pertences em cima do túmulo”.

Autora da fotografia alertou vigilante

A autora da fotografia (que optou por não ser identificada) confirmou ao Observador que a Sala do Capítulo foi, de facto, ocupada por acólitos na tarde de domingo. E que as mochilas e casacos (em cima do túmulo como em volta deste) eram pertença destes.

“Como na Sala do Capítulo havia uma exposição evocativa do Alexandre Herculano, resolvi ir visitá-la. Qual não é o meu espanto quando vejo a sala com dezenas de mochilas e casacos. Mas não era só no túmulo; era por todo o lado. Quem estava comigo disse que viu acólitos na tal paramentação”, conta.

Prontamente, a visitante alertou a vigilância do Mosteiro do Jerónimos. Em vão. O que contraria a versão da DGPC, que garante que a situação “aconteceu num espaço de poucos minutos”. “Fui informar o vigilante, que me disse que a sala estava a ser utilizada pelo Patriarcado e que inclusivamente deveria estar fechada ao público”, explica.

O Observador tentou contactar o cónego José Manuel Ferreira, pároco da igreja de Santa Maria de Belém, para tentar perceber se a Sala do Capítulo (onde está situado o túmulo de Alexandre Herculano) foi ou não utilizada para a paramentação dos acólitos no domingo. Até ao momento, não foi possível obter uma declaração do pároco.