A onda de acusações de assédio sexual abalou os Estados Unidos. Harvey Weinstein, Kevin Spacey e Dustin Hoffman são os nomes mais sonantes de um escândalo de décadas – mal escondido nos corredores de Hollywood. Mas parece que a conduta imprópria não é exclusiva dos norte-americanos. Em Bollywood, na Índia, a maior produtora de filmes do mundo, o assédio sexual também é uma história antiga.

Reena Saini e Swara Bhaskar são duas jovens atrizes de Bollywood. Mas antes de chegarem ao topo do cinema indiano, passaram por castings, reuniões e encontros com realizadores. O The Guardian ouviu as histórias das duas mulheres e pintou um cenário que já vimos noutro lado.

Reena conta que, com 26 anos, foi apalpada por um realizador no carro dele – enquanto o sobrinho menor do cineasta seguia no banco de trás. O carro parou num semáforo e a rapariga fugiu. Sohan Thakur, o realizador telefonou-lhe de imediato: “Se contares isto a alguém, vais ser tu contra a indústria. As pessoas não te vão ver como a boa menina”, disse. Contou. Foi processada por difamação.

Já Swara é agora uma atriz sem nada a provar, vencedora de diversos prémios e um verdadeiro ícone do cinema indiano. Mas quando integrou o seu primeiro filme, o realizador enviava-lhe centenas de mensagens por dia. Pedia encontros a dois, dizia que tinha de se apaixonar pela personagem dela e queria insistentemente discutir uma cena de sexo.

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Foi quando percebi porque é que antigamente as atrizes costumavam levar as mães para as gravações”, afirma Swara Bhaskar.

As duas atrizes apresentam testemunhos de uma cultura misógina e sexista, em que, tal como diz Swara Bhaskar, “dizem-nos que existem 10 mil raparigas para um papel, o que é que é suposto fazermos?”. O “sofá do casting”, como lhe chamam, não é um problema novo e é o segredo mal escondido de Bollywood.

“Já perdi papéis. Eu sei que há realizadores que não me ligam porque eu não entro neste tipo de relações”, diz Swara Bhaskar.