A guerra de vídeos de declarações passadas dos dois candidatos à liderança do PSD continua nas redes sociais, a dias das eleições diretas do partido. Desta vez, são os apoiantes de Santana Lopes a fazer circular um excerto da intervenção de Rui Rio, no congresso do PSD de Barcelos em novembro de 2004, muito elogioso para o antigo primeiro-ministro — que na altura ainda estava em funções.
Nesse discurso, o então presidente da Câmara do Porto e vice-presidente de Santana no PSD estabelecia o paralelismo entre os governos socialistas de António Guterres e dois executivos sociais-democratas, o de Durão Barroso e o de Santana Lopes, que lhe sucedera meses antes deste congresso depois de Barroso ter ido para a Comissão Europeia. “Não é comparável a competência e o sentido de responsabilidade dos governos de Durão Barroso ou de Pedro Santana Lopes quando confrontados com os de António Guterres”.
Rio deu mesmo exemplos da governação de Santana, para vincar as diferenças face à “lógica despesista e irresponsável do PS”, como a reforma do arrendamento ou o fim das SCUT. Classificou-as, aliás, de “medidas estruturais” que Santana Lopes “em tão pouco tempo” tinha tomado.
Santana tomara posse como primeiro-ministro em julho desse ano, quatro meses antes deste congresso que se realizou em Barcelos entre os dias 12 e 14 de novembro e que elegeu o então primeiro-ministro como presidente do PSD. A saída de Durão Barroso para Bruxelas precipitou uma mudança política em Portugal e o PSD estava a “arrumar a casa”, mas já no meio de algumas polémicas do Governo de Santana que havia de cair 15 dias depois desta reunião magna dos sociais-democratas.
Não é o primeiro vídeo que surge, no contexto das diretas do PSD, com uma das candidaturas a tentar apanhar a outra em falso. Na terça-feira, os apoiantes de Rui Rio fizeram circular um vídeo de uma parte de um comentário de Santana na CMTV, em 2014, onde admitia não ter “dúvidas nenhumas” que se concorresse a primeiro-ministro, depois do que aconteceu em 2004, não tinha hipóteses de ganhar: “Nem que o vento mudasse 10 vezes”. Nessa noite, à SIC-Notícias, o ex-primeiro-ministro justificou-se: “As alterações climáticas que tem havido fazem com que isso dos ventos esteja diferente, agora nem é preciso o vento mudar uma vez: tenho a certeza que estou em condições de disputar as próximas eleições e de as ganhar a António Costa”.
Vídeo antigo de Santana a dizer que não tem hipóteses de ser primeiro-ministro entra na campanha
No debate entre os dois candidatos, na semana passada, Santana Lopes também fui ao baú procurar declarações elogiosas de Rio sobre ele. Numa entrevista à Visão, também em 2004 (agosto) Rio tinha dito que Santana tinha “mais consistência do que a imagem que têm dele” e que era uma pessoa com “seriedade, lealdade e frontalidade”. E acrescentava, nessa altura: “Só posso dizer bem de Santana. O meu estilo não tem o exclusivo da competência e do sucesso”.
Fact Check. O certo, as mentiras e as meias-verdades de Rio e Santana