O deputado conservador e número dois do governo de Theresa May, Damien Green, demitiu-se esta quarta-feira depois de terem sido encontrados conteúdos milhares de ficheiros com conteúdos pornográficos em um dos seus computadores no Parlamento britânico em 2008, e das acusações de assédio sexual por uma jornalista.

O caso remonta a 2008, ainda durante o governo de Gordon Brown, quando um conjunto vasto de documentos do Ministério da Administração Interna britânico é publicado nos jornais ingleses.

A fuga de informação começou a ser investigada pela polícia britânica que detém Christopher Galley, depois de se descobrir que os ficheiros chegaram ao Partido Conservador, precisamente às mãos de Damien Green, na altura porta-voz dos conservadores para a imigração, que também é detido por membros da brigada anti-terrorismo.

As acusações que Galley e Green enfrentavam poderia levar à prisão perpétua, mas Bob Quick, o então vice-comissário da polícia que estava a liderar a investigação, é forçado a demitir-se porque é fotografado a transportar documentos confidenciais para uma reunião na residência do primeiro-ministro britânico.

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É nesta altura que a polícia encontra material que qualifica como “pornografia extrema” num dos computadores de Damien Green, ainda deputado britânico. Green viria mais tarde a tornar-se ministro para o Policiamento, para a Justiça Criminal e Vítimas, e depois disso secretário para o Trabalho e Pensões.

A investigação a Damien Green e Christopher Gailey é encerrada por falta de provas em abril de 2009, com acusações de excessos e de negligência da polícia. O inquérito terá custado cerca de 5 milhões de libras. Pouco depois, Christopher Gailey, é demitido do Home Office depois de ser provado que teria passado os documentos confidenciais a Damien Green.

A história não terminaria por aí. O ex-vice-comissário Bob Quick regressa em 2012 para dizer que foi pressionado a abandonar a investigação contra Damien Green antes de ter tempo para analisar todas as provas.

Só em novembro deste ano surgiriam notícias de que a polícia teria encontrado material pornográfico no computador de Damien Green em 2008, quando um jornal britânico avança que Bob Quick estava prestes a entregar informação sobre o material pornográfico encontrado no computador de Damien Green, mas foi forçado a demitir-se dias antes de o fazer.

Damien Green rejeitou todas as acusações e acusou Bob Quick de mentir, dizendo que este não era uma testemunha fiável. Mas logo de seguida, Neil Lewis, um detetive que fez buscas no computador de Damien Green, disse que na altura encontraram milhares de ficheiros pornográficos.

O assédio sexual à filha dos amigos

A pornografia acabaria por ser o seu fim, mas o que deu o empurrão final terão sido as acusações de assédio sexual por parte de uma jornalista britânica a Damien Green, Primeiro Secretário – cargo que assume as responsabilidades de vice-primeiro-ministro quando não há alguém nomeado especificamente para o cargo – e amigo dos tempos de Oxford da primeira-ministra Theresa May.

Damien Green terá tido um encontro em 2015 com a jornalista Kate Maltby num bar em Londres, a quem terá convidado para o encontro, terá perguntado à jornalista e ativista conservadora se teria interesse numa carreira política, e em ter uma relação sexual com o próprio. Segundo a jornalista, Green terá dito que “a sua mulher era muito compreensiva”, e nessa altura terá colocado a sua mão sob o joelho da jornalista, de cujos pais Green seria um amigo de longa data.

Um ano mais tarde, Green terá enviado uma mensagem à jornalista depois de esta escrever um texto sobre corpetes onde diz que a admirou num corpete e que por causa disso a tinha de convidar para um copo.

A jornalista vem a público falar das alegações apenas este ano, tendo sido atacada por Green, nos jornais e pelos conservadores.

A admissão de Damien Green

Na sua carta de demissão, o primeiro secretário de Estado admitiu que foi interrogado pela polícia sobre o material pornográfico encontrado no seu computador, mas diz que as acusações não têm fundamento.

Na mesma carta, Damien Green pede desculpa à jornalista Kate Maltby, mas não admite as acusações que lhe são feitas. “Lamento profundamente a angústia que causei a Kate Maltby depois do seu artigo sobre mim e da minha reação sobre o mesmo. Não reconheço os eventos tal como ela os descreveu no seu artigo, mas claramente fi-la sentir desconfortável e por isso peço desculpa”.

Numa carta enviada ao seu primeiro secretário, Theresa May diz que lhe pediu para se demitir e que, apesar de ter dado uma grande contribuição para a vida pública, o seu comportamento terá ficado aquém dos padrões da administração pública, e como tal não poderia permitir que continuasse ao serviço do governo britânico.