Nem sempre há unanimidade na escolha do melhor jogador. Tantas vezes o “melhor” é quem golos faz – ou quem, na baliza, os golos evita. Curiosamente, neste Benfica-Estoril, o melhor até foi, talvez, o da equipa que no final perdeu: Lucas Evangelista. Mas foi-o par a par com Krovinovic do Benfica. O primeiro veste a camisola 17 e o segundo a 20. Mas são um “dez”, ponto final, vistam que camisola vestirem.

Sim, e adaptando a célebre citação de Twain, as notícias sobre a morte do “dez” são manifestamente exageradas.

Não há unanimidade quando os dois são diferentes, bem diferentes (para melhor) dos que em volta deles estão. Quando a bola assenta (e assenta sempre, nunca se escapa) na bota esquerda de Evagelista, na direita de Krovinovic, não tarda lá muito tempo: há sempre um drible, um passe, um remate, sempre prontos, sempre precisos, a seguir. E o tempo no cronómetro, que tantas vezes segue lento, enfadonho, como que se acelera com eles. Tudo acelera. E tudo é belo.

Evangelista (que até está emprestado pela Udinese aos estorilistas) não tarda vai explanar o talento para outras paragens. Krovinovic, esse, podia tê-lo explanado em paragens europeias – e tanta falta fez ao Benfica na Champions – e não explanou.

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Benfica-Estoril, 3-1

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Benfica: Bruno Varela; André Almeida, Luisão, Jardel e Grimaldo; Fejsa (Samaris, 70’), Pizzi e Krovinovic; Salvio (Rafa, 79’), Cervi e Jonas (Jiménez, 84’)

Suplentes não utilizados: Paulo Lopes, Keaton Parks, João Carvalho e Seferovic

Treinador: Rui Vitória

Estoril: Moreira; Fernando Fonseca, Pedro Monteiro, Halliche e Joel Ferreira; Kyriakou, Lucas Evangelista e André Claro (Eduardo Teixeira, 70’); Aylton Boa Morte (Jorman Aguilar, 82’), Allano (Abner, 61’) e Kléber

Suplentes não utilizados: Luís Ribeiro, Duarte Valente, Wesley e Bruno Gomes

Treinador: Ivo Vieira

Golos: Salvio (13’), Jonas (18’), Kléber (45’) e Krovinovic (59’)

Ação disciplinar: Cartão amarelo para Halliche (18’), Kléber (69’), André Almeida (81’), Luisão (86”) e Jardel (91′)

O Estoril é último da tabela. E sofre golos como nenhum outro clube da tabela. Cedo se percebeu porquê. E cedo o Benfica soube como aproveitar as debilidades defensivas dos visitantes.

O problema está na “manta”, que é curta. Este Estoril de Vieira (mais até que o do treinador anterior, Pedro Emanuel) quer, a bem da qualidade do jogo – e elogie-se isso! –, pressionar alto, logo à saída da defensiva contrária, pressionar quem transportar a bola, quer recuperá-la e, mais do que a ter, fazê-la chegar à área, rematar. Mas tanto o Estoril se “estica” na frente… que acaba surpreendido atrás, em contra-pé. Foi assim nos primeiros dois golos do Benfica – que até podiam ter sido três quase de enfiada.

Logo ao minuto 13, atacava o Estoril, a bola foi cruzada, longa e sem critério, para a grande área do Benfica, é cortada depois por Luisão e chegou a Krovinovic. O croata correu, correu, correu, meio-campo fora, ninguém o travou no slalom, até que, por fim, desmarcou Cervi nas costas da defesa do Estoril. Chegado à área visitante, Cervi cruzou, Joel Ferreira ainda toca de raspão na bola mas não impediu que esta chegasse a Salvio — que desviou, só com Moreira pela frente, para o primeiro golo da tarde.

Dois minutos depois, Pizzi, num passe com régua e esquadro gizado a trinta metros, isolou Salvio – a defesa do Estoril, uma vez mais, subiu e não soube recuar a tempo. Só com Moreira pela frente, este atrapalhou-se e “entregou” a bola ao guarda-redes do Estoril.

