Esta é uma história com um princípio e com o fim, mas vamos começar pelo meio: foi um episódio nesse trajeto que explica da melhor forma a ascensão de Alessandro Proto no passado, a vida de Alessandro Proto no presente e a figura que Alessandro Proto poderá representar no futuro. Recuemos então a 2013.

Acusado em tribunal por manipulação do mercado financeiro, o italiano esteve dois meses em prisão efetiva e cumpriu o resto da pena em prisão domiciliária (apesar de não ter chegado aos três anos e dez meses a que tinha sido condenado). Aí, fechado na sua casa em Milão, sentiu-se aborrecido, chateado, sem nada para fazer. Então, decidiu fazer mais um dos seus números: plantar a notícia que Martin Scorsese tinha sabido da sua história e preparava-se para fazer um filme inspirado nela intitulado “O Manipulador”.

“Foi fantástico. Estava preso e aborrecido, então pensei no que fazer. Escolhi o melhor diretor do mundo e os atores mais na moda. Depois, ia soltando nomes dos atores pouco a pouco, grandes celebridades, e ninguém perguntava nada. Foi alucinante”, disse ao El País.

E quando se pensa que as mentiras em torno da Sétima Arte ficam por aqui, eis que um link da notícia da publicação espanhola nos atira para outra história mal contada: em 2014, escreveu-se que tinha sido Alessandro Proto, “o fundador e presidente da agência imobiliária Proto Organization” que tinha vendido casas a algumas das maiores celebridades do mundo do desporto e das artes, que tinha inspirado as “50 Sombras de Grey”. E de onde veio essa notícia, difundida por meios de inúmeros países? De uma entrevista do próprio ao New York Daily News.

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Voltemos agora ao início: como nasce Alessandro Proto? Em 2009, George Clooney queria vender a sua mansão no lago Como, mas os seus advogados não confiavam no mercado italiano, dirigindo-se assim a imobiliárias na Suíça. Foi assim que chegaram à pequena agência do transalpino. Fugindo aos pedidos de discrição feitos pelos representantes do ator, no minuto seguinte estava a fazer um comunicado oficial para enviar aos jornais sobre a notícia. Foi o boom.

“Tive a intuição de difundir o sucesso e a partir daí começaram a chegar milhares de emails e chamadas de pessoas que queriam trabalhar comigo ou para fazerem negócios com a minha empresa”, contou ao El País.

O teste seguinte foi com a notícia do interesse de David Beckham, na altura emprestado pelos Los Angeles Galaxy ao AC Milan, na casa de Clooney. “Não houve verificação, não houve qualquer tipo de controlo, ninguém me perguntou nada”, explica. E o leque de “clientes” foi aumentando com o tempo: Madonna, Mel Gibson, Brad Pitt e Angelina Jolie, William e Kate Middleton… O fenómeno estava de tal forma enraizado que alguns potenciais vendedores de propriedades já pagavam valores de 30 mil euros para colocar o espaço à venda na agência de Proto.

“Não consigo explicar como foi possível chegar tão longe. Não acredito que seja assim tão inteligente, provavelmente o sistema de informação tem grandes falhas e aproveitei”, frisa.

Em 2013, quis arriscar trocar o mundo imobiliário pelo financeiro mas, utilizando o mesmo estratagema, deu um passo maior do que a perna e acabou mesmo preso. Cumpriu pena, na cadeia e em prisão domiciliária, mas voltou em grande e com o mundo desportivo em grande foco a ajudar a fazer fortuna. Como Cristiano Ronaldo.

Ainda se recorda da notícia da alegada compra do avançado do Real Madrid de um apartamento na Trump Tower? Tudo nasceu no New York Post, que colocou Alessandro Proto como sócio do atual presidente dos Estados Unidos, difundiu-se a uma escala global mas acabou por ser desmentida por representantes do jogador. Mais recentemente, a ligação entre o capitão da Seleção Nacional e a Proto Organization, através da Brafman Associati Law Firm (que também pertence ao transalpino), tinha a ver com a construção de um hotel pediátrico no Chile, prontamente desmentida e com a agência EFE a dizer mesmo que era “mais uma mentira” de Proto.

Houve mais casos ligados a outras das maiores figuras do desporto mundial: em relação a Lionel Messi, dizia respeito à suposta compra por mais de 30 milhões de euros do raríssimo Ferrari 335 S Spider Scaglietti de 1957 num leilão (e que Ronaldo também estaria interessado no mesmo); no que toca a José Mourinho, que tinha avançado com uma proposta de 50 milhões de euros para o Chelsea colocar o técnico no Mónaco, mas que o proprietário dos blues, Roman Abramovich, tinha pedido o dobro para “libertar” o português.

E porquê um texto agora sobre Alessandro Proto? Porque os principais episódios aqui reproduzidos fazem parte do livro que o italiano (que tem como ídolo Silvio Berlusconi) lançou com o título “Eu sou o impostor – o homem que conseguiu enganar todos”, que explica a sua ascensão e queda em menos de dez anos.