Os chilenos voltam este domingo às urnas para eleger o Presidente, numa segunda volta em que estará ao rubro o duelo entre a direita, que apresenta como candidato Sebástián Piñera, e a nova esquerda, com o surpreendente Alejandro Guillier.

Na primeira volta das presidenciais, em que apenas 47% dos eleitores chilenos participaram, o bilionário Piñera, Presidente do Chile entre 2011 e 2014, foi o candidato mais votado (36,6%), mas a diferença para o jornalista e sociólogo Guillier (22,6%), sem militância em qualquer partido, ficou em 14 pontos percentuais.

Enquanto Piñela desiludiu todos os que acreditavam que ganharia a primeira volta com uma margem folgada, Guillier garantiu a presença nas eleições de domingo contrariando todas as sondagens, algumas consideradas por alguns setores de terem sido elaboradas em benefício do ex-Presidente, de 68 anos.

Com a indicação invariável da maioria dos votos sobre Guillier, as sondagens que antecederam as eleições de 19 de novembro davam a vitória a Piñela, que esperava um resultado perto dos 45%, mas, contra as expetativas de muitos analistas, a esquerda surpreendeu.

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Se a abstenção é o pior inimigo dos dois candidatos, Piñela terá ainda de contar no domingo com a nova frente de esquerda, não só a candidatura de Guillier, de 64 anos, como a Frente Ampla, que apresentou como candidata presidencial a jornalista Beatriz Sánchez, em novembro.

As sondagens para a primeira volta não deram mais de 8% das intenções de voto a Beatriz Sánchez, porém a candidata do grupo de esquerda, liderado por alguns protagonistas da revolução estudantil de 2011, registou 20,4% e ficou a curta distância de Guillier.

Para hoje, analistas políticos acreditam que os votos de Beatriz Sánchez na primeira volta tendem a ser direcionados para Guillier, não só por ser o candidato da esquerda, como para evitar a vitória do conservador Piñela, que defende os valores da família e do humanismo cristão.

Por outro lado, a interpretação de que a votação na primeira volta demonstrou um desejo de continuação da renovação no país sul-americano iniciada há quatro anos, com Michelle Bachelet, do centro-esquerda, a ser eleita Presidente.

É expectável que Piñela possa ganhar votos da extrema-direita de José António Kast, um ultraconservador que defende o legado do antigo ditador Augusto Pinochet, o que permitiria reunir entre 40 a 45% do universo de votos de cerca de 14 milhões de chilenos.

As sondagens revelam uma pequena vantagem de Piñela sobre Guillier, que poderá beneficiar dos votos da Democracia Cristã, que, pela primeira vez, submeteu a sufrágio em novembro um candidato próprio, Carolina Goic, que obteve 6% dos votos.

A Democracia Cristã, que assumiu ter obtido um péssimo resultado na primeira volta das presidenciais, dificilmente apoiará Piñela, porque o partido sempre esteve distante da direita.

A verdade é que promete ser muito renhida a segunda volta das eleições presidenciais de hoje e Piñela e Guillier têm o pior inimigo: a abstenção, que tem vindo a subir desde 1993, mais acentuadamente a partir de 2012, quando o voto passou de obrigatório a voluntário.