Há não muito tempo existiu um fenómeno musical em Portugal que pôs toda a gente a dançar com a sua música — Filipa Lemos, Tó Lemos, Luís Marante e Lucas Júnior formaram, nos idos anos 90/2000, os Santamaria. À semelhança de muitas das bandas da altura, o grupo acabou por ser aquilo a que os norte-americanos chamam de one hit wonder, expressão que, por outras palavras, caracteriza algo que teve um sucesso estrondoso, mas efémero. Contudo, hoje em dia (como na altura), não há quem consiga não dançar quando se ouvem exitos como “Eu sei, tu és” ou “Falésia do Amor”. Ora foi precisamente esta alegria que esteve ausente nesta 16.ª jornada da Liga NOS, quando o FC Porto foi a uma Santa Maria diferente — a da Feira –, jogar contra o Feirense. Agressividade, futebol morno e tensão foram constantes, mas no final, os três pontos lá acabaram por ir parar à Invicta.

A partida começou calma. Depois de uns dez minutos iniciais com apenas dois remates, um para cada lado (só o de Hugo Seco, defesa do Feirense, foi enquadrado à baliza), o mago argelino Brahimi ameaçou fazer das suas: passa sem espinhas por dois defesas adversários mas acaba por falhar o remate. A coisa começava a prometer, ideia que sai reforçada logo aos 22 minutos, quando Aboubakar recebe a bola de costas para a baliza — mesmo à entrada da área –, dá uma reviravolta e chuta forte. Caio Secco (que fez uma bela exibição) não teve hipótese.

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CD Feirense -FC Porto, 1-2

16.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Marcolino de Castro, Santa Maria da Feira

Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

FC Porto: José Sá; Alex Telles, Marcano, Felipe, Ricardo Pereira, Jesús Corona (Tiquinho Soares, 66′), André André (Óliver Torres, 57′), Brahimi, Danilo Pereira, Vincent Aboubakar (Layún, 80′) e Marega

Suplentes não utilizados: Casillas, Diego Reyes, Maxi Pereira, Hernâni

Treinador: Sérgio Conceição

CD Feirense: Caio Secco; Luís Rocha, A. Kakuba, Flávio Ramos, Luís Aurélio, Hugo Seco (Edson Farias, 68′), Babanco (Briseño ,51′), Tiago Silva, Jean Sony, Peter Etebo e João Silva

Suplentes não utilizados: Miskiewjcz, Barge, Graça, Luís Machado, J. Valencia

Treinador: Nuno Manta

Golos: Vincent Aboubakar (22′), Luís Rocha (26′), Felipe (76′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Filipe (29′), Kakuba (32′), Tiquinho Soares (79′); cartão vermelho por acumulação a Filipe (85′)

O jogo parecia estar finalmente a correr melhor para a equipa de Sérgio Conceição: Tinha ganho preponderância no jogo, pressionava bem e já estava instalada no meio-campo adversário, contudo, Luís Rocha virou tudo ao contrário. Dois minutos depois do Porto ter assumido a vantagem, tudo voltava à igualdade graças ao cabeceamento do central do fogaceiro. Daqui até ao final da primeira parte, pouco ou quase nada houve a registar.

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O segundo tempo trouxe um jogo diferente, apesar dos onzes se terem mantido inalterados. O Feirense, que já tinha mostrado ser um adversário bem preparado e ciente das suas capacidades, assumiu uma posição bem mais defensiva, deixando claro que aquele resultado interessava. Com muita garra foi bloqueando as investidas frouxas do Porto, recorrendo, às vezes, àquelas paragens de jogo demoradas que irritam qualquer um. Os Dragões não foram diferentes e canalizaram a revolta de forma positiva. Carregaram no acelerador e os adversários viram-se obrigados a recorrer à falta. Foi neste momento que tudo começou a descambar.

Os lances começaram a ficar mais físicos, em dez minutos os fogaceiros viram dois cartões amarelos (o primeiro para João Silva e o segundo para Hugo seco), mas mesmo assim, o Porto ia tentando soltar a sua superioridade técnica em lances individuais como aquele em que Brahimi rematou com perigo — mas Luís Rocha cortou –, ou a bomba que Danilo enviou à trave. O desempate chegou da cabeça de Filipe que, com um cabeceamento perfeito, lançou um míssil terra-ar contra Secco — o guarda-redes voltou a não ter nenhuma chance de evitar o inevitável.

Seria de espera que com o marcador a seu favor os Dragões acalmassem… Mas não, pelo contrário. Os conflitos foram-se intensificando (as demoradas paragens dos adversários não ajudaram), Tiquinho viu um amarelo e Filipe foi do céu ao inferno em nove minutos: depois de uma entrada atabalhoada sobre Edson Farias (que tinha entrado para o lugar de Hugo Seco aos 68′), o central brasileiro viu o segundo amarelo e foi expulso.

O clima aqueceu ainda mais: começaram a chover cadeiras de plástico, uma bandeira do Porto ficou presa nas malhas de uma baliza, mais interrupções sucederam-se até que o apito final soou e o FC Porto levou os três pontos. Tudo somado, é justo dizer que esta noite não houve eurodance (o estilo musical dos Santamaria) mas sim heavy metal. Do pesado.