Finda a temporada festiva — depois dos excessos de comida e bebida e da euforia das prendas — instala-se um estado depressivo capaz de durar até ao início de fevereiro. A fase por que muitas pessoas passam chama-se “January Blues” e não é muito difícil de perceber o porquê: a primavera ainda está por chegar, o tempo frio faz-se sentir e, segundo o dicionário urbano, “janeiro é o mês dos maus filmes” — o último ponto é particularmente discutível.

Catherine Phillips, jornalista do britânico Metro, escreve que se depara há alguns anos com um estado de espírito triste, que a invade imediatamente a seguir ao Natal e à passagem de ano. “Não é uma depressão, mas uma melancolia que perdura ao longo do mês de janeiro”. Na verdade, o tema é particularmente conhecido e debatido nos meios internacionais — não é por acaso que uma pesquisa pela expressão “January Blues” no Google resulta em cerca de 10.400.000 resultados em apenas 37 segundos.

Rebecca McCann, do projeto Click For Therapy, explica ao Metro que a expetativa em torno da época natalícia, que começa cada vez mais cedo, pode ser a grande responsável. “No ano passado vimos decorações de Natal nas lojas antes das decorações de Halloween. Tivemos meses de preparação, conversas, compras e planeamento — quer gostemos ou não. O drama vai crescendo tal como as nossas expetativas e a dos outros”, tenta esclarecer McCann.

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A especialista continua: depois do entusiasmo da passagem de ano, período encarado como uma oportunidade para começar de novo, entramos em janeiro, mês em que a magia de Natal já desapareceu por completo (e que demorará meses a regressar). McCann fala ainda do salário, que em janeiro parece demorar mais tempo a chegar, sobretudo depois dos gastos da época festiva, mas também do stress que acumulamos em igual período.

Isto para não falar do mau tempo. Nem de propósito, a edição britânica da Cosmopolitan aborda a falta de vitamina D (associada ao funcionamento saudável do cérebro), já que durante o mês de janeiro há menos horas de sol. “A falta de vitamina D pode contribuir para nos fazer sentir mais em baixo em janeiro e nos meses de inverno”, diz àquela publicação Lola Ross, terapeuta nutricional e membro da equipa responsável pela plataforma Moody, que quer ajudar as mulheres a perceber melhor os seus humores e estados de espírito.

Há mais paixões na primavera. Mito ou verdade?

Curiosamente, o Observador fez um artigo em 2016 sobre o facto de a primavera (e o sol que a estação traz) poder ser mais propícia a romances. “Penso que o inverno é uma estação que nos deprime do ponto de vista emocional”, disse à data a psicóloga e sexóloga Vânia Beliz, ao comparar a estação fria com aquela mais quente.

Falta falar, porém, das resoluções de ano novo. A iminência da passagem de ano obriga muitos de nós a refletir sobre o quanto alcançámos nos últimos12 meses e quais as metas para o próximo ano. “É uma fase de transição em que se finaliza um ano e se inicia outro. Há uma tendência para se fazer um balanço do que se conquistou e do que não se alcançou, traçando objetivos como que coordenadas para os 12 meses seguintes”, explicou ao Observador Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, no final de 2015.

Porque fazemos resoluções de ano novo?

Mas, chegados a janeiro, o que é feito das resoluções? É este o embate com a realidade? O psiquiatra Fernando Almeida já antes nos deixou conselhos válidos, como escolher resoluções para as quais tenhamos real empenho, que sejam facilmente identificáveis e que tenham ganhos evidentes. “Imagine um indivíduo que tenha uma personalidade irritável e que quer, a partir de 1 de janeiro, deixar de ser assim. Não é muito fácil de conseguir porque este comportamento está subjacente a um conjunto amplo de condições que podem passar, por exemplo, pela autoestima.”

O certo é que há formas de dar a volta ao estado de humor pouco desejável — além deste ser, à partida, temporário. A pensar em combatê-lo durante o ano inteiro (e não apenas em janeiro), o Observador deu algumas sugestões em 2016: desde criar um negócio e fazer exercício a deixar de fumar e mudar a alimentação. Nenhuma das sugestões apresentadas sai fora do baralho do que dita o senso comum, mas nunca é demais repetir o que realmente pode funcionar. De qualquer forma, nada como criar uma lista do que nos poderá fazer bem, a aplicar nos meses seguintes — conselhos do The Telegraph, que dá como exemplo planear idas ao teatro ou fazer álbuns de fotografia “adoráveis”.

Tipicamente, acrescenta a Cosmopolitan, os “January Blues” trazem consigo manifestações de tristeza, falta de energia, desejo sexual reduzido, falta de motivação e até ansiedade. “Em casos mais extremos, podem existir sentimentos de falta de esperança”, refere Lola Ross.

Mas nem tudo está perdido, até porque, como diz a especialista consultada pelo britânico Metro, “isto é diferente da depressão”, ela que faz referência a uma espécie de “exaustão de curta duração”, pelo que o mês de janeiro deve ser encarado como um período de descanso, renovação e, sobretudo, reflexão.