Rui Rio admite vir a apoiar um Governo minoritário de António Costa. O social-democrata considera “razoável” que assim aconteça, caso os socialistas consigam vencer as próximas eleições legislativas sem maioria absoluta. Se o cenário se inverter, isto é, se for o PSD a vencer sem maioria absoluta, o ex-presidente da Câmara do Porto assegura que o CDS será sempre o parceiro natural, mas não fecha a porta a um eventual acordo de incidência parlamentar com o PS.

Em entrevista à Rádio Renascença e ao jornal Público, Rui Rio deixou todos os cenários em aberto: “Aquilo que me parece mais razoável é nós estarmos dispostos para, a nível parlamentar, suportar um Governo minoritário, seja ele qual for, neste caso o do PS. Que é aquilo que o PS deveria ter feito, suportar de forma crítica naturalmente, mas deixar passar e governar o partido mais votado. O que aconteceu é democraticamente legítimo, constitucionalmente perfeito e legítimo, mas era mais saudável dizermos: ‘A coligação PSD-CDS ganhou as eleições; tal como no passado, vamos permitir que quem ganhou possa governar'”.

Seguindo a mesma linha de argumentação, o candidato à liderança do PSD sublinhou que os democratas-cristãos serão sempre o parceiro natural do PSD, admitindo, no entanto, procurar um acordo de incidência parlamentar com os socialistas, se não tiver maioria absoluta. “Se, por acaso, eu ganhar as eleições, com o CDS, que é o aliado mais natural, não conseguirmos constituir uma maioria absoluta, conseguir que o Governo minoritário tenha apoio parlamentar — tal como sempre foi desde o pós 25 de Abril — para governar”, afirmou Rio.

Na mesma entrevista, o ex-autarca lança uma crítica implícita à forma como Marcelo Rebelo de Sousa tem conduzido o seu mandato presidencial. “Na minha apreciação pessoal, gostaria nalgumas circunstâncias do desempenho da função presidencial que tivesse mais algum recato do que às vezes tem”, sugeriu o social-democrata.

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Sem nunca referir o nome de Pedro Santana Lopes, o antigo autarca voltou a acenar com o passado do seu adversário na corrida à liderança do PSD para avisar os militantes sociais-democratas: se Santana ganhar, “todas as fragilidades vêm ao de cima”, sugeriu Rio.

“Acho que o líder do PSD é, por natureza, aquele que o PSD quer que seja o próximo primeiro-ministro de Portugal. Se os militantes escolherem aquele que tem mais aceitação junto do povo português, obviamente que essa tarefa está mais facilitada. Se fizerem o contrário, não quer dizer que seja impossível que o candidato A ou B não chegue a primeiro-ministro, agora é muito mais difícil, na situação em que um deles até já lá esteve e correu muito mal. E, perante toda aquela má experiência, se ele voltar a ser o candidato a primeiro-ministro, todas essas fragilidades vêm ao de cima, vai ser muito complicado“, alertou.

Sobre a condução dos destinos do partido, Rui Rio escusou-se a esclarecer se mantém ou não Hugo Soares como líder parlamentar do PSD se vencer as diretas no partido. “Não vou entrar em questões de pessoas. Se me perguntar: ‘Quem vai ser a sua equipa nacional, comissão permanente, presidente do congresso?… Não sei, não sei mesmo’. Esta campanha é demasiado absorvente para pensar num problema que posso nem ter, se não ganhar”, assegurou o candidato. Recorde-se que Hugo Soares declarou publicamente o apoio a Pedro Santana Lopes.

Sem se comprometer com soluções fechadas, o antigo presidente da Câmara do Porto disse ser favorável à redução do número de deputados e a uma eventual contabilização dos votos em branco, revisitando uma ideia que há muito defende. “Sou a favor da redução do número de deputados, mas sem demagogia, com um debate sério no sentido de ver até que ponto é possível reduzir esse número sem prejudicar o pluralismo dentro da assembleia, que considero muito importante. [Mas] e se os votos brancos e nulos contassem para o número de deputados eleitos? Imagine que a Assembleia podia ter entre 180 e 200, estou a inventar um número, se houvesse muitos brancos e nulos, tinha 180″, equacionou o social-democrata, antes de repetir que o país precisa de um novo 25 de Abril.

“Imagine que eu convenço as pessoas e as pessoas convencem-me a mim e então toma-se já a medida. Não. Defendo essa medida num conjunto com outras pequenas e médias medidas que levem a uma reforma tão grande que consubstancie uma rutura. O que nós precisamos é de uma rutura, precisamos de um novo 25 de Abril civil e reformista, que ultrapasse o desgaste a que chegámos ao fim de 40 anos de Constituição”, explicou.

Quanto a propostas concretas, Rio acabou por se demarcar do Governo socialista em matéria de política fiscal, acusando-o de ter desistido de fazer reformas estruturais, sem que, no entanto, tenha esclarecido o que faria de facto diferente. “A preocupação de reformas é zero. As políticas públicas têm muita influência sobre o que é o ambiente propício ao investimento e portanto tenho de olhar para a legislação fiscal, para a carga fiscal, para a desburocratização, para a forma como funciona o sistema judicial, a forma como faço a formação de mão de obra. Vê este Governo fazer alguma coisa sobre isto? Não. Vê este Governo refletir nas tabelas de IRS a pequena quebra para as pessoas para o ano terem um reembolso, em vez de receber um cheque de 100 euros recebe um de 150. Para o que é que isto serve para o desenvolvimento do país? Nada. Serve para a simpatia eleitoral em 2019“.