Os chefes da diplomacia alemã e turca mostraram este sábado vontade de retomar um diálogo estreito, após um ano marcado por relações tempestuosas, depois da visita do Presidente da Turquia a Paris.

Para demonstrar a sua vontade de apaziguamento, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlüt Cavusoglu, deslocou-se à cidade por onde o seu homólogo alemão, Sigmar Gabriel, foi eleito, Goslar, cerca de 250 quilómetros a oeste de Berlim. Ancara procura sair do isolamento internacional, após a repressão que se seguiu ao golpe de Estado falhado em julho de 2016, e de retomar o diálogo, um pouco degradado, com a União Europeia (UE).

As causas da discórdia são particularmente numerosas entre a Turquia e a Alemanha: Berlim mostrou o seu desagrado com a detenção de vários cidadãos na Turquia, alguns com dupla nacionalidade. Ancara, por seu lado, acusa a Alemanha de indulgência em relação aos separatistas curdos e aos presumíveis autores do golpe de Estado, e o Presidente Recep Ayyip Erdogan chegou a acusar o Governo alemão de “práticas nazis”.

Durante uma conferência de imprensa comum, este sábado, Sigmar Gabriel afirmou-se “muito satisfeito” com a perspetiva de que o diálogo entre Berlim e Ancara – parceiros estratégicos tendo em conta a numerosa minoria turca que vive na Alemanha – ” venha a melhorar a pouco e pouco”.

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“Temos a tarefa de fazer tudo o que pudermos para superar as dificuldades nas relações germano-turcas”, disse Gabriel, acrescentando favorecer um diálogo “aberto e com respeito mútuo”, mesmo que os dois líderes “certamente não tenham a mesma opinião em todos os assuntos”.

Nem a Alemanha nem a Turquia “cedem perante as pressões ou as ameaças”, defendeu o ministro turco, sublinhando a necessidade de relançar a cooperação económica entre os dois países através do “diálogo, a compreensão mútua e a colaboração”.

No verão passado, Berlim alertou os cidadãos alemães para evitarem viajar para a Turquia e desaconselhou, aos empresários, investimentos naquele país. Além disso, também congelou as exportações de armas para este país, aliado na NATO.

O Governo turco tem feito, desde novembro, vários sinais de apaziguamento a Berlim, nomeadamente através da atribuição de liberdade condicional ou completa a várias pessoas detentoras de passaporte alemão. Mas sete cidadãos alemães, entre os quais quatro com dupla nacionalidade, permanecem detidos na Turquia por “razões políticas”, segundo Berlim.

A Alemanha tem defendido nos últimos meses uma interrupção das negociações de adesão da Turquia à União Europeia e uma redução das ajudas financeiras a este país.

Esta posição não tem tido grande sucesso junto dos restantes parceiros, mas o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, aproximou-se na sexta-feira, propondo à Turquia uma “parceria” com a UE, em vez de uma adesão. No entanto, Cavusoglu insistiu na necessidade de rever a união aduaneira entre a UE e a Turquia, a fim de ampliá-la, considerando que isso “é do interesse de ambas as partes”.

A Alemanha, tal como os seus vizinhos europeus, não quer cortar completamente os laços com um parceiro chave. A Turquia tem um papel vital para conter imigrantes ou para lutar contra o terrorismo ‘jihadista’.