O Ministério das Finanças destaca o caráter inédito da subida em dois escalões da nota da dívida portuguesa por parte da agência Fitch. A agência de notação elevou a classificação da dívida portuguesa do BB+, que correspondia a um nível especulativo ou lixo, para BBB. Com esta decisão, a Fitch segue os passos dados pela Standard & Poor’s que retirou a dívida de Portugal do lixo em setembro deste ano. Espera-se que a Moody’s faça o mesmo no início do próximo ano.

“Nunca antes uma das três principais agências de rating tinha decidido, num só momento, aumentar em dois escalões a avaliação da dívida soberana portuguesa”, refere um comunicado do Ministério das Finanças. A classificação, acrescenta, “reflete o trajeto de controlo da despesa pública e de melhoria da balança corrente. É o reconhecimento das opções de política económica do Governo”.

O Ministério das Finanças justifica a “magnitude sem precedentes desta reavaliação” com a viragem estrutural que aconteceu em áreas descritas como chave: o crescimento económico, criação de emprego, fortalecimento da banca, cumprimento das metas orçamentais e a “sustentável redução” da dívida pública.

Esta decisão, sublinha ainda, coloca a dívida soberana portuguesa em grau de investimento, o que alarga a base de potenciais compradores da dívida, favorecendo as condições de financiamento do Estado, mas também as condições financeiras das empresas e das famílias.

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Realçando o percurso “valorizado por agentes institucionais e privados”, o Governo reafirma o compromisso de prosseguir aposta na sustentabilidade da consolidação orçamental combinada com um “crescimento inclusivo”.

Mário Centeno: Portugal entra numa “liga mais relevante”

O ministro das Finanças, Mário Centeno, afirmou esta quinta-feira à agência Lusa que a melhoria do ‘rating’ da dívida portuguesa pela Fitch é uma “boa notícia” para a economia e que faz com que Portugal entre “numa liga mais relevante”.

“Naturalmente são boas notícias para a economia portuguesa […]. Pela primeira vez com a dívida pública portuguesa uma das três principais agências sobe em dois escalões a sua avaliação”, disse Mário Centeno à agência Lusa.

Para o ministro das Finanças, a “dívida portuguesa hoje passou mais um teste na classificação e entrou numa liga mais relevante”, considerando que a redução de custos de financiamento, já verificada desde que a Standard and Poor’s (S&P) colocou Portugal num nível de investimento, em setembro passado, “vai acelerar nos próximos tempos”

Além disso, o recém-eleito presidente do Eurogrupo admitiu que no próximo ano também a Moody’s venha a rever em alta o ‘rating’ atribuído a Portugal: “Há decisões que vão ser tomadas no futuro por outras agências que, com uma enorme probabilidade, seguirão a mesma trajetória” da S&P e da Fitch, disse.

“Nós temos vindo a fazer um trajeto de grande credibilidade junto dos portugueses, dos mercados internacionais e das instituições internacionais e esta decisão de hoje dá-nos uma certo alento para continuar neste trajeto de condições”, considerou o governante português.

Mário Centeno disse que estas notícias positivas são “para aproveitar”, sobretudo porque são “uma consequência positiva do esforço”, mas salientou que o caminho de sustentabilidade é para manter.

Para o governante, a trajetória “é para manter” e é preciso que “todas as decisões [orçamentais] sejam implementadas num contexto de estabilidade que compete ao ministro das Finanças garantir”.

“Todos temos de ter a consciência de que isto é um processo muito longo, que vai seguramente trazer o país para níveis de prosperidade que, com sustentabilidade, todos desejamos e é esse o espírito que temos de almejar: mais, mas na mesma direção”, avisou.

Questionado sobre os alertas do Fitch, sobretudo quanto à dívida pública ainda elevada e ao persistente nível de crédito malparado, o ministro das Finanças disse que essas são notas que devem servir de orientação no futuro, mas preferiu destacar os progressos alcançados.

“Temos alguns legados ainda no setor financeiro sobre a forma, por exemplo, de empréstimos cujas empresas que os pediram têm dificuldades em cumprir, [mas] temos feito um grande progresso. No último ano o rácio desses empréstimos sobre o crédito total diminuiu de forma significativa e nós acreditamos que isto também é reflexo do bom momento económico, da maior capitalização das empresas e da maior facilidade com que os bancos lidam com estes empréstimos”, disse.

Marcelo destaca “subida excecional”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mostrou-se esta quinta-feira satisfeito com a notícia de que a agência financeira Fitch aumentou em dois patamares o ‘rating’ atribuído à dívida pública portuguesa, destacando a “subida excecional”.

Ainda assim, o chefe de Estado avisou que, agora, “a responsabilidade é maior” e que é preciso “continuar a trabalhar”, falando aos jornalistas à margem do Conselho de Fundadores de Serralves, no Porto.

“[Reforça], sem dúvida, a credibilidade do país, dos responsáveis políticos e daquilo que é uma linha de orientação política portuguesa. A figura de Portugal sai reforçada e todos aqueles que trabalharam para este resultado. Começou no Governo anterior, mas temos de reconhecer que este governo fez uma obra, em termos financeiros, que agora é reconhecida”, sublinhou o Presidente.

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que “não é caso para euforias, mas é caso para satisfação”, explicando que este resultado “é o reconhecimento pelos mercados internacionais daquilo que é o mérito dos portugueses ao longo destes anos e daquilo que é uma política certeira em termos de controlo, primeiro do défice e depois da dívida pública”.

“Devemos estar satisfeitos, os portugueses merecem esta decisão, mas, naturalmente, é preciso continuar o caminho. É preciso continuar sem euforias, com trabalho, mas com a alegria de dever cumprido”, referiu o Presidente da República.

Assunção Cristas saúda subida e recorda reforma laboral do anterior Governo

A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, defendeu esta quinta-feira que a “notícia boa” de subida de notação a Portugal pela agência Fitch “também se deve, e muito”, à reforma laboral do anterior Governo.

“Se temos mais uma revisão em alta por uma agência de ‘rating’, que nos permite entrar em índices relevantes para o país, se temos um desemprego a decrescer, se temos emprego a ser criado, isso também se deve, e muito, à reforma laboral feita pelo anterior Governo, que, aí sim, António Costa tem sabido preservar”, defendeu Assunção Cristas.

Assunção Cristas mostrou-se convencida de que, com outro Governo e “outra orientação”, Portugal teria “chegado lá mais rápido”, saudando, contudo, que se tenha vindo a instalar “uma certa normalidade nessa matéria”, que não deve sossegar o CDS, mas torná-lo mais exigente.

A líder centrista, que discursiva no jantar de Natal da concelhia de Lisboa do CDS-PP, desafiou o primeiro-ministro a “continuar a preservar esse legado” da reforma laboral do anterior Governo, apesar dos apelos do BE e do PCP por uma revisão da legislação laboral.

Assunção Cristas sublinhou que a subida de ‘rating’ comporta um “sentido de dever de felicitação dos portugueses”.

“Se há hoje uma notícia positiva em matéria de revisão do ‘rating’ por mais uma agência, isso significa que houve muitos portugueses a fazer um esforço muito grande para ajudarem o país a sair da bancarrota socialista”, concluiu.