“Roda Gigante”

Kate Winslet interpreta (magnificamente) uma parente emocional e psicológica da Blanche DuBois de “Um Eléctrico Chamado Desejo” neste filme de Woody Allen, um dos seus melhores recentes, passado nos anos 50 em Coney Island, à sombra da roda gigante do título, e uma espécie de anti-“Os Dias da Rádio”. Winslet é Ginny, uma actriz frustrada, com um filho de um primeiro casamento, reduzida a trabalhar como criada de mesa numa marisqueira, enquanto o segundo marido (Jim Belushi), bom tipo mas brutinho, opera um carrossel. Ginny engana-o com um estudante universitário algo aéreo e aspirante a dramaturgo, Mickey (Justin Timberlake, surpreendentemente bem) que tem um emprego de Verão como salva-vidas. Quando Caroline (Juno Temple), filha de uma anterior relação do marido, casada com um mafioso e em fuga deste, lhes pede abrigo e começa a interessar-se por Mickey, Ginny começa a ver o caso mal parado.

Soberbamente fotografado por Vittorio Storaro, tal como o anterior filme de Allen, a comédia hollywoodesca “Café Society”, este “Roda Gigante” é nostálgico só á primeira vista e tem a luxuriante identidade cinematográfica dos melodramas dos anos 50, dando a impressão (errada) de ser “teatral” (também por causa das referências a autores como Chekhov ou Eugene O’Neill, que não estão lá por acaso). Mas a fita é na verdade de uma grande e complexa elaboração visual, e Woody Allen chega a mudar as cores dentro de um mesmo plano, para criar correspondências com os estados emocionais e psicológicos das personagens, em especial da insatisfeita, egocêntrica e instável Ginny. Passado em pleno Verão novaiorquino, “Roda Gigante” é um dos bons filmes que pode ver nesta fria e chuvosa quadra natalícia.

“A Liberdade do Diabo”

Um documentário do mexicano Everardo González sobre o narcotráfico no seu país, aqui abordado de uma maneira tão anti-convencional como perturbadora. González foi recolher depoimentos de vítimas e familiares destas, de assassinos e traficantes arrependidos, e de polícias e militares envolvidos (nem sempre da melhor maneira) no combate contra a droga no seu país, fazendo-os usar todos uma máscara que os protege de uma eventual identificação, mas também sugere pessoas vítimas de queimaduras, disformidades ou ainda personagens saídas de um filme de terror. O conjunto destes testemunhos, entrecortados aqui e ali por imagens de campo, dá origem a um retrato arrepiante da amplitude, das consequências e da brutalidade cega, impiedosa, do flagelo do narcotráfico no México. Um filme que vale mais que 100 reportagens televisivas “dramáticas”.

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“Star Wars: Episódio VIII — Os Últimos Jedi”

Substituindo J.J. Abrams, autor do anterior “O Despertar da Força” e agora só produtor, Rian Johnson é o argumentista e o realizador do segundo filme da terceira trilogia de “Star Wars”, que se divide entre dois grandes centros de atenção, um no espaço sideral, outro na terra, e é dedicado à desaparecida Carrie Fisher. A grande novidade é o regresso á ribalta de Luke Skywalker (Mark Hamill), que a jovem Rey (Daisy Miller) conseguiu localizar num ilha de um planeta remoto, vivendo como num eremitério. Laura Dern e Benicio del Toro são duas das caras novas deste “Os Últimos Jedi”, bem como Kelly Marie Tran no papel de Rose, ligada à causa dos rebeldes, que continuam a enfrentar a Primeira Ordem. “Star Wars: Episódio VIII — Os Últimos Jedi” foi escolhido pelo Observador como filme da semana e pode ler a crítica aqui.