Passado o susto, nada o Estoril aprendeu com ele e o segundo golo chegaria mesmo. Foi ao minuto 18. O Benfica continuava, em contra-ataque, em transições velozes, a desmontar a defesa do Estoril, sempre à procura da profundidade nas costas desta. Agora, Krovinovic isolou Salvio na direita, o argentino cruzou para a pequena área e Jonas, sem oposição, desviou para o segundo. O árbitro João Pinheiro esperou a indicação do vídeo-árbitro para saber se havia ou não fora-de-jogo de Salvio, só depois validando o golo. Foi o 16.º de Jonas, ele que ainda não ficou em “branco” num jogo na Luz esta época.

Moreira ainda não havia feito qualquer defesa. Bruno Varela fez a primeira. Foi ao minuto 36. Ainda distante da grande área, Lucas Evangelista arriscou o remate. Forte, fortíssimo, só à segunda o guarda-fedes do Benfica o defendeu. Quase deu “frango”.

Lucas haveria de estar no golo do Estoril, mesmo em cima do “gongo”. O cruzamento à esquerda, tenso, “rendondinho”, é dele – e é meio golo. Na grande área, a saltar sem oposição entre Luisão e Jardel, Kléber “fuzilou” (há quem não tenha na melhor bota a força que o brasileiro teve a cabecear) autenticamente Varela. É o quinto golo de Kléber ao Benfica desde que chegou a Portugal, em 2009. Ele, Kléber, que não sabia o que era isso de marcar há longos 765 minutos. O último golo foi em setembro. Curiosamente, foi também o último do Estoril no campeonato.

Logo após o intervalo, não só o Estoril chegou mais expedito e perigoso do descanso, como não mais permitiu que o Benfica aproveitasse o espaço nas costas da defesa. Como? Recuando-a. E recuando o meio-campo para próximo desta – mas sem nunca, apesar disso, deixar de pressionar e tentar o remate, acabando mesmo o encontro com mais tentativas (pouco perigosas, é certo) do que o Benfica.

No primeiro minuto após o recomeço, André Claro sobe pela direita, encontra Lucas Evangelista mais ao centro, à entrada da área, e o brasileiro (sempre ele!) remata prontamente de canhota. Varela estica-se todo e evita o empate. É uma defesa espantosa do guarda-redes do Benfica, daquelas que fazem uma fotografia para emoldurar.

Sem espaço na defesa adversária como anteriormente tivera, escasseavam ideias ao Benfica para chegar à baliza. Logo Krovinovic trataria de resolver isso, ao minuto 59. À entrada da área, com uma “muralha” à sua frente e sem nesga de espaço, Krovinovic ameaça rematar de pé esquerdo — o “cego”, ou menos bom, do croata –, não remata, simula, o Estoril “cai” na simulação e Krovinovic entrega a bola mais à esquerda, em Cervi. O argentino cruza recuado, Krovinovic já havia entretanto chegado à área e desvia para o terceiro. Foi o primeiro do croata na prova esta época.

O Estoril ainda tentou reduzir. Foi ao minuto 67. E reduziu mesmo.

Abner cruza à esquerda para a grande área, Grimaldo corta na direção da própria baliza e Varela, surpreendido, defende para a frente. Na recarga, Kléber desvia para dentro da baliza. Mas não contou. João Pinheiro consultou o VAR e, na repetição, é visível que o desvio do brasileiro é com o braço esquerdo. Kléber viu cartão amarelo e o golo não foi validado.

No último de três minutos de tempo extra, canto à esquerda, bate-o Eduardo Teixeira e corta a defesa do Benfica. Insistiu o Estoril, cruzou novamente para a grande área Jormán Aguilar, amorteceu de cabeça Halliche, rematando depois Lucas Evangelista de primeira. O remate saiu ao lado, pouco ao lado do alvo.

O Estoril, mais na segunda parte do que na primeira, incomodou na Luz. Mas o início vertiginoso do Benfica valeu os três pontos.