Se há coisa em que Jorge Jesus não se mostra grande apologista em fazer mind games é na gestão das expetativas, sobretudo quando falamos de reforços. E um bom exemplo disso foi Wendel: para todos aqueles que estariam à espera de ver em breve o médio tentar mostrar os argumentos com que brilhou no Brasil, o técnico arrumou com a ideia a curto prazo. “Os jogadores brasileiros são muito evoluídos tecnicamente, mas taticamente têm muito que aprender. Ainda vai ter muitas dificuldades para apanhar o comboio, é para ir trabalhando”, referiu. E com Misic, sem focar tanto essa parte da adaptação, foi pelo mesmo caminho. Com Rúben Ribeiro, foi diferente.
“Não vou inventar nada com ele, vai jogar onde jogava no Rio Ave, como ala e segundo avançado. O Sporting deu-lhe uma oportunidade aos 30 anos e ele deve estar feliz com isso, porque o Sporting também está feliz. O Rúben é para hoje, amanhã e ontem. Está preparado para disputar qualquer jogo em Portugal e está convocado”, argumentou Jesus na antevisão da receção ao Desp. Aves, que abria a segunda volta para os leões. Mas agora vamos rebobinar o filme e recuperar uma frase dita pelo treinador na semana passada: “Jogador que chega e um dia ou dois depois joga… É quase impossível, independentemente da qualidade individual”. Há dúvidas na “fezada”?
Olhando para os últimos dez anos de percurso de Jesus, percebemos que existe este tipo de jogadores que chegam, veem e vencem aos olhos do técnico. E aqui não há cá essas coisas da formação, das idades ou das nacionalidades: quando gosta e lhe enche as medidas, vai para dentro de campo sem pensar duas vezes. Assim, e depois de uma despedida amarga do Rio Ave na última quarta-feira (derrota com o Desp. Aves nos quartos de final da Taça de Portugal no desempate por grandes penalidades, após o 4-4 no final do prolongamento), Rúben Ribeiro deslocou-se de avião para Lisboa na quinta-feira, treinou sexta e sábado e já foi titular este domingo.
Ficha de jogo
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Sporting-Desp. Aves, 3-0
18.ª jornada da Primeira Liga
Estádio José Alvalade, em Lisboa
Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)
Sporting: Rui Patrício; Piccini, Coates, Mathieu, Fábio Coentrão; William Carvalho, Bruno Fernandes; Gelson Martins (Podence, 84′), Acuña (Bryan Ruíz, 74′), Rúben Ribeiro (Battaglia, 66′) e Bas Dost
Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Bruno César, Bryan Ruíz e Doumbia
Treinador: Jorge Jesus
Desp. Aves: Quim; Rodrigo Soares, Ponck, Diego Galo, Falcão, Nildo; Gonçalo Santos, Vítor Gomes (Paulo Machado, 70′); Salvador Agra (Falcone, 79′), Amilton e Alexandre Guedes (Arango, 46′)
Suplentes não utilizados: Adriano, Rodrigo Defendi, Nélson Lenho e Sami
Treinador: Lito Vidigal
Golos: Bas Dost (31′, 52′, g.p. e 90′)
Ação disciplinar: nada a registar
Mas agora voltemos a questão ao contrário: porquê esta aposta? Nem sempre isso ficou visível esta noite, mas Rúben Ribeiro, o artista de cabelo descolorado que foi um dos principais destaques da primeira volta da Liga, tem características que mais nenhum jogador tem para acompanhar Bas Dost (assumindo, como já se percebeu, que a dupla com Doumbia só acontecerá em situações de maior aperto): por um lado, é mais “batido” e tem maior espontaneidade de remate do que Podence; por outro, goza de outra facilidade para cair nas alas e jogar em triangulações como falso interior com lateral e ala do que Bruno Fernandes; por fim, ganha na capacidade entre linhas de encontrar espaços de forma rápida e decidir frente a grandes muralhas defensivas. Tudo na teoria, claro, porque é complicado fazer sobressair qualidades individuais se o coletivo não funcionar. Como foi o caso na estreia.
No entanto, o jogo foi tudo menos fácil para o Sporting, sobretudo na primeira parte ou até fazer o 2-0: arriscando de novo um esquema com três centrais sem posse que se desdobrava em três defesas com bola (como tinha feito, e com sucesso, com o FC Porto), face à subida dos laterais, o conjunto de Lito Vidigal (na bancada a cumprir castigo) teve as linhas baixas a defender, mas com o mérito de saberem o porquê desse posicionamento. E mais: não só foram conseguindo anular os desequilibradores leoninos como exploraram da melhor forma algumas falhas de cobertura nas transições. Amilton obrigou assim Patrício à primeira grande defesa (12′)
A formação verde e branca usava e abusava dos ataques pelo lado direito, mas foi o Desp. Aves que, a partir desse flanco, causou mais um calafrio em Alvalade: Salvador Agra saiu disparado em velocidade, fintou Mathieu mas, quando se prepara para tentar o remate, já tinha Rui Patrício no chão a ficar com a bola (18′). O Sporting precisava de um desbloqueador, o mesmo acabou por aparecer de onde menos se esperava: depois de um remate de pé esquerdo à figura de Quim (20′), Piccini teve um grande cruzamento para Dost, ao segundo poste, cabecear pouco ao lado da baliza dos visitantes (24′). Mas o golo não demoraria muito mais a chegar.
