Um advogado e defensor dos direitos de prisioneiros políticos da Guiné Equatorial disse esta terça-feira à agência Lusa que existem pessoas “próximas” do Presidente equato-guineense, Teodoro Obiang Nguema, que “financiaram mercenários” para concretizarem um golpe de Estado no país.

Em resposta por e-mail a questões postas pela Lusa, Ponciano Mbomia Nvó, indicou que os mercenários são oriundos do Chade e da República Centro-Africana e que o objetivo dos “próximos” do Presidente, que não identifica, era “impedir” que Teodoro Nguema Obiang Mangue (conhecido por ‘Teodorín’), filho de Obiang Nguema, lhe suceda na chefia do Estado.

“Na Guiné Equatorial, há pessoas próximas do Presidente da República que financiaram mercenários do Chade e da República Centro-Africana para levarem a cabo um golpe de Estado contra o Presidente para impedir a sucessão em favor do filho, Teodorín”, afirmou Ponciano Nvó.

Segundo o advogado, conhecido localmente por defender em tribunal processos contra presos políticos, “a invasão de mercenários” foi travada pela polícia dos vizinhos Camarões, cuja Justiça está a investigar esses elementos.

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A 28 de dezembro último, Obiang Nguema indicou que as autoridades da Guiné Equatorial abortaram uma tentativa de golpe de Estado, supostamente liderado por um general do Chade e orquestrado pelo líder do único partido da oposição com assento parlamentar, CI, que elegeu um dos 100 deputados — o Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE, no poder desde a independência, elegeu os restantes 99).

Segundo Obiang Nguema, os factos ocorreram a 24 de dezembro último, tendo sido operacionalizado por “um grupo de mercenários estrangeiros”, na maioria chadianos, mas também sudaneses e centro-africanos, que tentou na noite da véspera de Natal atacar o Palácio Presidencial de Koete Mongomo, onde se encontrava Obiang Nguema.

O palácio situa-se na parte continental do país, a cerca de 50 quilómetros de Ebibeyin, área em que, a 27 de dezembro, foram detidos “vários mercenários” já no lado camaronês da fronteira.

As fronteiras terrestres estão encerradas, havendo uma grande concentração de militares junto às linhas de delimitação do país com o Gabão e Camarões.

Hoje, questionado pela Lusa sobre a situação das várias dezenas de dirigentes políticos da oposição retidos há 12 dias nas sedes dos respetivos partidos, Ponciano Nvó indicou que a situação se mantém e que os detidos pertencem ao partido Cidadãos para a Inovação (CI), legalizado em 2015 e liderado por Nsé Obiang Obono, que continua incontactável, tal como não tem sido possível à Lusa contactar fonte governamental.

“Os detidos na Guiné Equatorial são membros do partido político CI, a quem o Governo tenta atribuir a responsabilidade da tentativa de golpe de Estado. A sede do CI continua cercada por militares”, disse o jurista equato-guineense, garantindo que o partido de Obono “nada tem a ver” com a tentativa de golpe de Estado.

“A CI nada tem a ver com o golpe de Estado. O seu problema está ligado à queixa apresentada contra os resultados das eleições legislativas e municipais (de 12 de novembro de 2017), porque foram fraudulentas. A CI não tem outro problema”, afirmou Ponciano Nvó.

A Guiné Equatorial, país africano colonizado pela Espanha e que acedeu à independência em outubro de 1968, aderiu à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2014.