A confirmar-se, a notícia tem potencial para ser o “virar de maré” que há vários anos se vaticina para os mercados financeiros mundiais. A China está a ponderar abrandar ou mesmo interromper as compras de dívida federal norte-americana, segundo a Bloomberg, numa altura em que as tensões políticas entre os EUA e a China sobem de tom por causa de temas como a Coreia do Norte e as taxas alfandegárias.

A China é um dos principais compradores de dívida norte-americana e tem um papel decisivo nesse mercado, cujas cotações, por sua vez, afetam os preços de praticamente todos os ativos financeiro no mundo. Há três décadas que o preço das obrigações do Tesouro federal dos EUA está a subir quase ininterruptamente, comprimindo cada vez mais os juros implícitos, nos últimos anos mais graças à intervenção dos bancos centrais — este é conhecido como um dos maiores bull markets da história dos mercados financeiros.

Com a Reserva Federal dos EUA a normalizar a política monetária e, nesta fase, já, a começar a reduzir as quantidades de dívida pública no seu balanço (não comprando tanta nova dívida quanto a que vai vencendo), vários analistas têm vaticinado o fim desse bull market nas obrigações. Se a China também vier a deixar de comprar dívida norte-americana, ou a comprar menos, esse será um fator capaz de contribuir para que os juros da dívida norte-americana subam mais rapidamente.

A informação de que a China está a pensar reduzir as compras de dívida norte-americana foram transmitidas à Bloomberg por fontes não identificadas, que sublinham que este é um processo que está a ser analisado à luz das perspetivas de que o Tesouro federal norte-americano possa ter de emitir mais dívida nos próximos anos, o que torna menos apelativo o investimento nesse ativo.

A China tem o equivalente a mais de três biliões de dólares em reservas de moeda estrangeira — é o maior valor acumulado por qualquer país do mundo. A estratégia para repartir essas reservas, entre as várias moedas mundiais, está constantemente a ser reavaliada, mas as questões políticas são determinantes. E o investimento pela China na dívida dos EUA há muito que é uma ameaça latente na relação entre as duas super-potências.

Depois de Trump ter terminado o ano de 2017 a criticar a China por ter sido “apanhada em flagrante” a deixar entrar petróleo na Coreia do Norte (violando as sanções), nos últimos dias surgiram várias notícias que apontam no sentido de a administração Trump estar a preparar um pacote de alterações das taxas alfandegárias, dando sequência a um tema que foi um dos principais cavalos de batalha do presidente dos EUA durante a campanha.

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