Finda a temporada festiva — depois dos excessos de comida e bebida e da euforia das prendas — instala-se um estado depressivo capaz de durar até ao início de fevereiro. A fase por que muitas pessoas passam chama-se “January Blues” e não é muito difícil de perceber o porquê: a primavera ainda está por chegar, o tempo frio faz-se sentir e, segundo o dicionário urbano, “janeiro é o mês dos maus filmes” — o último ponto é particularmente discutível.
Catherine Phillips, jornalista do britânico Metro, escreve que se depara há alguns anos com um estado de espírito triste, que a invade imediatamente a seguir ao Natal e à passagem de ano. “Não é uma depressão, mas uma melancolia que perdura ao longo do mês de janeiro”. Na verdade, o tema é particularmente conhecido e debatido nos meios internacionais — não é por acaso que uma pesquisa pela expressão “January Blues” no Google resulta em cerca de 10.400.000 resultados em apenas 37 segundos.
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— Laura Clark (@butterflymum83) January 11, 2018
Rebecca McCann, do projeto Click For Therapy, explica ao Metro que a expetativa em torno da época natalícia, que começa cada vez mais cedo, pode ser a grande responsável. “No ano passado vimos decorações de Natal nas lojas antes das decorações de Halloween. Tivemos meses de preparação, conversas, compras e planeamento — quer gostemos ou não. O drama vai crescendo tal como as nossas expetativas e a dos outros”, tenta esclarecer McCann.
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— THE LONDON MOTHER ® (@thelondonmother) January 3, 2017
A especialista continua: depois do entusiasmo da passagem de ano, período encarado como uma oportunidade para começar de novo, entramos em janeiro, mês em que a magia de Natal já desapareceu por completo (e que demorará meses a regressar). McCann fala ainda do salário, que em janeiro parece demorar mais tempo a chegar, sobretudo depois dos gastos da época festiva, mas também do stress que acumulamos em igual período.
Isto para não falar do mau tempo. Nem de propósito, a edição britânica da Cosmopolitan aborda a falta de vitamina D (associada ao funcionamento saudável do cérebro), já que durante o mês de janeiro há menos horas de sol. “A falta de vitamina D pode contribuir para nos fazer sentir mais em baixo em janeiro e nos meses de inverno”, diz àquela publicação Lola Ross, terapeuta nutricional e membro da equipa responsável pela plataforma Moody, que quer ajudar as mulheres a perceber melhor os seus humores e estados de espírito.
Curiosamente, o Observador fez um artigo em 2016 sobre o facto de a primavera (e o sol que a estação traz) poder ser mais propícia a romances. “Penso que o inverno é uma estação que nos deprime do ponto de vista emocional”, disse à data a psicóloga e sexóloga Vânia Beliz, ao comparar a estação fria com aquela mais quente.
Falta falar, porém, das resoluções de ano novo. A iminência da passagem de ano obriga muitos de nós a refletir sobre o quanto alcançámos nos últimos12 meses e quais as metas para o próximo ano. “É uma fase de transição em que se finaliza um ano e se inicia outro. Há uma tendência para se fazer um balanço do que se conquistou e do que não se alcançou, traçando objetivos como que coordenadas para os 12 meses seguintes”, explicou ao Observador Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, no final de 2015.
Mas, chegados a janeiro, o que é feito das resoluções? É este o embate com a realidade? O psiquiatra Fernando Almeida já antes nos deixou conselhos válidos, como escolher resoluções para as quais tenhamos real empenho, que sejam facilmente identificáveis e que tenham ganhos evidentes. “Imagine um indivíduo que tenha uma personalidade irritável e que quer, a partir de 1 de janeiro, deixar de ser assim. Não é muito fácil de conseguir porque este comportamento está subjacente a um conjunto amplo de condições que podem passar, por exemplo, pela autoestima.”
O certo é que há formas de dar a volta ao estado de humor pouco desejável — além deste ser, à partida, temporário. A pensar em combatê-lo durante o ano inteiro (e não apenas em janeiro), o Observador deu algumas sugestões em 2016: desde criar um negócio e fazer exercício a deixar de fumar e mudar a alimentação. Nenhuma das sugestões apresentadas sai fora do baralho do que dita o senso comum, mas nunca é demais repetir o que realmente pode funcionar. De qualquer forma, nada como criar uma lista do que nos poderá fazer bem, a aplicar nos meses seguintes — conselhos do The Telegraph, que dá como exemplo planear idas ao teatro ou fazer álbuns de fotografia “adoráveis”.
Tipicamente, acrescenta a Cosmopolitan, os “January Blues” trazem consigo manifestações de tristeza, falta de energia, desejo sexual reduzido, falta de motivação e até ansiedade. “Em casos mais extremos, podem existir sentimentos de falta de esperança”, refere Lola Ross.
Mas nem tudo está perdido, até porque, como diz a especialista consultada pelo britânico Metro, “isto é diferente da depressão”, ela que faz referência a uma espécie de “exaustão de curta duração”, pelo que o mês de janeiro deve ser encarado como um período de descanso, renovação e, sobretudo, reflexão.