A ONU elevou esta quinta-feira para 655 mil o número de rohingyas que fugiram de Myanmar em direção ao Bangladesh desde o início do atual êxodo em massa dos membros desta minoria muçulmana, em agosto passado.
Este número, relativo a dados recolhidos até 13 de dezembro, representa um aumento de 9 mil refugiados em comparação com o último balanço fornecido (646 mil), datado de 8 de dezembro, indicou um relatório do Grupo de Coordenação Intersetorial da ONU.
O aumento do número de rohingyas, segundo especificou o documento, não se deve “a um crescimento significativo do número de refugiados chegados à fronteira”, mas sim à utilização de uma nova fórmula matemática para calcular estimativas.
A par dos 655 mil rohingyas chegados ao Bangladesh desde o passado dia 25 de agosto, este país vizinho já era refúgio para outros 212.500 rohingyas, que fugiram de Myanmar em anteriores êxodos.
Em termos totais, os membros desta minoria muçulmana que estão em acampamentos precários no Bangladesh rondam os 789 mil. Outros 78 mil estão em comunidades de acolhimento, segundo o relatório do órgão da ONU.
O atual êxodo dos rohingyas teve início em agosto, quando foi lançada uma operação militar do exército de Myanmar contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.
Esta campanha de repressão do exército de Myanmar já foi classificada pela ONU como uma limpeza étnica e como uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.
O Estado de Myanmar, um país mais de 90% budista, não reconhece esta minoria e impõe múltiplas restrições aos rohingyas, nomeadamente a liberdade de movimentos.
Desde que a nacionalidade do país lhes foi retirada em 1982, os rohingyas têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).
Esta crise desencadeou uma vaga de críticas à líder de facto de Myanmar, Aung San Suu Kyi.
A Nobel da Paz (1991) foi acusada de ter esquecido os Direitos Humanos e de ter minimizado a situação denunciada pelas vítimas.
A organização Médicos Sem Fronteiras indicou esta quinta-feira que pelo menos 6.700 rohingyas, incluindo 730 crianças com menos de cinco anos, morreram durante o primeiro mês da campanha de repressão das forças de Myanmar, entre 25 de agosto e 25 de setembro.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUR) afirma que há indícios de “genocídio”.