Janeiro

Veneza, Itália

Conhecer Veneza é, na opinião de Gonçalo Cadilhe, aventura para depois do dia dos Reis e antes do fim do mês. Depois da ressaca do cartão de crédito, culpa da época natalícia, vale a pena visitar a cidade que, à exceção desses 10 dias em janeiro, está sempre sobrelotada. Nesta altura o destino é particularmente frio e húmido e, por todos esses motivos, há a possibilidade de não só ver a Praça de São Marcos coberta de gelo como ter Veneza só para nós. “É ir a Veneza e sentir-se veneziano.”

Veneza sempre foi a primeira cidade a vender a alma ao turismo. Que ingenuidade pretender encontrá-la sem turistas. Afinal, há um par de semanas por ano em que é possível ser ingénuo…

Gonçalo Cadilhe, O Esplendor do Mundo

Fevereiro

Bagan, Myanmar

“É uma sucessão de 4 mil edifícios e estruturas abandonadas num planalto seco e quente, nas margens do rio Irauádi”, diz Cadilhe sobre Bagan, a antiga cidade abandonada que serve de epicentro a todos os que viajam na Birmânia. Cidade onde resiste uma solidão magnífica, tal como se lê no livro em destaque, de onde “as pessoas foram embora, as construções de madeira apodreceram e a arquitetura de pedra resistiu”. O destino é bastante quente, mas visitá-lo na época das chuvas e das monções também está fora de questão, pelo que o melhor será rumar até lá em fevereiro. Mais, 2018 é definitivamente o ano para conhecer Bagan: o país teve fechado ao ocidente durante décadas, situação que manteve intacta a essência desta cidade que, agora, começa a ser descoberta pelo turismo de massa. “O país está de fronteiras abertas e está a banalizar-se como destino turístico. Não há tempo a perder.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Março

Estreito de Magalhães, Chile

“O tempo ali é sempre muito agreste”, recorda Cadilhe. Pegando no livro, é fácil perceber porquê: na obra, o autor detalha o “frio tremendo, que corrói as têmporas e queima os lábios”, bem como a “luminosidade tão crua e tão fria como a temperatura”. Por esse motivo, março será a altura ideal para conhecer a passagem navegável de aproximadamente 600 quilómetros, na Patagónia — é considerada a maior passagem natural entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Nas outras viagens, o momento em que elas se definem e se concluem acontece com o regresso. Nesta, o momento que sublima e resume toda a viagem é este lugar onde a existência de Magalhães se justifica para a posteridade: foi para descobrir isto que este homem veio ao mundo.

Gonçalo Cadilhe, O Esplendor do Mundo

Abril

Mogao, China

Em causa não está apenas o destino em si, mas também a ideia de viajar pela Rota da Seda, neste caso, “viajar entre o Uzbequistão e a China”. Desta rota, as grutas de Mogao são, para o autor, o ponto mais alto em termos artísticos — uma visita que não pode ser feita no inverno nem no verão, por ser muito frio e muito quente, respetivamente. “Estamos a falar de um dos desertos mais brutais do planeta. Abril é um bom compromisso.”

Ficaram nas paredes das grutas, espalhadas pela falésia, as esplêndidas pinturas ‘expressionistas’ realizadas entre os séculos IV e XIV, que valem por si só a viagem ao oásis de Mogao. Chegar a Mogao também vale a viagem a Mogao.

Gonçalo Cadilhe, O Esplendor do Mundo

Maio

Sossusvlei, Namíbia

O corredor de dunas vermelhas que se forma no deserto do Namibe é descrito como um fenómeno único. “Estas dunas têm minério de ferro impregnado na areia branca. Vem das montanhas, a quilómetros de distância, arrastado pelo vento”, diz Cadilhe, lembrando o “oceano de dunas” cujo tom avermelhado surge quando nasce e se põe o sol. O ideal é ir em maio, que é quando quando o inverno chega ao hemisfério sul — é a época seca (os aguaceiros caem no verão).

Junho

Machu-Picchu, Peru

É dos destinos mais consensuais e não é difícil perceber o motivo. “A cidade perdida dos Incas é talvez uma das fotografias mais famosas e mais emblemáticas do planeta terra”, diz Gonçalo Cadilhe, que assegura que junho é a melhor altura para conhecer não só Machu-Picchu, como toda a região (incluindo Cusco e o Vale Sagrado dos Incas). Em causa não está apenas o clima favorável, mas também o facto a festa que celebra o solstício de verão. “É a época do ano em que podemos ver a tradição viva dos inca.”

