O Dakar 18 foi apresentado em direto para milhares de pessoas em todo o mundo pela voz da Bigmoon Entertainment (é um nome pouco conhecido fora do mercado especializado dos videojogos por não ser um gigante como a EA ou a Ubisoft). Foi a primeira vez que um jogo foi anunciado mundialmente no Lisboa Games Week.

Também é provável que quem não estiver “por dentro” do assunto desconheça que este é um estúdio português sediado em Vila Nova de Gaia, que conta com cerca de 40 pessoas a trabalhar a tempo inteiro, e que já trabalhou em secções de grandes produções como o WRC 3 e WRC 5, MotoGP 13 e Neighbours from Hell. Além disso, a versão em realidade virtual (VR) de Syndrome, o primeiro jogo de Realidade Virtual a ser lançado para PSVR é da sua autoria.

Com outros jogos em finalização (e a serem lançados nos próximos meses), os criadores da Bigmoon vão agora embarcar na viagem mais desafiante que um estúdio português alguma vez enveredou, quase ao nível de dificuldade da própria prova: desenvolver a adaptação a videojogo do Rali Dakar.

Sendo o maior estúdio nacional de videojogos e tendo um histórico longo de produções relacionadas com rally e desportos motorizados, não é estranho que tivessem recebido a responsabilidade de adaptar esta prova para videojogo. Contudo, o Dakar não é uma marca qualquer e a quantidade de seguidores apaixonados que a prova possui serão o público-alvo a agradar, e aqueles que maior atenção ao detalhe terão.

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Esta responsabilidade é a razão pela qual a Bigmoon conta com uma equipa e orçamento ao nível do desafio que enfrentam. Este empreendimento é digno das grandes produtoras e revela uma grande confiança internacional no crescimento do mercado nacional de criação de videojogos, para o qual muito tem contribuído o trabalho da Bigmoon.

Para compreendermos a importância basta fazermos a comparação hiperbólica de ter o Joaquim Leitão para realizar o novo filme dos Avengers ou a Valentim de Carvalho a produzir o novo álbum da Beyoncé. É sinal que algo de muito bom se está a passar na produção nacional de videojogos. Os portugueses estão a captar atenção lá fora, a marcar o seu lugar no mundo. E mais um exemplo disso é a expectativa generalizada em torno de outro jogo português que vai ser lançado este mês, o Strikers Edge, pela mão do estúdio lisboeta Fun Punch Games.

Desde os tempos em que o Dakar partia de Paris — e até com as mudanças de ponto de partida para Lisboa, Granada, Barcelona com destino na capital do Senegal — sempre foi uma das provas de resistência e exploração motorizadas mais perigosas de sempre. Mesmo depois de ter a controversa alteração do local para a América do Sul, devido às guerras constantes no continente africano, não é livre de acidentes ou percalços que podem quebrar os seus participantes psicologicamente ou muitas vezes literal e fisicamente.

A natureza da prova é diferente da de outros rallies: enquanto o Rally de Portugal ou o de Montecarlo se passam na generalidade em estradas ou caminhos feitos, o Dakar é por defeito uma prova de caminho aberto, em que o trajeto mais curto entre os pontos A e B é a linha reta, mas muitas vezes essa mesma linha é intercetada por montanhas, desfiladeiros ou lagos. Nada é tão fácil como parece ou qualquer pessoa poderia entrar e ganhar a prova.

A proposta da Bigmoon é fazer um jogo num mundo aberto totalmente explorável, criando milhares de quilómetros quadrados de vários tipos de terrenos e nas mais variadas condições atmosféricas, para que o jogador nunca tenha que repetir o mesmo caminho. Tal como na prova real, o jogador tem de ultrapassar as várias dificuldades de navegação e condução em etapas que podem ir até 2 horas ou mais de duração. É um projeto de grande envergadura e que a julgar pelo trailer será um marco da produção nacional.

Dakar é um nome que qualquer fã de rallies tem sempre no coração, é a prova rainha do todo-o-terreno, a mais mítica de todas e em breve, graças à Bigmoon, estará ao alcance de qualquer pessoa que, tal como eu, sonhou um dia participar mas nunca pode por falta de talento ou razões financeiras. Pelo mundo fora, deve existir muita gente que sonha em poder participar numa prova única como esta, mas para muitas delas o sonho nunca passou disso: de um desejo não materializado de entrar num jipe, mota ou camião e desbravar aqueles terrenos quase infinitos. Infelizmente nem todos podemos ser um Carlos Sousa, Elisabete Jacinto, Tiago Monteiro, Paulo Gonçalves ou Villas-Boas.

A boa notícia é que em breve não precisaremos de ser.

João Machado, Rubber Chicken