O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, por unanimidade, um novo pacote de sanções à Coreia do Norte, na sequência do ensaio realizado no final de novembro de um míssil balístico intercontinental que poderá atingir território dos Estados Unidos. Mas as novas medidas, propostas por Washington e subscritas pelos 15 estados-membros daquele órgão da ONU, poderão produzir um impacto reduzido no regime de Kim Jong-un, deixando os efeitos mais negativos abaterem-se sobre a população do país.

As sanções, aprovadas na sexta-feira, restringem em 90% o envio de produtos petrolíferos para a Coreia do Norte e preveem, num prazo de 24 meses, a repatriação dos cidadãos norte-coreanos que trabalham no estrangeiro, fonte de rendimentos para Pyongyang através das remessas que estes emigrantes enviam para a Coreia. Porém, especialistas consideram que a perturbação causada ao regime será escassa.

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Citado pela agência Bloomberg, Paul Musgrave afirma que “os impactos mais fortes serão sentidos em setores de atividade que não são essenciais para a sobrevivência” da governação liderada por Kim Jong-un. O professor da Universidade do Massachusetts adianta que a incidência dos cortes nas vendas de produtos petrolíferos vai bater-se de forma “dura” sobre os cidadãos comuns da Coreia do Norte.

A perspetiva é a de que o regime de Pyongyang continue a conseguir ter acesso a derivados do petróleo, como gasóleo e querosene, através do contrabando e que as sanções venham a provocar ressentimento da população contra a administração Trump, diz Hong Kang-chel, um antigo guarda-costas que conseguiu fugir da Coreia do Norte em 2013. Os cortes, que entram em vigor em janeiro de 2018, significam que os cidadãos norte-coreanos que vivem da agricultura “terão de trabalhar com as próprias mãos, enquanto os funcionários do regime continuarão a conduzir os seus automóveis” abastecidos com combustível contrabandeado para o país.

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Hong mostra-se crítico, também, das sanções sobre os emigrantes. Para o antigo guarda-costas, os “norte-coreanos que trabalham no estrangeiro levam para casa as ideias e a cultura do capitalismo que testemunharam, mas Trump está, agora, a apontar o caminho para bloquear essa estrada”. Washington passou uma boa parte de 2017 a tentar convencer outras nações a a aumentarem a pressão sobre Kim Jong-un, com um foco especial sobre a China, o principal parceiro comercial do país, numa estratégia que não foi suficiente para conseguir travar os ensaios da Coreia do Norte com armas nucleares.

Neste domingo, Pyongyang classificou as novas sanções como um “ato de guerra”. A resolução do Conselho de Segurança corte o fornecimento de produtos petrolíferos para o equivalente a 500 mil barris por ano. Em setembro passado, as Nações Unidas já tinha decidido a redução dos fornecimentos para dois milhões de barris, menos de metade do total anteriormente em vigor de 4,5 milhões de barris.