Exageros à parte, uma quarta-feira à noite em vésperas de Natal prometia contar com mais pessoas a entrar no parque de estacionamento do Colombo do que propriamente numa partida no estádio da Luz para a Taça da Liga CTT. Por acaso até não foi, porque houve mais de 20 mil espectadores, mas esse é o karma da terceira competição do futebol português, que por mais alterações de modelo ou patrocinador que possa fazer parece continuar a não despertar grande atenção por parte dos espectadores. Que se vê nas bancadas, que se ouve durante o jogo: do apito às indicações entre os jogadores em campo, tudo parece mais próximo. Daqui advém o principal elogio que se pode fazer a Benfica e Portimonense: resultado à parte (empate a dois golos), tentaram e conseguiram em grande parte dos 90 minutos proporcionar um jogo interessante de seguir.

Ficha de jogo

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Benfica-Portimonense, 2-2

2.ª jornada do grupo A da Taça da Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto)

Benfica: Svilar; André Almeida, Lisandro, Rúben Dias, Grimaldo; Samaris (Keaton Parks, 62′), Pizzi (Sefevoric, 81′), Krovinovic; Salvio, Zivkovic (Diogo Gonçalves, 63′) e Jonas

Suplentes não utilizados: Bruno Varela, Jardel, João Carvalho e Cervi

Treinador: Rui Vitória

Portimonense: Leo; Wilson Manafá, Jadson, Felipe, Inácio; Paulinho (Fabrício, 43′), Uri Rosell, Pedro Sá; Bruno Tabata (Ryuki, 74′), Wellington (Lumor, 69′) e Pires

Suplentes não utilizados: Carlos, Lucas, Dener e Ewerton

Treinador: Vítor Oliveira

Golos: Jonas (1′), Lisandro López (33′), Pires (47′) e Jadson (84′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Rosell (38′) e Inácio (66′)

No entanto, o que fica é uma crítica. E ao Benfica. Porque para escrever este texto é necessário separar as águas e falar de uma equipa até ao intervalo e de outra durante a segunda parte. Esta bipolaridade que faz com que as águias não ganhem dois jogos seguidos há mais de um mês não é normal. Ou será que achavam que a greve que está marcada pelos CTT para quinta e sexta-feira começava esta quarta a partir das 20h?

Melhor início não poderia haver: numa fantástica jogada coletiva que passou pelos três corredores sem que os algarvios cheirassem sequer a bola, Zivkovic lançou Grimaldo em progressão na esquerda, o lateral espanhol cruzou rasteiro atrasado para a área e Jonas, na passada, atirou de pé esquerdo sem hipóteses para Leo com apenas 52 segundos de jogo. O número 10 costuma marcar muito, agora juntou a isso o marcar rápido. Demasiado rápido: foi a primeira vez que o brasileiro festejou no minuto inicial, a quinta na carreira.

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O próprio Rui Vitória não disfarçou o seu espanto, esboçando um sorriso para o adjunto enquanto apontava para os ecrãs gigantes do estádio. Melhor início era impossível e o Benfica vinha com a corda toda, não aumentando a vantagem logo aos 12′ porque Pizzi, isolado, quis colocar tanto a bola que acertou nas malhas laterais (num lance que deixou dúvidas em relação ao posicionamento do médio). Pouco depois, foi a vez de Salvio apanhar uma bola a pingar na área para rematar em boa posição tão torto, tão torto que até parecia canto (26′).

No entanto, o Portimonense queria marcar uma posição. Aliás, o melhor elogio que se pode fazer ao conjunto de Vítor Oliveira é que, mesmo trocando mais de metade da equipa, manteve aquele ADN de jogo tão característico, com grande qualidade nas transições ofensivas e nas ações atacantes (na parte defensiva, a história já é outra). Assim, aos 27′, Bruno Tabata obrigou Svilar à primeira defesa apertada da noite numa saída após erro de Lisandro López. O argentino pediu desculpa, teve um corte providencial na área logo no minuto seguinte e foi depois à área contrária fazer o segundo golo: canto na direita de Pizzi e cabeceamento ao segundo poste (33′).

Até ao intervalo, o máximo que o Portimonense conseguiu foi acertar com uma bola na trave por Pires, num lance que tinha começado com uma grande defesa de Svilar (36′); contudo, ficava a ideia que o Benfica, quando acelerava um bocado, conseguia explorar as fragilidades da defesa algarvia e partia para mais um jogo convincente. Afinal, o que se passaria seria exatamente a ideia contrária. Quando nada nem ninguém poderia antever. E para isso não ajudou o golo de Pires a reduzir a desvantagem, na sequência de um livre lateral, logo aos 47′.

Exceção feita a um remate de Diogo Gonçalves, que entretanto tinha entrado para o lugar de Zivkovic, após um fabuloso passe picado de Jonas para as costas da defesa (aos 68′, a passar a rasar a trave), o Benfica desapareceu em termos ofensivos – houve mais um remate ao lado de Pizzi e outro à figura de Leo por Salvio – e foi começando a tremer do meio-campo para trás (não terá sido por acaso que Rui Vitória abdicou do experiente Samaris para lançar o jovem Keaton Parks). Não houve oportunidades flagrantes para os visitantes nesse período, mas o jogo que parecia resolvido estava mesmo aberto. E não ficou por aí.

No seguimento de mais uma bola parada, desta vez um canto da esquerda do ataque, Svilar voltou a ficar mal na fotografia ao defender uma bola para a frente (aos 72′ já se tinha descoordenado com Lisandro López, abrindo uma boa possibilidade de perigo para os alvinegros) e Jadson, que fazia apenas o segundo jogo da temporada, encostou à vontade na pequena área para o empate. Que, aí assim, despertou a primeira grande vaia da noite, só comparável à que se ouviu quando Manuel Oliveira deu o apito final que selou a igualdade no encontro. Que castigou uma série de erros sobretudo no plano defensivo, nas transições e nas bolas paradas, algo impensável se recuarmos um ano, por exemplo. E jogaram quase todos os titulares disponíveis…

“Acabámos a pagar a fatura desta sequência que tivemos, física e mentalmente intensos, mas os erros que cometemos condicionaram o desenrolar do jogo. Tínhamos o jogo controlado mas cometemos estes erros que são penalizadores. Os jogadores não querem cometer estes erros mas a vida é assim. Vamos refletir sobre termos o jogo controlado e não o termos materializado”, comentou Rui Vitória, assumindo essa bipolaridade do Benfica não só esta noite mas um pouco ao longo da temporada. E se é certo que o foco encarnado estava no Campeonato, a partir de sexta-feira poderá ser algo… linear: em caso de vitória do V. Setúbal frente ao Sp. Braga, as águias ficam arredadas da terceira de quatro competições ainda antes de se dobrar o ano civil.