O Governo português apelou esta quarta-feira às autoridades iranianas para que respeitem o direito à manifestação e pediu “a todas as partes” que contribuam para superar a instabilidade que se tem registado no Irão na última semana.

“Nós participámos na produção da declaração que a União Europeia fez e que apela a todos para evitarem qualquer forma de violência, apela às autoridades iranianas para respeitarem o direito à manifestação e ao protesto pacífico e também para que todas as partes se conduzam de forma a que a presente instabilidade possa ser superada o mais depressa possível”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, falando aos jornalistas à margem da abertura do seminário diplomático, que decorre quarta e quinta-feira no Museu do Oriente.

Quanto aos portugueses residentes no Irão — cerca de 15 pessoas –, o governante referiu que não há relatos de “alguma espécie de incómodo ou perturbação com a crise que ocorre neste momento em várias cidades iranianas”.

Dezenas de milhares de manifestantes pró-regime concentraram-se esta quarta-feira em várias cidades do Irão para condenar os distúrbios que agitam o país há quase uma semana, após uma noite mais calma do que as anteriores.

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Munidos de cartazes que denunciavam “os desordeiros”, os manifestantes retomaram palavras de ordem de apoio ao líder supremo, o ayatollah Ali Khamenei, mas também “morte à América” ou “morte a Israel”, segundo imagens difundidas pela televisão estatal.

Estas manifestações surgem depois de uma noite calma na capital, Teerão, em contraste com os protestos, que se realizam desde 28 de dezembro, contra a austeridade económica e a corrupção.

Os protestos contra o Governo resultaram até agora em 21 mortos, a maioria manifestantes, e centenas de detenções.

Na segunda-feira, uma porta-voz da chefe da diplomacia europeia disse esperar que o direito a manifestações pacíficas e de liberdade de expressão seja garantido no Irão.

“Esperamos que o direito a manifestar-se pacificamente e de liberdade de expressão no Irão sejam garantidos depois das últimas declarações públicas do Presidente [iraniano] Rohani”, disse à Efe uma porta-voz de Federica Mogherini, chefe da diplomacia da União Europeia.

Rohani pediu calma e restringiu a atividade nas redes sociais para tentar conter protestos, numa altura em que foram detidas 300 pessoas.

Hasan Rohani afirmou que os inimigos do Irão incitaram certos grupos a promover incidentes porque não toleram “os êxitos” que Teerão obteve no acordo nuclear assinado em julho de 2015 com seis potências internacionais, bem como as medidas contra o terrorismo na região.

O Presidente iraniano reiterou o direito do povo de criticar e protestar, mas afirmou que é preciso “eleger a maneira e a via legal para expressar-se”.

Estas são as maiores manifestações antigovernamentais no Irão desde 2009, quando a oposição “movimento verde” organizou vários dias de protesto contra a reeleição do então presidente Ahmadinejad, tendo sido duramente reprimidos.