O livro está á venda por 19,50 euros. @Divulgação

Julho

Okavango, Botsuana

O rio Okavango nasce em Angola e morre no Kalahari, no Botswana. Escreve Gonçalo Cadilhe que o rio “alonga-se e infiltra-se pelo deserto num abraço de quinze mil quilómetros quadrados, o equivalente a metade do Alentejo, formando o mais absurdo e maravilhoso delta interno da crosta terrestre” — e por delta entenda-se um “terreno situado entre dois braços de um rio, junto à sua foz”. A melhor altura para visitá-lo é em julho, uma vez que a água “cristalina e potável” chega ao delta cinco meses após de “ter sido chuva nas montanhas de Angola”.

Agosto

Namaqualand, África do Sul

Esta é uma viagem que exige sorte, do início ao fim: “Pode ou não acontecer, mas caso caia alguma precipitação no deserto, passado algumas horas aparece diante de nós um tapete de flores coloridas”. Ninguém consegue prever o evento, mas a acontecer é em agosto. “É uma visão surreal.”

Calhou ir a descer a grande estrada da costa atlântica num dia frio e encoberto de agosto. O tipo que me deu boleia sorriu e apontou para o fundo da reta, a uns dez quilómetros de distância. Vais ver uma coisa extraordinária. E vi. O deserto de Namqualand, depois de uma das raríssimas chuvas do final do inverno austral, estava coberto de um tapete de flores coloridas, efémeras, surreais na sua existência intermitente e inútil.

Gonçalo Cadilhe, O Esplendor do Mundo

Setembro

Vermont, Estados Unidos

É no outono que árvores — florestas inteiras, até — mudam de tom, com as folhas a ganharem cor de fogo. Falamos de “uma sinfonia de cores tão extraordinária” que leva pessoas de todo o mundo a Vermont, garante Cadilhe. O fenómeno começa em meados de setembro e prolonga-se até final de outubro — apesar de durar algumas semanas, prossegue em direção ao mar. “Não acontece sempre no mesmo sítio, é como se houvesse uma mancha que se vai arrastando do interior para o mar”, explica. Foi no estado de Vermont que o autor diz ter encontrado “o outono mais bonito do mundo”.

É um outono fugaz, esquivo e caprichoso, difícil de encontrar mas escrutinado por milhares de aficionados que todos os anos tentam apanhar os vales e as colinas ondulantes da Nova Inglaterra que apresentam a maior concentração de árvores com folhas em mudança de cor.

Gonçalo Cadilhe, O Esplendor do Mundo

Outubro

Cinque Terre, Itália

Infelizmente, nos últimos dez anos Cinque Terre tornou-se num dos locais mais procurados, diz Cadilhe. “São cinco aldeias muito pequenas incrustadas na falésia. Não há espaço, são invadidas por milhões de pessoas.” Por esse motivo, o viajante profissional assegura que ir em outubro é a única forma de conhecer Cinque Terre e, ao mesmo tempo, respirar — esta é a altura do ano em que o turismo tira folga.

Novembro

Ilhas das Especiarias, Indonésia

Gonçalo Cadilhe diz que as Ilhas das Especiarias são um arquipélago “encantado no fim da longitude”, onde em tempos se concentrou a produção mundial de cravinho. E porquê visitar em novembro e em 2018? Novembro é a época boa em termos de clima e em 2019 celebram-se os 500 anos da viagem de Circum-Navegação de Fernão de Magalhães, feita ao serviço do rei de Espanha, em busca das ilhas produtoras de especiarias, as Molucas. “É ir agora às ilhas, antes que o mundo inteiro vá a correr para lá. Este é o destino mais urgente a conhecer em 2018.”

Foi o excesso de procura e o monopólio da oferta que atiçaram a cobiça dos europeus na Idade Média: foram as ilhas que provocaram os Descobrimentos, o colonialismo, a globalização.

Gonçalo Cadilhe, O Esplendor do Mundo

Dezembro

Rota das Kasbah, Marrocos

Marrocos está aqui ao lado. Basta um voo para entrar numa realidade completamente distinta da nossa — e bastam as férias de Natal para o fazer. Este itinerário percorre as Kasbah (casas fortificadas marroquinas) à porta do deserto do Sahara. “Mais vale apanhar frio do que calor”, atira Cadilhe, que assegura que para esta viagem não é preciso grande planeamento.

Depois de ter visitado muitos países árabes e conhecido muitos povos, sei que nós, os portugueses, somos mesmos privilegiados pelo lugar onde vivemos. Um dos motivos desse privilégio é termos Marrocos aqui tão perto.

Gonçalo Cadilhe, O Esplendor do Mundo