Para quem tenha dúvidas sobre se existe alguma outra razão para duas pessoas decidirem casar-se que não seja, simplesmente, o amor, dois homens irlandeses heterossexuais fornecem um exemplo de que a realidade, por vezes, não é como os espíritos mais românticos a veem. Afinal de contas, e é mesmo de contas que este caso trata, encontrar uma forma lícita de escapar à gula fiscal também pode ser um motivo para a celebração de um casamento.

Foi o que Matt Murphy, 83 anos, e Michael O’Sullivan, 58, optaram por fazer quando se aperceberam que o imposto sobre sucessões em vigor na Irlanda iria exigir um pagamento de 50 mil euros pelo facto de Murphy querer transmitir a O’Sullivan uma casa após a sua morte. O proprietário incluiu esta disposição no testamento, mas desconhecia que a administração fiscal iria ser impiedosa com o beneficiário da generosidade, pelo facto de ser praticada entre contribuintes sem quaisquer laços familiares.

A história que teve como desfecho o matrimónio dos dois homens começou quando Matt Murphy foi diagnosticado com uma arterite de células gigantes, doença que consiste numa inflamação crónica das grandes artérias da cabeça, do pescoço e da parte superior do corpo e que afeta, nomeadamente, os nervos óticos. Na época, Murphy precisou de contratar alguém que cuidasse de si. Foi nesta altura que O’Sullivan entrou em cena. Mas havia um problema: Matt não tinha dinheiro para pagar os serviços de Michael e sugeriu deixar-lhe a casa em herança, como forma de compensação.

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Tudo parecia simples, mas o caso complicou-se quando O’Sullivan alertou Murphy de que não poderia aceitar o imóvel porque não teria dinheiro para pagar os impostos que lhe iriam ser exigidos. A solução acabou por chegar através de uma amiga comum a quem descreveram a situação. Conhecedora dos meandros da legislação fiscal irlandesa, sugeriu, embora a brincar, que os dois homens se casassem, o que lhes permitiria contornar o problema fiscal. Matt Murphy ficou a matutar no assunto e um dia, de acordo com o Irish Times, decidiu propor casamento a Michael, pedido que foi aceite.

No final da cerimónia, realizada em Dublin, O’Sullivan quis sublinhar que o evento não era apenas uma questão de eficiência fiscal. “Eu amo o Matt e ele ama-me, como amigos”, explicou o herdeiro e agora também cônjuge. O casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido na Irlanda desde maio de 2015.