O Banco de Portugal está mais otimista sobre a evolução da economia portuguesa, antecipando mais crescimento este ano e no próximo, com o aumento do consumo e do investimento empresarial mais dinâmicos que o antecipado em outubro. A economia vai abrandar nos próximos anos, mas a retoma vai manter-se ancorada num crescimento robusto das exportações e na redução do desemprego para perto de 6% até 2020. Banco central avisa que há “fragilidades estruturais que não podem ser ignoradas”.

A instituição liderada por Carlos Costa atualizou as suas previsões para a economia portuguesa, com a publicação esta sexta-feira do Boletim Económico de dezembro, e apresenta agora previsões alinhadas com as do Governo para este ano – um crescimento do PIB de 2,6% – e ligeiramente mais positivas no próximo ano – a economia a crescer 2,3%, contra os 2,2% que o Governo prevê.

Em outubro, o Banco de Portugal antecipava que a economia crescesse 2,5%, menos uma décima do que o que espera agora, melhorando quase todas as componentes do crescimento, com exceção do consumo público que se estima agora que aumente este ano, mas de forma residual.

A procura interna terá sido chave para a atualização das previsões para este ano. O consumo privado deverá ser superior ao que se esperava há dois meses, com o consumo de bens duradouros ainda em expansão depois de as famílias terem adiado a renovação deste tipo de bens – como carros e eletrodomésticos – durante os anos mais duros da crise.

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Os gastos em bens não duradouros devem registar uma ligeira descida, resultado do abrandamento do turismo na parte final do ano, já que as famílias portuguesas devem continuar a gastar acima do que gastaram no ano passado.

O Banco de Portugal é também mais otimista face ao que previa em outubro, e ao que prevê o Governo, no que diz respeito ao desemprego. Segundo a instituição, a taxa de desemprego deve ficar abaixo dos 9% já este ano, em 8,9%, menos três décimas que o esperado pelo Executivo no Orçamento do Estado para 2018, e em 2018 deve cair para 7,8%, menos 0,8 pontos percentuais que o esperado pelo Governo.

Investimento e exportações conduzirão economia à retoma

Segundo o banco central, o crescimento da economia deverá abrandar já a partir do próximo ano, e mais ainda até 2020, mas com a economia a manter-se no caminho da recuperação e a convergir com a média da zona euro, ainda que a ritmos cada vez menores.

Depois do crescimento de 2,6% esperado este ano, a instituição prevê que a economia cresça 2,3% em 2018, abrande novamente para 1,9% em 2019 e volte a abrandar em 2020, registando na altura um crescimento de 1,7%.

Ainda assim, nas contas dos técnicos do banco central, a economia deverá chegar a 2020 com um PIB 4% superior ao que registava em 2008, antes de a crise financeira começar.

No Boletim Económico, a instituição liderada por Carlos Costa antecipa que a retoma se mantenha, tal como estava a acontecer em 2003, mas sem expetativa que seja interrompida agora, tal como o foi em 2008.

Para isto, as exportações deverão desempenhar um papel fundamental. “As exportações irão também manter um crescimento robusto no horizonte de projeção, explicado pela evolução da procura externa e pela estimativa de manutenção de ganhos de quota de mercado”, diz o relatório, que diz ainda que no final de 2020, as exportações deverão atingir um nível 68% superior aquele que se verificava em 2008, antes de a crise começar. Aqui, as exportações de turismo deverão dar um impulso fundamental, que se espera que continue a acontecer nos próximos anos.

Outro elemento fundamental é o investimento. Segundo o BdP, este é um dos elementos que mais diferencia a atual recuperação da economia daquela que estava a decorrer após 2003. A Formação Bruta de Capital Fixo (FCBF) deverá ser uma das componentes mais dinâmicas, mas o adiamento das decisões de investimento durante a crise ainda se fará sentir até ao final da década, com o banco central a estimar que, mesmo este elevado dinamismo, o investimento ainda fique 11% aquém do nível observado antes de a crise começar.

“Fragilidades estruturais não podem ser ignoradas”

As previsões são melhores, a retoma está mais orientada para as exportações e o setor de bens e serviços transacionáveis, a economia está a crescer acima do potencial, mas há fragilidades que persistem e têm de ser resolvidas, aproveitando precisamente o bom momento da economia, avisa o Banco de Portugal.

“Nos últimos anos, observou-se uma reafectação crescente de recursos para o setor dos bens e serviços transacionáveis, que se repercutiu num aumento do crescimento potencial da economia portuguesa. No entanto, permanecem fragilidades estruturais que não podem ser ignoradas”, diz a instituição.

Estas fragilidades, argumenta o banco, impedem a economia de convergir mais rapidamente com a zona euro, devendo o Governo aproveitar a conjuntura favorável para corrigir estes desequilíbrios.

“O atual momento cíclico deve ser aproveitado para a correção dos grandes desequilíbrios macroeconómicos que permanecem, nomeadamente para a redução do endividamento público e privado. O investimento deve ser crescentemente dirigi- do para áreas que permitam aumentar o produto potencial, através do aumento dos níveis de capital por trabalhador e de uma melhor afetação de recursos”, acrescenta.

O Banco de Portugal está ainda preocupado com a elevada percentagem de trabalhadores que se encontram numa situação de desemprego de longa duração, e relativamente à sua difícil incorporação no mercado de trabalho e diz que esta questão, juntamente com o problema demográfico que a economia portuguesa enfrenta – com um saldo migratório negativo atualmente – devem ser analisados e enfrentados com um abordagem integrada.