Em agosto, quando Adrien ainda estava na equipa, Jorge Jesus arriscou a dupla Bruno Fernandes e Bas Dost na frente de início. Resultado? 5-0 para o Sporting, com uma exibição de gala e uma exibição monstruosa. Todavia, e no final do encontro, o técnico arrefeceu os ânimos em relação à utilização de ambos em simultâneo naquela posição em específico: “Não serve para todos os jogos. O Bruno tem características que se adaptavam ao jogo de hoje”.

O tempo passou, Adrien acabou mesmo por ser vendido, Battaglia ganhou lugar na equipa, Podence apareceu umas semanas depois como parceiro do holandês. No último encontro de 2017, os leões golearam o U. Madeira por 6-0 para a Taça da Liga, confirmaram a “viragem” sem derrotas no plano interno e Jesus fez questão de elogiar as entradas em campo de Bruno Fernandes (para a posição ‘8’) e Bas Dost: “Com a entrada deles, o Sporting é outro”. Esta noite, provou-se que a equipa com eles não é apenas outra, é única. E assim se justifica o sofrido triunfo por 2-1 no Bonfim frente ao Cova da Piedade, após a entrada da dupla de internacionais ao intervalo.

Aliás, num jogo onde Rui Patrício sofreu um golo, viu duas bolas a baterem no poste mas não fez qualquer defesa, o melhor elogio que se pode fazer ao conjunto da Segunda Liga foi mesmo as incidências nos últimos dez minutos do jogo (incluindo aqui os descontos): Palhinha a entrar para o lugar de Doumbia para reforçar de novo o corredor central, ligeiro recuo das linhas e congelamento da bola na frente ou na marcação de bolas paradas. Foi uma daquelas “vitórias morais” que podem motivar o Cova da Piedade até ao final da temporada, mas foi sobretudo um aviso à forma como os leões se podem tornar dependentes de dois jogadores sem necessidade.

Ficha de jogo

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Cova da Piedade-Sporting, 1-2

Quartos-de-final da Taça de Portugal

Estádio do Bonfim, em Setúbal

Árbitro: Rui Costa (AF Porto)

Cova da Piedade: Joyce; Lima Pereira, Daniel Almeida, Adilson, Evaldo; Paulo Tavares (Rui Sampaio, 79′), Soares, Robson; Wang Chu (Ballack, 55′), Hugo Firmino (Dieguinho, 82′) e Cléo

Suplentes não utilizados: Pedro Alves, Onyilo, Roberto e Liu

Treinador: Bruno Ribeiro

Sporting: Rui Patrício, Ristovski, André Pinto, Coates, Fábio Coentrão; Battaglia, Bryan Ruiz (Bruno Fernandes, 46′); Acuña, Bruno César (Bas Dost, 46′), Podence e Doumbia (Palhinha, 86′)

Suplentes não utilizados: Salin, Tobias Figueiredo, Mattheus Oliveira e Iuri Medeiros

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Bruno Fernandes (54′), Cleo (58′, g.p.) e Bas Dost (78′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a André Pinto (57′), Adilson (84′) e Soares (90+2′)

A primeira parte do Sporting teve alguns momentos demasiado maus. E, ainda assim, esta é uma análise simpática para a equipa de Jorge Jesus: falta de velocidade e intensidade, setores desligados, incapacidade de partir no 1×1, escassez de profundidade, desposicionamentos claros nos momentos de transição. O Cova da Piedade, um conjunto organizado, com linhas juntas e pragmatismo para chegar em três/quatro toques ao último terço do leões, não fez aquele jogo que fica guardado para toda uma vida, mas, olhando apenas para as oportunidades claras de golo criadas, até podia ter chegado ao intervalo na frente, não fosse a demasiada pontaria…

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Doumbia, um dos menos maus entre os verde e brancos nos 45 minutos iniciais no apoio frontal e na tentativa de esticar o jogo em profundidade, teve o primeiro remate do encontro um pouco por cima (9′), mas o conjunto de Almada mostrou sempre maior pragmatismo na forma como abordava as ações ofensivas e, após um erro de marcação que deixou Evaldo subir sozinho pelo corredor esquerdo, Cleo assistiu Robson e o remate, à entrada da área, acabou por bater ainda no poste de Rui Patrício antes de sair pela linha de fundo (11′).

Mais uma voltinha (lenta, como a partida), mais uma “corridinha”: depois das tentativas de meia distância de Podence, Bruno César e Battaglia sem sucesso (porque mesmo tendo quatro unidades ofensivas com pouco mais de 1,70 os leões ainda insistiram no jogo pelos corredores laterais para cruzamento), o Cova da Piedade voltou a ir outra vez com perigo à frente, Robson falhou o remate mas Hugo Firmino, a aproveitar para rematar de pé direito em arco descaído sobre a esquerda, acertou desta vez na trave da baliza verde e branca (39′).

A cara de Jorge Jesus após o final da primeira parte dizia tudo e o descanso no balneário não deve ter sido a coisa mais fácil do mundo para os jogadores verde e brancos. Mas o técnico não se ficou por aí e decidiu lançar a artilharia pesada logo no reinício: com as saídas de Bryan Ruíz e Bruno César e as entradas de Bruno Fernandes e Bas Dost, e mesmo sem haver uma exibição sequer parecida com a do Marítimo no domingo, por exemplo, o Sporting melhorou de forma quase automática, foi mais pressionante e teve ainda alguma felicidade na forma como obteve o golo, com o remate de Bruno Fernandes a desviar em Evaldo e a enganar Joyce (54′).

Pensamento imediato? Agora estava mais de meio caminho andado para a vitória, porque a vantagem iria ser aquela viragem natural no encontro para Golias ser superior a David. Pensamento correto? David não concordou muito com essa história e não virou a cara à luta, adiando essa predominância do Golias. E foi num lance confuso, de insistência e onde a defesa leonina foi muito passiva na hora de afastar a bola da área que surgiria a grande penalidade por mão de André Pinto que Cléo, quatro minutos depois do 1-0, iria transformar para o empate.

Voltava tudo à estaca zero, que ainda assim, com o passar dos minutos, era uma estaca zero bem diferente daquela que tinha norteado o primeiro tempo: por um lado, as entradas de Bruno Fernandes e Bas Dost trouxeram mais critério, mais qualidade de passe, mais presença na área e mais instinto ao Sporting; por outro, as principais unidades do Cova da Piedade, sobretudo os médios e Hugo Firmino, deram o estouro em termos físicos. Por isso, depois de duas grandes defesas de Joyce a oportunidades de Doumbia (64′) e Dost (72′), lá apareceu o holandês a resolver num canto batido por Acuña na esquerda e desviado por Battaglia ao primeiro poste (78′).

O Sporting confirmou a superioridade e garantiu a presença nas meias-finais da Taça de Portugal pela 45.ª vez, ficando agora a esperar o vencedor do encontro entre Moreirense e FC Porto. Mas à exceção disso e do gosto que é ver Bruno Fernandes e Bas Dost, cada um à sua maneira, em campo, os leões levam pouco mais para recordar.