O casamento de Le Corbusier com a modelo Yvonne Gallis era atribulado. Um ano antes de casar com a estrela do Mónaco, o arquiteto que assinou a famosa Capela Notre-Dame-du-Haut tinha tido um caso picante com Josephine Baker, a estrela afro-americana também conhecida por Pérola Negra e Deusa Crioula. Depois do casamento, o romance entre Yvonne e Le Corbusier continuou atribulado: nem o arquiteto abdicou das traições constantes e descaradas, nem Yvonne desistiu da personalidade vincada que a caracterizava. Quando Le Corbusier mandou construir um duplex todo de vidro por cima do apartamento onde viviam em Paris, a modelo disse-lhe: “Esta luz está a matar-me, dá comigo em doida”. E a seguir cobriu o bidé que tinham ao lado da cama com um abafador de chá em tricot.

Mas Le Corbusier e Yvonne Gallis amavam-se profundamente. O arquiteto está por detrás de algumas das revoluções mais importantes da arquitetura e assina obras tão famosas como a sede das Nações Unidas, o convento de Santa Maria de La Tourette ou o Museu Nacional de Arte Ocidental em Tóquio. Mas o conceito de amor e uma cabana também fez o seu legado sobreviver até agora: o seu Still Cabanon. Tudo porque, em 1952, cinco anos antes de Yvonne ter morrido, Le Corbusier construiu uma casa de madeira em Roquebrune (Cap-Martin), na Riviera Francesa, onde há muito tempo o casal passava férias em agosto e setembro para aproveitar os ares do mar Mediterrâneo.

O Cabanon não era sequer exemplo da magnificência dos edifícios que Le Corbusier criou ao longo dos anos: era uma cabana minúscula. “Tenho um castelo na Costa Azul que tem 3,66 metros por 3,66 metros. Fi-lo para a minha mulher e é um lugar extravagante de conforto e gentileza. Está localizada em Roquebrune, num caminho que chega quase ao mar. Uma porta minúscula, uma escada exígua e o acesso a uma cabana incrustada debaixo dos vinhedos. Só mesmo o sítio é que é grandioso, um golfo soberbo com falésias abruptas”, descreveu o próprio. O “castelo” de Le Corbusier é agora Património Mundial da Humanidade da UNESCO.

Le Corbusier morreu em 1965 e foi enterrado ao lado da mãe, de quem era muito próximo e que morrera cinco anos antes. Passou-se mais de meio século. Agora, o Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, produzida pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e co-organizado com a Câmara Municipal e a Universidade de Coimbra, quis saber o que os grandes nomes da arquitetura têm para acrescentar ao conceito criado por Le Corbusier. Para tal, pediram a 16 artistas portugueses que partissem do Cabanon do arquiteto francês e criassem os seus próprios “castelos”. Estão todos em exposição até 30 de dezembro no Museu Municipal de Coimbra (Edifício do Chiado) de terça-feira a domingo das 10h às 18h. A entrada é livre.

Por enquanto, pode ver as ideias dos 16 arquitetos na fotogaleria.

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