⏰ 25’ | Sporting 0-0 Aves
Piccina já com 1 remate enquadrado, 1 passe para finalização e líder em dribles (2) e desarmes (2)#LigaNOS #SCPCDA pic.twitter.com/dpMPsRRWWW
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Se Piccini foi um desbloqueador, Rúben Ribeiro funcionou como “abre-latas”: com o jogo ofensivo fechado, o último reforço dos leões conseguiu desencantar espaço na área após um bom trabalho individual para praticamente colocar a bola na cabeça de Bas Dost, que não perdoou e inaugurou mesmo o marcador (31′). Nos festejos, houve esse pormenor curioso de toda a equipa, a começar pelo holandês, ter corrido para o novo número 7.
Rúben Ribeiro chega a Alvalade com coragem no discurso, na atitude e… no número da camisola
Foi a quarta assistência da temporada de Rúben Ribeiro, o segundo reforço de inverno mais velho estreado pelo Sporting este século (apenas superado pelo antigo médio Pedro Mendes). E foi o 22.º golo de Bas Dost esta época, mantendo a assinalável média superior a um golo por jogo em termos de Campeonato. Mais: em termos de eficácia, metade dos remates à baliza do holandês acabam em festa. Assim, tudo se torna mais fácil…
O golo deu outra genica aos comandados de Jorge Jesus, que estiveram perto de aumentar o marcador num remate de fora da área de Bruno Fernandes que passou muito perto do poste da baliza de Quim (35′). Contudo, seria o Desp. Aves a desperdiçar a melhor oportunidade do encontro ainda antes do intervalo, com Amilton a surgir ao primeiro poste após cruzamento de Salvador Agra e a desviar de cabeça à trave de Rui Patrício (42′).
⏰ 45’ | Sporting 1 – 0 Aves
???? chega ao intervalo na frente perante Desportivo da Aves atrevido#LigaNOS #SCPCDA #DiaDeSporting pic.twitter.com/6iLTnsuHDj
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A segunda parte começou praticamente com o momento que decidiu o jogo: falta de Vítor Gomes sobre Gelson Martins na área (o contacto entre os jogadores existe mas João Pinheiro confirmou a decisão com o vídeo-árbitro), penálti para Bas Dost e 2-0 com o bis do holandês, que converteu o quarto castigo máximo da temporada (52′). E decidiu porque, daí em diante, nem o Desp. Aves voltou a conseguir chegar com perigo à baliza de Rui Patrício, nem o Sporting forçou o andamento para aumentar a vantagem. E assim foram passando os minutos.
Aos 66′, Rúben Ribeiro foi substituído e mereceu uma ovação de pé pela estreia de leão ao peito. E o ambiente era de tal forma tranquilo com o 2-0 e o rumo dos acontecimentos que, ainda antes do encontro chegar ao fim, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, fez questão de elogiar a primeira partida do ex-jogador do Rio Ave através da sua página oficial no Facebook (com umas “farpas” pelo meio, como também é seu timbre).
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Dava para tudo. Ou quase tudo: quando alguns já tinham saído de Alvalade (já passava das dez da noite e amanhã é dia de trabalho), Piccini teve finalmente a coroação de mais um excelente jogo com uma assistência primorosa para Bas Dost, que surgiu ao primeiro poste a encostar para o 3-0 que completou mais um hat-trick do holandês. E foi com esse cunho que os leões carimbaram um triunfo justo mas exagerado que os coloca isolados na liderança da Liga à condição, à espera do que irá fazer o FC Porto esta segunda-feira na deslocação ao Estoril.
“Rúben Ribeiro? A mim não me surpreendeu nada, conhecemos muito bem o Rúben do nosso Campeonato. É um jogador que nos vem dar outra qualidade, que joga muito bem de costas e precisamos dessa capacidade entre linhas de alguém que se vire rápido para o último terço. O que lhe disse antes? Para jogar como fazia no Rio Ave e pensar nele e não na equipa porque não teve tempo para aprender connosco e não o queria baralhar”, destacou Jorge Jesus na flash interview. O Sporting ganhou mesmo um look alternativo com a cara do costume. E será para continuar, sempre atendendo às características de cada jogo… porque o plantel verde e branco dá para isso.
⚽ Sporting 3 – 0 Aves
???? entregou a Bas Dost a tarefa de "arrumar" o Desportivo das Aves
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