O Ministério Público de Cabo Verde abriu um processo-crime contra o advogado dos arguidos da “Operação Zorro”, no âmbito da qual foram apreendidos, em agosto, 1.157 quilos de droga num veleiro atracado no Mindelo e proveniente do Brasil.

Em causa estão declarações do advogado Osvaldo Lopes Lima, com escritório no Mindelo, que acusou o Ministério Público de “forjar provas” para manter os arguidos na cadeia.

“Tendo o advogado de dois arguidos, em entrevista pública, referido que «o Ministério Público anda a forjar provas para incriminar inocentes», e porque nos termos do sistema de justiça cabo-verdiana quem imputar a outrem, com manifesto desprezo pela verdade, a prática de um crime deve prová-lo, e estando em causa factos suscetíveis de ofenderem a credibilidade, consideração e confiança devidas à instituição Ministério Público, foi determinada abertura de processo-crime contra o autor de tal afirmação, por crime de ofensa a pessoa coletiva”, adianta a Procuradoria-Geral da República numa nota divulgada hoje.

O Ministério Público deduziu, em dezembro, acusação contra os quatro tripulantes do veleiro pela prática dos crimes de tráfico de droga de alto risco agravado e de associação criminosa.

Na mesma nota, a PGR explica que, durante o mês de agosto de 2017, o Ministério Público recolheu indícios fortes de que um veleiro proveniente de São Salvador da Baía, Brasil, com destino à ilha da Madeira, Portugal, e passagem pelas águas territoriais de Cabo Verde, transportava droga.

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O veleiro chegou à Marina do Mindelo, em São Vicente, com uma tripulação composta por quatro homens com idades compreendidas entre 25 e 49 anos, todos de nacionalidade estrangeira (um francês e três brasileiros). Dois dos arguidos permaneceram na embarcação e dois hospedaram-se numa pensão.

Foram apreendidos 1.157 quilos de cocaína numa busca ao veleiro, além de haxixe e canábis, no quarto da pensão onde estavam hospedados dois arguidos.

Os quatro homens foram detidos, tendo o juiz decretado prisão preventiva para os dois que se encontravam no veleiro e termos de identidade e residência para os que estavam hospedados na pensão.

O MP recorreu para o Tribunal da Relação, que determinou prisão preventiva para os dois arguidos que estavam na pensão.

Poucos dias após a detenção, familiares colocaram a circular um abaixo-assinado na internet a pedir a libertação dos três brasileiros, justificando que o objetivo é mostrar às autoridades cabo-verdianas que são inocentes e que foram usados “por uma quadrilha internacional”.

Numa entrevista ao jornal Notícias do Norte, o advogado de defesa dos arguidos disse existirem “claros indícios de que o MP anda a forjar provas para incriminar inocentes”.

Os 1.157 quilos de cocaína, que foram queimados uma semana depois da apreensão, constituíram a maior quantidade de droga apreendida na ilha de São Vicente, depois dos 521 quilos no caso “Perla Negra”, em novembro de 2014, numas das praias da ilha.

Foi também a segunda maior quantidade alguma vez apreendida em Cabo Verde, após a operação “Lancha Voadora”, que, em 2011, culminou com a apreensão de uma tonelada e meia de cocaína em estado de elevada pureza escondida na cave de um prédio na cidade da Praia.