O cardeal Bernard Law, antigo arcebispo de Boston que foi acusado de encobrir casos de abusos sexuais de menores envolvendo o clero, desencadeando a pior crise do catolicismo nos EUA, morreu esta terça-feira. Tinha 86 anos.

A notícia da morte foi avançada por uma fonte do clero que falou sob anonimato à agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), sendo de esperar, mais tarde, um anúncio oficial por parte do Vaticano.

Bernard Law, que tinha estado doente e sido recentemente hospitalizado em Roma, chegou a ser um dos mais importantes líderes da Igreja Católica nos Estados Unidos.

Em janeiro de 2002, o jornal The Boston Globe revelou, com base em registos da Igreja, que Law tinha encoberto casos de abuso sexual envolvendo padres ao transferi-los para outras paróquias, sem alertar famílias ou autoridades. A investigação do jornal norte-americano, e posterior denúncia do caso, foi recontada no filme “Spotlight”, que em 2016 venceu o Óscar de Melhor Filme.

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O primeiro caso de que houve conhecimento foi o do padre John Geoghan, pelo qual mais de 130 pessoas revelaram ter sido sexualmente abusadas. Rebentado o escândalo, Law tentou gerir a situação: primeiro com silêncio e posteriormente prometendo reforma. Contudo, registos que davam conta de mais vítimas e de mais casos escondidos e encobertos pelo antigo arcebispo de Boston continuavam a aparecer. Por todo o país, católicos queriam saber se os seus bispos tinham feito o mesmo.

A arquidiocese tentou resolver a situação ao pagar 10 milhões de dólares em indemnizações, mas a pressão e descontentamento social obrigaram Law a pedir a demissão ao Vaticano, que lhe foi concedida. Aquando da saída, em dezembro de 2002, Bernard Law pediu “desculpa” e “perdão” a “todos aqueles que sofreram por culpa dos [seus] erros”. “Por favor, mantenham-me nas vossas preces”, disse.

Apesar do abandono da arquidiocese de Boston, a ligação de Law à Igreja Católica não ficou por aí. Em 2004, o Vaticano nomeou-o arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, uma das quatro principais de Roma, e, no ano seguinte, quando morreu João Paulo II, participou na missa em memória do Papa e no conclave que elegeu o seu sucessor, Bento XVI.

Ao longo dos anos que se seguiram, Bernard Law continuou a participar em dicastérios e comités — como a Congregação dos Bispos, órgão cujas funções incluem, entre outras, a de nomear bispos para dioceses norte-americanas.

Em 2011, o antigo arcebispo encontrava-se a viver em Roma, já reformado. Law mantinha ainda os títulos de “arcipreste emérito” da Basílica de Santa Maria Maior e “arcebispo emérito” da Igreja de Boston. Bernard Law morreu sem alguma vez ter sido acusado de algo ou condenado.

“O Caso Spotlight”. O arcebispo suspeito de encobrir abusos sexuais de padres “vive em Roma” e está reformado