Pragmático no campo, pragmático nas palavras. Desde que assumiu o comando técnico do Marítimo, Daniel Ramos tem levado os insulares à consolidação do estatuto de crónico candidato à Europa mas com uma impressão digital diferente daquela que tinha nos anos 90: há duas décadas, a equipa destacava-se pelo que fazia no ataque (quem não se lembra daqueles golos do canadiano Alex, do brasileiro Edmilson ou do internacional português Paulo Alves?); agora, dá nas vistas pela forma como sabe defender. E era esse o grande obstáculo entre o FC Porto e a liderança: superar aquela que entrou nesta 15.ª jornada como a quarta melhor defesa, com dez golos consentidos.

Ficha de jogo

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FC Porto-Marítimo, 3-1

15.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

FC Porto: José Sá; Maxi Pereira (Corona, 63′), Diego Reyes, Marcano, Alex Telles; Danilo Pereira, Herrera; Ricardo Pereira, Brahimi (André André, 83′), Marega e Aboubakar (Soares, 70′)

Suplentes não utilizados: Casillas, Felipe, Óliver Torres e Hernâni

Treinador: Sérgio Conceição

Marítimo: Charles; Bebeto, Zainadine, Drausio, Diney, Fábio China; Fábio Pacheco, Gamboa, Jean Cléber (Éber Bessa, 87′); Everton (Filipe Oliveira, 64′) e Ricardo Valente (Rodrigo Pinho, 70′)

Suplentes não utilizados: Abedzadeh, Ibson Melo, Edgar Costa e Luís Martins

Treinador: Daniel Ramos

Golos: Diego Reyes (19′), Fábio Pacheco (26′) e Marega (45+1′ e 78′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Fábio China (33′), Gamboa (37′ e 39′) e Aboubakar (65′); cartão vermelho por acumulação a Gamboa (39′)

Foi isso que Daniel Ramos assumiu antes do jogo: que um empate já seria um bom resultado, que a equipa teria de defender mais, que se pudesse jogava com mais quatro defesas para tentar travar o ataque azul e branco. Foi honesto e admitiu ao que ia, algo que os jogadores insulares interpretaram da melhor forma. Pelo menos até planearem um assalto, conseguirem roubar a principal arma do FC Porto (os espaços sem bola) e darem um tiro no pé que apenas facilitou a missão dos comandados de Sérgio Conceição, que andavam à procura da melhor forma de irem à baliza e criarem o habitual número de oportunidades.

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Com os Pereiras (Maxi e Ricardo) de novo a fazer dupla na direita e Brahimi de regresso ao onze após o descanso, o primeiro remate do encontro pertenceu ao marroquino, de fora da área, e apenas aos 11′. Pouco depois, Ricardo ainda obrigou Charles a uma defesa mais apertada, mas eram notórias as dificuldades dos dragões para contrariar a “equipa harmónio” dos maritimistas, que andava no campo muito compacta a 20/30 metros com três centrais bem definidos e laterais a fazerem os corredores. Por isso, foi de bola parada que acabou por chegar o primeiro golo: Diego Reyes, que voltou a deixar Felipe no banco, aproveitou um canto na esquerda de Alex Telles com o arco contrário ao que é normal para subir mais alto na pequena área e marcar o primeiro golo no FC Porto (19′).

Pensava-se, até pela incapacidade do Marítimo em chegar à frente, que a vantagem poderia colocar o jogo mais a jeito dos portistas, mas a verdade é que a eficácia acabou por imperar e, na primeira vez em que chegaram à baliza de José Sá, os insulares conseguiram mesmo chegar ao empate: grande jogada de Ricardo Valente, remate forte para defesa do número 12 azul e branco, assistência de Fábio China e remate na passada de Fábio Pacheco, que sofreu ainda um desvio em Reyes que enganou o guardião visitado (26′).

Voltava tudo à estaca zero num jogo que contrariava as estatísticas: aos 33′, o Marítimo tinha apenas quatro ataques e três remates, mas o FC Porto, com muito mais bola, muito mais iniciativa e muito mais domínio territorial, continua a sentir muitas dificuldades em entrar na defesa insular, fosse pelas movimentações dos dois avançados, fosse pelo jogo interior dos alas, fosse pelas entradas dos médios centro no último terço. E tudo com uma grande dose de mérito do conjunto de Daniel Ramos, que propositadamente abdicou da bola para retirar aos dragões os espaços que lhe são tão vantajosos para lançar as suas ofensivas e oportunidades de golo.

No entanto, tudo ruiu em apenas dois minutos: Gamboa, jovem médio que nunca tinha visto um vermelho na Primeira Liga, teve duas faltas imprudentes num curto lapso de tempo e foi expulso aos 39′, deixando o Marítimo em inferioridade e colocando a equipa muitas vezes desposicionada nos vários momentos defensivos, quer na pressão sobre o portador da bola, quer na inviabilização de linhas de passe no último terço. Aliás, foi assim, mesmo antes do intervalo, que Marega recolocou o FC Porto na frente: grande passe de Brahimi para as costas da defesa madeirense, diagonal do maliano a ganhar espaço para a finalização e míssil de pé esquerdo para o 2-1 (45+1′).

Havia alguma expetativa para se perceber até que ponto o Marítimo seria capaz de mudar o chip que trazia para esta partida e, com menos uma unidade, poder ainda discutir o resultado com o FC Porto. No entanto, não houve sequer hipótese de chegarmos a esse ponto porque, na verdade, assistimos a 45 minutos quase de sentido único com o comandados de Sérgio Conceição sempre à procura do terceiro golo que resolvesse a questão. E que, mesmo com a entrada de Corona para o lugar de Maxi Pereira, surgiria apenas no final do encontro.

Charles ainda foi adiando o inevitável, numa noite em que o FC Porto esteve uns furos abaixo do normal ou por desinspiração individual (Aboubakar foi exemplo paradigmático), ou por inépcia coletiva nas movimentações ofensivas e até, em alguns momentos, na primeira fase de construção. Ainda assim, num lance tirado a papel quimico do 2-1, Marega voltou a receber um passe de Brahimi após diagonal e fechou as contas aos 78′.

Contas feitas, perante um dos adversários que mais dificuldades colocaram à veia ofensiva da equipa, o FC Porto acabou por vencer de forma segura, recolocou-se na liderança com os mesmos pontos do Sporting (embora tenha vantagem na diferença de golos marcados e sofridos) e vai passar o Natal no primeiro lugar. E isso, como Sérgio Conceição fez questão de destacar no final da partida, é o mais importante após 15 jornadas da Liga. Mas se houve mérito na forma como os azuis e brancos fizeram o suficiente para ganhar, existiu grande dose de demérito por parte dos insulares que viram a sua estratégia ruir na expulsão desnecessária.