O deputado do PSD Ricardo Baptista Leite já não vai assumir as funções de vice-presidente da associação Raríssimas, cargo para o qual tinha sido convidado e que se preparava para começar a desempenhar. “Não existem, naturalmente, condições e informarei o presidente da Assembleia Geral disso mesmo”, diz ao Observador.

O convite feito por Paula Brito e Costa, presidente da associação, tinha recebido resposta positiva do deputado há cerca de duas semanas. Nesse momento, diz Baptista Leite, o deputado ainda não tinha qualquer indício de eventuais irregularidades na gestão da Raríssimas — uma Instituição Particular de Solidariedade Social que apoia pessoas com doenças raras. No final da semana passada, a “preocupação” instalou-se com a reportagem da TVI em que se dá conta de que a presidente estaria a usufruir de dinheiro da instituição em benefício próprio – comprando roupas, usando carros de alta gama, entre outros gastos.

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A informação caiu como uma bomba e, se num primeiro momento, o deputado do PSD não concretizou que decisão tomaria quanto ao cargo – teria de “ponderar”, disse este domingo ao Observador –, agora a posição é clara:

Não existem, naturalmente, condições e informarei o presidente da Assembleia Geral” dessa indisponibilidade para integrar a direção, diz Baptista Leite ao Observador.

Essa nota seguirá por carta, dirigida ao presidente da asssembleia-geral da Raríssimas, Paulo Pitta e Cunha. Baptista Leite diz-se “preocupado” com a forma como a instituição estava a ser gerida e, como associado, exige mais respostas. “Exijo o cabal esclarecimento de todos os factos apurados”, considera o social-democrata, defendendo uma “clara auditoria de toda a associação, por parte de uma entidade idónea, para que os doentes não sejam prejudicados”.

Quando aceitou o convite de Paula Brito e Costa, o deputado fê-lo “fruto da missão da Raríssimas, no trabalho de apoio a pessoas com doenças raras”. Foi através de um contacto da própria presidente que Baptista Leite foi “informado de que havia duas vagas na direção” e que a presidente o convidava para integrar a função de vice-presidente. “Foi dito com tanta naturalidade que nem questionei” a razão para a existência das vagas. O social-democrata deveria, na verdade, assumir as funções da anterior vice-presidente, que se demitiu este verão.

Baptista Leite fez questão de assumir a vice-presidência sem qualquer remuneração atribuída. “Acompanho o trabalho da Raríssimas há alguns anos e quis deixar isso claro desde o início”, diz ao Observador. O deputado admite que “também havia um capital de confiança nas pessoas da Raríssimas e na própria pessoa que me convidou”. Um capital que se perdeu com a reportagem da TVI e que o levou a decidir não assumir funções na direção.

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Agora, “paira um manto de suspeição sobre potenciais atos ilícitos” sobre a Raríssimas e a preocupação de Baptista Leite recai sobre as “centenas de crianças que dependem do trabalho da instituição”. É expectável que, em função das notícias sobre a forma como a Raríssimas estaria a ser gerida, os contributos – fonte fundamental de financiamento da instituição – diminuam. O social-democrata espera que, “pela dimensão da missão, havendo mudanças no corpo gestor da Raríssimas, se possa recuperar a confiança perdida”. “Os profissionais que ali trabalham parecem ser pessoas claramente acima destas questões de gestão”, considera Ricardo Baptista Leite.