A Direção da Polícia cabo-verdiana e a Câmara Municipal da Praia garantiram esta sexta-feira que as marchas e manifestações nas ruas de agentes policiais, enquanto decorria uma greve de três dias, foram ilegais e pedem responsabilidades.

O Sindicato da Polícia Nacional (Sinapol) de Cabo Verde convocou uma greve de três dias da classe, que terminou esta sexta-feira, e durante a paralisação centenas de agentes manifestaram-se pelas ruas da cidade da Praia e um pouco por todo o país.

Durante os percursos, os manifestantes empunhavam cartazes, faziam batucadas, soavam apitos, entoavam gritos de ordem, quase sempre sem acompanhamento policial em serviço.

Na Praia, os agentes pararam em frente a várias instituições, como o Palácio do Governo, Ministério da Administração Interna, Direção da Polícia Nacional e esquadras, causando também muito congestionamento e constrangimentos no trânsito na capital cabo-verdiana.

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Esta sexta-feira os agentes protestaram em frente às instalações da Televisão de Cabo Verde (TCV), facto repudiado pela estação pública cabo-verdiana.

O n.º 3 do artigo 53.º da Constituição da República diz que a reunião, quando ocorra em lugares abertos ao público, e a manifestação, devem ser comunicadas previamente às autoridades competentes, sendo primeiro a Câmara Municipal e depois a Polícia, para pedir segurança.

Em conferência de imprensa para fazer considerações finais sobre a greve, o diretor da Polícia Nacional, Emanuel Estaline Moreno, disse que as marchas e manifestações realizadas paralelamente não foram comunicadas.

“A Direção Nacional não foi comunicada de que a Sinapol iria fazer marcha ou manifestação. Acabaram por fazer uma manifestação que é ilegal, deveriam comunicar que iriam fazer”, disse.

O responsável afirmou que o facto de polícia realizar manifestações sem comunicar às autoridades competentes “belisca” a imagem da instituição e afirmou que responsabilidades “serão equacionadas a seu tempo”.

Em declarações à agência Lusa, o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal da Praia, Rafael Fernandes, também disse que o Sinapol não fez qualquer pedido para realizar as marchas pelas ruas da capital cabo-verdiana e não avisou sobre os percursos.

O autarca foi mais contundente, dizendo que os agentes da polícia comportaram-se de forma “arruaceira”, invadindo muitos espaços públicos, cortaram o trânsito e bloquearam várias artérias da cidade.

“É algo que não parece ser de polícias, que devem respeitar a lei. A Câmara Municipal da Praia repudia veementemente esta forma de exercício de poder, que não é liberdade, mas sim libertinagem”, criticou o vereador.

Rafael Fernandes disse à Lusa que a Câmara vai acionar os seus serviços jurídicos para ver até onde poder agir para que os responsáveis sejam punidos.

Contactado pela Lusa, o presidente do Sinapol, José Barbosa, disse que só depois vai falar sobre o assunto.

Durante os três dias de greve, o diretor da PN disse que os serviços mínimos foram garantidos e a polícia funcionou normalmente, apesar do número reduzido de agentes.

O diretor indicou que a média de adesão à greve foi de 43%, enquanto o Sinapol apontou para uma participação acima dos 90% em todo o território nacional.

Destacando a colaboração e o civismo da população cabo-verdiana, Emanuel Moreno disse que durante os três dias de greve houve uma redução do número de ocorrências e de chamadas.

O responsável policial disse que normalmente o piquete da cidade da Praia regista uma média de 70 chamadas por dia, mas que durante os dias de greve registou uma média de 40.

Durante a greve, a segurança foi garantida também por instruendos do Centro Nacional de Formação (CNE), vestidos com fardas da polícia, facto considerado ilegal pelo presidente do Sinapol.

Outra ilegalidade que constatou é o facto de os instruendos também estarem nas ruas sem acompanhamento e supervisão de um agente policial, tal como acontece em épocas normais.

O diretor da PN explicou que a utilização dos instrumentos é normal, uma vez que há um programa de estágio após formação e o pessoal está sempre acompanhado, mas que durante a greve isto não aconteceu, mas havia sempre uma viatura a fazer patrulhamento.

Em relação ao fardamento, Emanuel Moreno justificou a sua utilização pelos instruendos pelo facto de estar num período em que já se faz sentir algum frio no país.