Quando ainda era jogador (neste caso, lateral direito) do Sporting, Abel Ferreira, atual treinador do Sp. Braga, era um estudioso do futebol e tinha a mesa de cabeceira cheia de livros sobre a modalidade – na altura, muitos deles de José Mourinho. Por isso, não foi surpresa quando um dia, numa conferência, comentou o “outro lado” do jogo. “Se formos fazer as contas entre os tempos mortos e os 22 elementos em campo, um jogador está com a bola nos pés uns dois minutos por jogo e tem de pensar rápido para saber o que fazer quando a tem”, destacou. Qualquer encontro tem sempre um lado B e a exibição de gala de Lionel Messi no Clássico do Barcelona frente ao Real Madrid (3-0), no Santigo Bernabéu, é exemplo paradigmático disso mesmo.

O xeque de Benzema, o mate da dupla Suárez-Messi e o chocolate catalão recheado de “olés”

“Messi passeou-se no Bernabéu, Jogou o clássico a caminhar. Não, não é nenhum exagero. É absolutamente literal”, destaca o El Periódico, que estudou todas as movimentações do argentino diante dos merengues para chegar à conclusão que 83% do tempo foi passado a caminhar “como se estivesse no pátio da sua casa em Castelldefels a jogar com Thiago e Mateo, os dois filhos”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Recordando a primeira parte mais discreta, com apenas um remate e um livre que bateu na barreira (curiosamente em Cristiano Ronaldo, o que motivou um pedido de desculpas pelo 10 dos catalães), a publicação fala num jogador que “andava e, ao mesmo tempo, enganava”. “Deu tempo, isso sim, para deixar duas vezes isolado Paulinho à frente de um imponente Keylor Navas. Parecia que não estava no clássico mas, astuto como é, guardou o melhor do seu inacabável catálogo na segunda parte. Nunca deixou de caminhar e, por muito que o tenham vigiado, encontrou sempre espaço para estar sozinho. Interveio nos três golos do Barcelona”, destaca.

Em resumo, e além de ter passado 83,1% dos 90 minutos mais descontos do Clássico a caminhar, Messi esteve ainda 10,8% em ritmo de jogging. A correr (4,95%) ou em sprint (1,15%, com uma velocidade de ponta de 33,59 km/h) foi pouco mais de 6%, o suficiente para ser a chave para desbloquear o encontro que colocou o Barça com 14 pontos de vantagem sobre o rival (que tem menos um jogo, por causa da participação no Mundial de Clubes, que venceu frente ao Grémio por 1-0 com golo de Cristiano Ronaldo). Em linha reta, os 8,03km percorridos era como se Messi andasse a caminhar pela Gran Via de Barcelona, entre a Praça de Espanha e o rio Besòs, 6,67km, correndo apenas 397 metros e acelerando nos derradeiros 92,3 metros.

Além de ser o mais rápido a nível de velocidade de ponta e o jogador com mais dribles conseguidos (seis, mais do que todos os elementos do Real Madrid), o argentino teve influência direta no resultado com um golo de penálti – numa jogada onde estendeu a passadeira a Luís Suárez antes do corte da mão de Carvajal –, uma assistência para o 3-0 de Aleix Vidal e um ação fundamental sem bola no golo inaugural de Suárez, a deslocar Kovacic do corredor central para abrir uma autêntica cratera na transição defensiva do Real Madrid.