Em 2013, a Unidad Central Operativa da Guardia Civil espanhola investigou os jogos de solidariedade organizados por Lionel Messi, chamados “Messi e amigos”. As autoridades queriam perceber se o jogador argentino tinha recebido quantias não declaradas provenientes da receita desses jogos, mas o Tribunal de Instrução de Barcelona arquivou o processo no final de 2015.

De acordo com o El Mundo, a Guardia Civil sublinhou a importância de pedir informação e investigar Lionel Messi em oito países, para rastrear o fluxo de dinheiro dos jogos amigáveis, que ocorreram entre 2012 e 2013, alegando a possibilidade de um “delito fiscal, sem prejuízo do delito de branqueamento de capitais de origem ilícita”. O magistrado do Tribunal de Barcelona negou o pedido.

A investigação da Guardia Civil não tinha provas diretas dos pagamentos ilegais a Messi, mas reuniu um triângulo de evidências que avolumou as suspeitas: primeiro, a Fundação Leo Messi, suposta organizadora dos jogos, parecia receber uma parte insignificante do lucro da bilheteira (300.000 dólares, 3% do total); segundo, 1,5 milhões de dólares da receita dos amigáveis acabavam em contas offshore em Curaçao e Hong Kong; e terceiro, vários dos futebolistas convidados – como Neymar, Aimar ou Dani Alves – tinham recebido recompensas económicas para jogar.

O jornal espanhol introduz o nome de Guillermo Marín, um empresário argentino próximo na família Messi e que, ao que parece, é um homem chave em todo o processo. De acordo com os documentos Football Leaks, os jogos amigáveis “Messi e amigos” foram secretamente organizados pela Players Image SA, uma sociedade offshore registada no Uruguai que já esteve envolvida em alguns dos negócios que levaram à condenação por fraude fiscal do jogador, em 2016. Ao que parece, através dessa empresa, Guillermo Marín conseguiu o direito de organizar as partidas e assinou um acordo que lhe era muito favorável: recebia 12,3 milhões de dólares por cada jogo e só tinha de entregar 300.000 à fundação com o nome de Messi.

A partir desse acordo, Marín subcontratou várias empresas locais para a montagem e organização dos jogos de solidariedade; empresas essas que, também elas, desviaram vários milhões. Um dos donos da sociedade que foi contratada para o jogo na Colômbia confessou à Guardia Civil que transferiu 1,37 milhões de dólares para uma conta em Curaçao, a pedido de Guillermo Marín.

A última das pistas foi confessada pelo próprio Marín à Guardia Civil. O empresário argentino admitiu que pagava aos jogadores para que participassem nos jogos solidários, ainda que nunca tenha revelado nomes. Ainda assim, o El Mundo descobriu que um dos maiores “namoros” de Marín foi Robert Lewandowski: o empresário fez de tudo para ver o jogador polaco com a camisola da Fundação Leo Messi. ” O nosso pacote básico consiste em dois bilhetes em classe executiva para o jogador, alojamento num hotel de cinco estrelas e uma soma de dinheiro”, escreveu a equipa de Guillermo Marín ao empresário do avançado do Bayern Munique. A proposta inicial ficou pelos 30 mil dólares, que logo passaram a 90 mil, depois a 110 mil e por fim a 250 mil. Lewandowski nunca aceitou.

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