Foi em maio deste ano que o Papa Francisco descobriu. Através de um enviado apostólico que ele próprio enviou às Honduras, percebeu que o seu amigo e principal conselheiro, o cardeal Oscar Maradiaga, recebia 35 mil euros por mês da Universidade Católica de Tegucigalpa, nas Honduras. O poderoso cardeal – que é coordenador do Colégio de Cardeais – era conhecido por defender uma Igreja Católica pobre e singela.

Quem conta a história é o jornalista italiano Emiliano Fittipaldi, que se tem ocupado a divulgar casos de corrupção e abusos sexuais no Vaticano. Na revista L’Espresso, explica que várias testemunhas – tanto eclesiásticas como seculares – garantem que o tribunal de contas das Honduras está a investigar um fluxo de grandes somas de dinheiro provenientes do Governo hondurenho para a Fundação para a Educação e Comunicação Social e a Fundação Suyapa: ambas fundações da Igreja local, logo, dependentes de Oscar Maradiaga.

O jornalista falou com membros da comitiva papal, que disseram que Francisco “está triste e entristecido mas também muito determinado a descobrir a verdade”. O Papa quer estar a par de todos os pormenores da investigação conduzida pelo bispo argentino Jorge Pedro Casaretto e descobrir o destino final das gigantescas somas de dinheiro que Oscar Maradiaga recebeu.

Mas o cardeal não é o único envolvido neste novo escândalo do Vaticano. Juan José Pineda, o bispo auxiliar de Tegucigalpa, terá recebido grandes quantias de Oscar Maradiaga, assim como “Father Erick”, um mexicano que gosta de dizer que é padre mas nunca chegou a ser ordenado. Segundo um missionário com quem Fittipaldi falou, o nome real do homem é Erick Cravioto Fajardo e viveu durante anos num apartamento adjacente ao do cardeal. Além disso, a fonte acrescenta que “Pineda, que viveu com Erick debaixo do mesmo teto, ofereceu-lhe recentemente um apartamento na baixa e um carro”. A equipa do Vaticano que está a investigar receia que todo este dinheiro tenha vindo da universidade ou da diocese e garante que “o Papa sabe de tudo”.

As testemunhas que falaram com o bispo Casaretto durante a investigação também detalharam vários investimentos de Maradiaga que correram terrivelmente mal. Supostamente, o cardeal transferiu mais de um milhão de euros que recebeu da diocese hondurenha para algumas financeiras de Londres, como a Leman Wealth Management. A maior parte do dinheiro investido – e depositado em bancos alemães – desapareceu sem deixar rasto.

Oscar Maradiaga nasceu nas Honduras em 1942. Foi professor da instrução primária, depois professor de matemática, é fluente em cinco línguas e especialista em teologia e filosofia. Tornou-se muito conhecido na América Latina por se assumir um inimigo da corrupção e um forte defensor dos pobres. O L’Espresso diz que o cardeal deve entregar a carta de resignação ao Papa Francisco ainda este ano.

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