“É um jogo especial porque o Cova da Piedade é um clube que nunca esquecerei. Tal como a Taça de Portugal, que é uma competição que também me diz muito desportivamente e do meu passado como menino”, dizia Jorge Jesus no lançamento do encontro desta noite, recordando o tempo em que dava os primeiros passos como jogador de futebol nos seniores. Estávamos ainda em 1972/73. Mas esta é uma passagem que poucos recordam.

Conhecido como um médio que gostava de ter a bola no pé e organizar (até porque tinha um jeito gingão de tratá-la bem), o atual treinador do Sporting só começou a levar o futebol mais a sério quando chegou ao Estrela da Amadora após terminar o primeiro ciclo, numa altura em que fazia uns trocos a vender ferro velho. No último ano de juvenil, destacou-se na Reboleira e acabou por aceder ao convite dos leões, seguindo as pisadas do pai Virgolino (que chegou a jogar com os Cinco Violinos). Após o primeiro ano de júnior, e quando se preparava para entrar na carreira de sénior, teve essa oportunidade que seria determinante para o resto da carreira.

Futebol. Morreu Virgolino de Jesus, pai de Jorge Jesus, ex-jogador e campeão do Sporting na década de 40

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“Quando fui para o Cova da Piedade, trabalhava como soldador numa empresa durante o dia e depois ia treinar a seguir para a Margem Sul. Um dia, a minha mãe estava a dar-me uma sopa e caí com a cabeça dentro do prato porque adormeci e o meu pai disse-me que não podia ser, que tinha de escolher entre o trabalho e o futebol. Foi então que decidi ser jogador”, recordou numa entrevista ao “Alta Definição”, na SIC.

Recuperando o início do texto, a passagem pelo Cova da Piedade é pouco recordada porque, por norma, a primeira aventura extra Sporting atribuída a Jesus (na altura era conhecido pelo apelido) costuma ser o Peniche, o primeiro clube onde esteve como sénior por empréstimo dos leões, em 1973/74. Foi aí que conheceu Miguel Quaresma, atual adjunto na equipa técnica com quem partilharia balneário noutras equipas antes de se tornarem treinadores. Na época seguinte, nova cedência temporária antes do regresso a Alvalade, onde alinhou em 1975/76.

Numa equipa que tinha nomes históricos do clube como Damas, Manuel Fernandes, Inácio, Barão, Fraguito, Zezinho, Baltasar ou Manoel, o jovem médio de cabeleira farta acabou por fazer um total de 12 jogos e um golo no Campeonato, tendo sobretudo ganho destaque no Torneio de Honra, onde marcou três vezes em quatro partidas. Ainda assim, e também prejudicado por uma temporada que coletivamente correu mal, acabou por sair em definitivo para o Belenenses em 1976/77, onde tinha na equipa um avançado chamado… Artur Jorge.

Passaria depois por Riopele, Juventude de Évora, U. Leiria, V. Setúbal (com Silvino, Duda e Octávio Machado, entre outros), Farense, Estrela da Amadora (onde foi companheiro de Norton de Matos e Rosário, adjunto de Fernando Santos), Atlético, Benfica e Almancilense, clube que representava quando recebeu o primeiro convite para treinar uma equipa de futebol que surgiria do presidente do… Amora. 26 anos depois de ter aceite o desafio, e após passagens por várias formações da Primeira Liga, regressou a Alvalade, onde está pela terceira época consecutiva depois de Felgueiras, U. Madeira, Estrela da Amadora, V. Setúbal, V. Guimarães, Moreirense, U. Leiria, Belenenses, Sp. Braga e Benfica, onde ganharia três Campeonatos (2010, 2014 e 2015) entre dez troféus e duas finais europeias da Liga Europa perdidas frente a Chelsea e Sevilha.