Tudo começou, ou recomeçou, numa simples frase/questão: “Só porque não me comporto como um palhaço junto à linha isso quer dizer que perdi a paixão pelo jogo? Não, nada disso”. Mas José Mourinho, na antevisão ao jogo do Manchester United com o Derby County para a Taça de Inglaterra, explicou o porquê dessas palavras. “Não é preciso agir como um louco junto à linha, prefiro agir desta forma, mais madura. É melhor para mim e para a minha equipa. A dedicação de uma pessoa ao seu trabalho não se pode definir em função do que faz em frente às câmaras”, disse. E Antonio Conte, treinador do Chelsea, acusou o toque. Estava reaberta a guerra.

A antipatia entre os técnicos teve origem em outubro de 2016, altura em que os blues golearam em Stamford Bridge os red devils por 4-0 e o português não gostou da forma como o italiano celebrou o último golo. “Não faças isso com 4-0. Com 1-0, pode ser; com 4-0, é uma humilhação”, atirou Mourinho para Conte ao sair do campo. Esse incidente não mais foi esquecido e, no início desta época, o transalpino, que se sagrara campeão inglês, lançou uma farpa ao rival: “Sabemos as dificuldades no ano a seguir ao título e teremos de trabalhar muito para evitar uma ‘temporada Mourinho’. Há dois anos a equipa acabou em décimo, queremos evitar isso”, salientou.

Mou não respondeu nessa altura mas, em outubro, houve mais uma troca de palavras. “Nunca falo dos jogadores que tenho lesionados mas há outros que não fazem mais nada a não ser chorar quando têm um jogador de fora por lesão”, atirou. “Mourinho continua mais preocupado com o que acontece no Chelsea e já era assim no ano passado. Devia concentrar-se mais na sua equipa em vez de fazer isso”, respondeu Conte.

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Agora, e depois dessas palavras de Mourinho sobre o comportamento em campo junto à linha, o tom das acusações aumentou de forma exponencial como nunca se tinha visto. E a resposta de Conte abriu as hostilidades.

“Acusação a mim? Acho que devia estar a olhar para ele, se calhar falava dele no passado, não? Às vezes se calhar as pessoas esquecem-se do que disseram e dos comportamentos que tiveram no passado. Às vezes sofrem daquilo… como é mesmo o nome… demência senil, esquecem-se do que fizeram antes”, comentou o italiano, numa polémica afirmação que seria mais tarde corrigida pelo clube, dizendo que Conte quereria dizer “amnésia” e não “demência senil”. E Mourinho não se poupou em nada na contra resposta à acusação do transalpino.

“Só quero dizer uma coisa para acabar com esta história: é verdade que cometi erros no passado, junto à linha, vou cometer menos e acho que ainda cometo alguns. O que nunca me aconteceu nem vai acontecer é ser suspenso por viciação de resultados”, contra-atacou o técnico do Manchester United, recordando o caso do alegado jogo combinado que envolveu Antonio Conte quando estava no comando do Siena, em 2011, e que levou à suspensão do italiano antes de ser depois ilibado de todas as acusações. E a resposta a isso foi ainda mais dura.

“Considero-o um homem pequeno… Eu tenho uma história, ele tem uma história e podemos mudar essa história, mas temos de conhecer essa história muito bem antes de magoar outra pessoa. Mourinho é isto, o nível dele é muito baixo. Não tenho mais nada para esclarecer. Aliás, a oportunidade de resolver as coisas vai ser no jogo com o Manchester United, quando formos a Old Trafford. Eu e ele, cara a cara. Eu estou pronto, não sei se ele está”, disse Conte no postura claramente ameaçadora.

Nas últimas 24 horas, mesmo com as feridas bem abertas, terminou (pelo menos para já) a guerra de palavras. “Quando uma pessoa insulta outra, pode esperar uma resposta ou desprezo, silêncio. Na primeira vez que me insultou, respondi e toquei no ponto onde realmente se sente ferido; agora insultou-me pela segunda vez, mas vou mudar e mostrar o meu desprezo. E o meu desprezo significa que acabou essa história”, referiu Mourinho. “Já disse que para mim acabou nem estou preocupado se o que disse foi para mim ou não. Estou tranquilo, durmo bem com isso”, defendeu esta tarde Conte. Mas, no meio desta guerra, quem ficou a ganhar e a perder?

A verdade é que, em 2018, desde que começaram as trocas de palavras entre o português e o italiano que o Chelsea não ganha (quatro empates consecutivos). E pior: nos últimos três jogos, a contar para outras tantas competições (Norwich na Taça de Inglaterra, Arsenal na Taça da Liga e Leicester no Campeonato), registaram-se outros tantos nulos, naquele que é um registo negativo para os blues em termos ofensivos (antes tinha empatado a duas bolas no Emirates Stadium com o Arsenal). Em contrapartida, nos únicos encontros realizados este ano, o Manchester United venceu o Everton para o Campeonato e o Derby County para a Taça de Inglaterra (ambos por 2-0). Mind games a funcionar ou pura coincidência?