O Presidente angolano, João Lourenço, exonerou esta quarta-feira o conselho de administração do Entreposto Aduaneiro de Angola (EAA), nomeando novos administradores para o efeito, completando desta forma quase 80 nomeações nos últimos dois dias. A informação consta de uma nota da Casa Civil da Presidência enviada à Lusa, indicando que o chefe de Estado assinou decretos a exonerar a administração atual e a nomear uma nova, com cinco administradores, liderada por Ludgério de Jesus Florentino Pelinganga.

O EAA é uma empresa pública criada em 2002 e que deverá assumir a função de gestor da Reserva Estratégica Alimentar do Estado, para garantir até cerca de um ano das necessidades de produtos da cesta básica do país, além de manutenção da estabilidade dos preços do mercado e de importação.

A empresa tinha Joffre Van-Dúnem como presidente do conselho de administração, que em setembro foi nomeado como novo ministro do Comércio de Angola.

O Presidente angolano tinha já exonerado na terça-feira a comissão de gestão que administrava a transportadora aérea estatal TAAG, nomeando um conselho de administração liderado por José João Kuvíngua, antigo secretário de Estado para os Transportes Terrestres, e com mais nove administradores.

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Também com data de 19 de dezembro foram exoneradas as administrações de nove empresas públicas, dos aeroportos e portos, de distribuição de eletricidade e água, e dos caminhos-de-ferro de Luanda, Benguela e Moçâmedes, com João Lourenço a nomear, neste caso, um total de 64 administradores.

O novo Presidente angolano, João Lourenço, precisou de menos de três meses para afastar a estrutura de governação que recebeu de José Eduardo dos Santos, tendo feito acima de 300 nomeações e exonerando mais de 30 oficiais generais e cerca de 20 administrações de empresas públicas, na área petrolífera, dos diamantes, e de comunicação social, além do próprio Banco Nacional de Angola e de bancos comerciais detidos pelo Estado.

“Ninguém é suficientemente rico que não possa ser punido, ninguém é pobre demais que não possa ser protegido”, foi um dos mais sonantes avisos que o novo chefe de Estado, um general de 62 anos, deixou ao tomar posse, a 26 de setembro.

Apesar de deixar a Presidência angolana, José Eduardo dos Santos mantém-se líder do MPLA, partido no poder desde 1975, com mandato até 2021, e ainda não se referiu publicamente às mudanças que João Lourenço tem vindo a pôr em prática, nomeadamente ao afastamento dos filhos de lugares chave em poucas semanas.

É o caso de milionária empresária Isabel dos Santos, exonerada de presidente do conselho de administração da petrolífera Sonangol, ou da empresa Semba Comunicação, que tem como sócios os irmãos Welwitshea ‘Tchizé’ e José Paulino dos Santos ‘Coreon Du’, filhos do ex-chefe de Estado angolano, que perdeu a gestão do canal 2 da televisão pública angolana.

Contudo, João Lourenço nunca esclareceu os motivos do afastamento de Isabel dos Santos ou da nomeação de Carlos Saturnino para liderar a Sonangol, curiosamente um quadro da petrolífera que em dezembro de 2016 tinha sido exonerado pela filha de José Eduardo dos Santos.

A palavra nepotismo significa a promoção de uma pessoa incompetente para um determinado cargo pelo único facto de ser membro da sua família. Como a minha competência não está em questão, não será apropriado tentar estabelecer um vínculo entre as minhas relações familiares e os resultados do meu mandato”, criticou Isabel dos Santos, a propósito de um editorial do estatal Jornal de Angola.

João Lourenço admitiu entretanto a necessidade de “moralização” da sociedade, com um “combate sério” a práticas que “lesam o interesse público”, e foi buscar o diretor nacional adjunto do Serviço de Investigação Criminal, o comissário de polícia Sebastião Domingos Gunza, para liderar a nova equipa da Inspeção-Geral da Administração do Estado, exonerando a anterior, liderada por Joaquim Mande.

“Esperamos que a tão falada impunidade nos serviços públicos tenha os dias contados”, avisou João Lourenço.