A desertificação do interior de Portugal é um dos pretextos para o ciclo “Portugal em vias de extinção”, que inclui espetáculos, concertos e oficinas, a realizar no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, de janeiro a março.

A iniciativa tem também por objetivo debater questões como a falta de aprendizes de artesanato tradicional, o desaparecimento de indústrias que conferiam identidade às comunidades, uma ideia de jornalismo, que o digital e a economia da comunicação asfixiam, o património cultural popular, que resiste apenas na memória de alguns, e um país que se ‘europeia’ a alta velocidade, libertando-se do lastro da sua identidade, de acordo com a organização.

“Portugal em vias de extinção” é um ciclo de espetáculos, concertos, conversas, oficinas e publicações, no qual estas e outras questões vão ser matéria-prima para artistas e pensadores.

O ciclo começa por abordar “Jornalismo, Amadorismo, Hipnotismo”, um espetáculo com direção de Rui Catalão, que vai estar em cena na sala Estúdio de 11 a 21 de janeiro, e no qual um elenco sem requisitos profissionais vai funcionar como uma redação.

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O objetivo é aprender a observar, a seguir acontecimentos, a comunicar, a verbalizar histórias e testemunhos.

Saber até que ponto determinados aspetos das vivências particulares que nos afetam podem ser notícia, ou saber se ainda é possível encontrar em ações das nossas vidas concretas a matéria que molda a realidade são, segundo a organização, outros objetivos deste espetáculo.

“Canas 44”, uma criação da Amarelo Silvestre, com direção de Victor Hugo Pontes, também na sala Estúdio, de 25 a 28 de janeiro, é outro dos espetáculos integrados no ciclo.

Uma pessoa que chega e outra que parte, em Canas de Senhorim, sem que nunca seja mencionado o nome do local, para que este possa ser qualquer lugar de Portugal, é o ponto de partida do espetáculo.

De 8 a 11 de fevereiro, na sala Estúdio, é a vez de “Eu uso termotebe e o meu pai também”, uma peça encenada por Ricardo Correia na qual se investigam os processos de transmissão do trabalho em Portugal.

Trata-se, segundo o Teatro D. Maria II, de um espetáculo que parte da recolha de testemunhos em comunidades de operários fabris de várias cidades portuguesas, transfiguradas pelas ruínas dessas indústrias, aguardando um novo “El Dorado”.

“Ex-zombies: uma conferência”, com texto e encenação de Alex Cassal, parte da hipótese de vir a ocorrer um apocalipse ‘zombie’ e de os cadáveres voltarem à vida. O espetáculo vai estar em cena na sala de cenografia, de 01 a 27 de março.

Já de 8 a 28 de março, na sala Estúdio, será apresentado “Sweet Home Europa”, um texto de Davide Carnevali, com encenação de João Pedro Mamede, em que se questiona um projeto de uma Europa em crise, através de uma visão cáustica.

“Ainda agora aqui cheguei”, “Cada velhinha que ele grava é a minha avó que não morre” e “Mulheres Fiadeiro/Fiadouro”, a 20 de janeiro, 17 de fevereiro e 17 de março, respetivamente, são os concertos integrados no “Portugal em vias de extinção”, numa parceria com “A música portuguesa a gostar dela própria”, com curadoria de Tiago Pereira.

“Cestaria em vime”, orientado por Rosa e Manuel Oliveira, e “O trabalho de lã – do velo ao tecido”, guiado por Guida Fonseca, Isabel Cartaxo e Alice Bernardo, oficinas a realizar no salão nobre do teatro, a 27 de janeiro e 10 de março, respetivamente, são também propostas deste ciclo.

“Portugal em vias de extinção” contempla ainda três debates coordenados por Maria João Guardão, subordinados aos títulos “Lugares”, “Coisas” e Vidas”, a realizar no salão nobre do teatro, a 3 de fevereiro, 17 de fevereiro e 24 de março, respetivamente.